Na primeira vez em que Arnaldo Antunes assistiu a um desfile de escola de samba de perto, ele ficou impactado com a bateria. “A TV não consegue reproduzir o que é exatamente. Quando ouvi aquele som, pensei: isso é rock’n’roll! É muito potente. Mas, se você analisar atentamente, tudo tem a mesma origem, a matriz africana”, ressalta.
Já há algum tempo o músico queria unir os dois gêneros que foram e são fundamentais em sua formação como artista: o samba e o rock. Chegou a pensar num nome para o projeto: Bipolar, mas a ideia não foi pra frente.
“A intenção era fazer um lado A de rock e um lado B de samba, como se fosse um vinil. A ideia ficou meio esquecida durante um tempo e, recentemente, quando fui analisar algumas coisas que eu estava compondo, percebi que as músicas sempre iam para os dois lados. Convivo com o samba e com o rock há muitos anos e são duas de minhas paixões”, diz.
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Foi assim que nasceu RSTUVXZ. Mais do que uma sopa de letrinhas – o R e o S são alusivos ao rock e ao samba – o projeto não é uma fusão dos gêneros, como enfatiza Arnaldo, mas uma alternância deles, com faixas dedicadas a um e a outro, o que evidencia não só os contrates, mas as similaridades de ambos. “É o meu rock e o meu samba. Tem uma identidade em cada um”, assegura.
O cantor e compositor está na estrada com esse projeto há mais de um ano, durante o qual fez uma pausa para sua turnê com Os Tribalistas. O show volta a Belo Horizonte neste sábado (28), como parte da iniciativa O Som do Mercado, no Distrital do Cruzeiro.
Arnaldo Antunes se apresenta ao lado de Curumin (produtor de RSTUVXZ, na bateria, violão, programação e vocal) e Betão Aguiar (baixo, guitarra, violão e vocal). Aliás, ele é só elogios para a dupla. “Na gravação, a banda era bem maior, mas, no palco, só tem os dois, que têm conseguido resolver a sonoridade como se fosse um grupo grande. É muito bacana.”
Arnaldo Antunes se apresenta ao lado de Curumin (produtor de RSTUVXZ, na bateria, violão, programação e vocal) e Betão Aguiar (baixo, guitarra, violão e vocal). Aliás, ele é só elogios para a dupla. “Na gravação, a banda era bem maior, mas, no palco, só tem os dois, que têm conseguido resolver a sonoridade como se fosse um grupo grande. É muito bacana.”
Curumin, que toca com Arnaldo Antunes há alguns anos, começou a chamar a atenção do ex-Titã por seus outros talentos, como a interpretação, a composição e a produção. “Ele foi crescendo artisticamente e se multiplica em vários curumins. Acabei convidando-o para produzir esse disco e foi maravilhoso. Ele entendeu a sensibilidade das canções, o que cada uma pedia. Conseguiu soluções harmônicas bem interessantes”, observa.
Arnaldo se recorda de que esteve com o novo trabalho na capital mineira assim que ele foi lançado, mas diz que o show foi amadurecendo e ganhando contornos diferentes ao longo dos meses. “Está cada vez melhor, mais redondo. Tenho gostado demais de fazer esse projeto, tanto que fico com ele na estrada até o começo de 2020. Acho que essa coisa do atrito, das fricções entre os dois gêneros está cada vez mais evidente agora. Nunca foi um disco de samba-rock, de fundir as duas coisas. É para mostrar os contrastes e as similaridades por isso uma música vai emendando na outra”, explica.
O repertório traz canções de sua autoria e também parcerias com Marisa Monte, Cezar Mendes, Carminho, Marcelo Jeneci, Carlinhos Brown, André Lima, Paulo Miklos, além de recuperar uma antiga composição com Marcelo Fromer (1961-2001). “Essa canção (Se precavê) acabou sendo inédita, porque nunca a gravamos. É uma música anterior ao disco Cabeça dinossauro (1986). Eu me lembrei dela, que mostra bem o lado rock do disco, além de ser uma homenagem ao Marcelo, que está sempre na nossa memória”, afirma.
Ouça Se precavê:
O músico conta que tem tido algumas surpresas ao longo desse período e celebra a receptividade de RSTUVXZ. Ele acaba de voltar de uma temporada fora do Brasil, tendo circulado pela Argentina e o Uruguai, onde diz ter tido uma experiência bem vibrante. “Fora os shows por aqui mesmo. No Circo Voador, no Rio, que é um palco antológico, foi fantástico. O disco não teve nenhum sucesso na rádio, mas essa coisa poderosa da internet faz com que todo mundo tenha acesso às composições”, pontua.
Uma apresentação específica tocou Arnaldo de forma especial. Ele se apresentou num pub na cidade de Paulista, na Região Metropolitana de Recife (PE), que se chama Fome de quê, em referência ao verso da música Comida, um dos maiores sucessos dos Titãs.
“Justamente pelo fato de o lugar ter essa alusão aos Titãs eu imaginava que lá eu encontraria um público ávido pelas músicas do grupo. E fiquei impressionado em ver como todo mundo conhecia todas as músicas do RSTUVXZ. São boas surpresas, que sempre estão acontecendo na nossa vida.”
Atualmente, ele desenvolve outro trabalho, cuja conclusão está prevista apenas para o ano que vem. “Até lá seguimos com o RSTUVXZ”, avisa.
O Som do Mercado terá outras atrações, como os DJs Kriok e Paco Pigalle e os artistas Chico Neves e Julia Branco. “Vai ser ótimo rever a Julia. Nós gravamos juntos a faixa Pega a melodia e engole, que batizou o disco do Todos os Caetanos do Mundo, e já dividimos o palco também. Ela é uma artista supertalentosa”, comenta.
O público pode esperar, além do repertório de RSTUVXZ, hits da carreira de Arnaldo. Em dezembro, O Som do Mercado convida o cantor e compositor mineiro radicado no Rio de Janeiro João Bosco. Até o final de 2020, o projeto pretende promover 10 shows de grandes nomes da MPB.
O Som do Mercado Apresenta Arnaldo Antunes
Neste sábado (28), a partir das 20h, no Mercado Distrital do Cruzeiro (Rua Opala, s/nº, Cruzeiro). Ingressos: R$ 100 (lote extra). Demais lotes estão esgotados. Vendas: no Sympla e nas bilheterias do Distrital, Espaço do Ar, 80 Bar e Laicos Bar.
Família mineira
A família de Arnaldo Antunes também está presente em RSTUVXZ. Enquanto a filha Celeste Antunes participa com alguns vocais, o filho Brás Antunes assina com o pai a música Quero ver você. A mulher, a artista plástica Márcia Xavier, compôs e canta com o marido a faixa Orvalhinho do mar. Ela, que é mineira de Belo Horizonte mas mora desde criança em São Paulo, também é responsável pelas fotos e pelo projeto gráfico do disco. “A família toda dela é de Minas, e sempre que vamos aí a gente se encontra com os parentes. Com certeza, deve ter gente lá no show”, diz Arnaldo. A programação de hoje será aberta pelo DJ Kriok (às 20h). Na sequência (21h30), apresentam-se Julia Branco e Chico Neves, com o DJ Kriok retomando as pick ups entre as 22h30 e as 23h30, horário do início do show de Arnaldo Antunes. Paco Pigalle assume a discotecagem à 1h. A festa termina às 3h.