Ele é argentino, mas vive no Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro, desde 1966. Teve três indicações ao Grammy e venceu duas vezes. E é apaixonado por Minas Gerais. Em sua mais recente passagem por Belo Horizonte, onde se apresentou com o grupo A Caixa Preta, no fim do mês passado, o guitarrista e violonista Victor Biglione recebeu o Estado de Minas para uma conversa sobre sua carreira. Ele falou de suas parcerias musicais, principalmente com o ex-Police Andy Summers, dos Grammys que ganhou, de seu trabalho com A Cor do Som e de sua ligação com Minas Gerais.
“Tenho uma amizade e uma parceria com Wagner Tiso há mais de 35 anos. Isso me levou a tocar com todos os grandes artistas de Minas. A riqueza musical mineira é uma das mais importantes do mundo”, diz. O primeiro contato de Biglione com a guitarra se deu ainda na infância. “Uma parte da família, a parte russa, tinha músicos. Então chegava muita música em casa, muita bossa nova, muito jazz. Minha mãe gostava muito de rock, de samba, e eu fui me apaixonando pela boa música. Um dia rolou um violão lá em casa, e comecei a estudar com 12 anos. Com 18, já era profissional”, diz o músico, hoje com 61 anos.
“Tive a alegria de ganhar meu primeiro Grammy em 1988, participando no disco Brasil, da banda The Manhattan Transfer (de Nova York). Ganhamos o prêmio internacional. Em 2000, ao lado do grande Milton Nascimento, com o disco Crooner, ganhamos o Grammy Latino. E, em 2006, fui indicado, também ao Grammy Latino, na área de Grammy Instrumental, com meu disco Mercosul.”
Tendo gravado com grandes nomes da música mundial, Biglione relembrou algumas de suas parcerias mais marcantes. “Tenho para lá de 25 discos. Foram dois com A Cor do Som, alguns em duo, como dois com Wagner Tiso, dois com Andy Summers, um com Marcos Valle, um com Marcos Ariel, um com Jane Duboc e vários outros que gravei sozinho”.
POLICE
O ano era 1997 quando Victor Biglione iniciou uma de suas mais bem-sucedidas e respeitadas parcerias. “Um produtor amigo meu (Luiz Paulo Assunção, que trabalha com Andy Summers no Brasil) disse que era para eu entrar em contato com ele (Andy), mandar um disco, que ele adoraria meu trabalho. Ainda relutei, porque, afinal, o Andy Summers é o guitarrista do Police, um cara mundial”, conta.
Mas Biglione venceu a resistência e mandou o disco para Summers. “E ele me ligou. Disse que amou meu CD e me chamou para trabalhar com ele. Veio para o Brasil, fizemos uma excursão pelo Brasil e a Argentina. Depois fiquei oito anos indo para Los Angeles e fizemos dois discos – Strings of desire (1998) e Splendid Brazil (2005).”
Nos anos 1980, o guitarrista esteve em outra empreitada. “Eu tocava com a Gal Costa e surgiu um convite para uma audição n'A Cor do Som, porque o Armandinho ia sair. Fui e, antes de terminar, eu já fui convidado a ficar na banda. Foram dois anos muito legais, nos quais gravei Magia tropical (1982) e As quatro fases do amor (1983).”
Outra vertente do trabalho do argentino naturalizado brasileiro são as trilhas sonoras para filmes. “São mais de oito prêmios de cinema, incluindo dois Kikitos em Gramado (Como nascem os anjos e Condor), Festival de Cinema do Rio e vários outros. É uma grande paixão que tenho.” Tocando, Victor Biglione já rodou o mundo. “A música já me levou a 23 países”, diz, citando como marcantes suas participações nos festivais de Montreux (Suíça) e Montreal (Canadá).