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Grupo de produtoras trabalham afeto e sensibilidade no meio musical


Uma produtora feminina e feminista, sem que isso signifique a intenção de descartar os homens. Ao contrário. "Todo mundo tem o seu lado feminino, inclusive eles. E é justamente isso que queremos incentivar e trabalhar", afirma Joana Ziller, uma das quatro integrantes da Mina, empresa criada neste ano por um grupo de amigas de Belo Horizonte com o objetivo de se tornar uma “produtora de afeto”. Alice del Picchia, Luiza Fonseca e Maria Clara Fernandes, todas com alguma experiência no universo artístico, são as demais autoras da iniciativa, que se propõe a buscar um novo formato para as relações de trabalho no mercado musical.

Nascida e criada no meio teatral – ela é filha dos atores Lydia del Picchia e Chico Pelúcio, do Grupo Galpão –, Alice sempre achou que não enveredaria para o trabalho no setor da cultura. "Tudo foi meio sem pretensão. Quando me vi, estava numa produtora, a Fauno Cultural, e aí fui atuando em eventos, conhecendo muita gente e acabei indo parar na banda Cayena, na qual sou vocalista. Não teve jeito de não seguir esse caminho", conta.
Foi em outubro de 2018 que o quarteto decidiu que era hora de arregaçar as mangas e criar um projeto. Em janeiro deste ano, a Mina começou a realizar seus primeiros trabalhos.

Alice conta que a ideia surgiu a partir de frustrações que elas enfrentaram ao atuar na produção cultural. "É um mercado muito masculino, e a gente sempre se deparou com homens fazendo as coisas meio de qualquer jeito, sem cuidado, não assumiam a culpa. A gente queria fazer de um jeito diferente. Colocamos no papel tudo que nos incomodava e percebemos como nesse meio falta afeto, sensibilidade; tudo que tem muito a ver com o feminino."

Um dos principais trabalhos feitos até aqui pela Mina envolveu quase exclusivamente homens, a produção do clipe Eu vou, da dupla de rap Hot & Oreia, que contou com a participação do rapper Djonga. A gravação exigia uma carroça e, para providenciá-la, a Mina pôs em prática seu jeito de trabalhar. Com o clipe sendo gravado em Sabará, parecia inviável levar uma carroça de Belo Horizonte até a locação.
A produtora decidiu que seria mais fácil procurar um carroceiro na cidade histórica disposto a alugar seu instrumento de trabalho no dia da gravação.

"Não foi nada fácil. Passei muito tempo procurando. As meninas ficaram até preocupadas comigo. Mas achei um carroceiro disposto a ir, só que tinha que levar junto a mula dele, embora a gente não fosse precisar do animal nas filmagens. Enquanto a gente rodava, tivemos que cuidar da mula, mantendo-a hidratada e alimentada. Produção é isso. Tem que ter essa paciência, esse olhar mais cuidadoso, mas também muito diálogo, troca e afeto", diz Joana.
 

 
 
A Mina, segundo Joana, tenta aliar o modo de trabalho que as fundadoras da produtora se propuseram a adotar com temas em que elas acreditam e tentam promover. "A gente concentra a nossa essência com um trabalho benfeito.
Os feedbacks têm sido positivos. Estamos produzindo a banda Lamparina e a Primavera, que tem seis homens e uma mulher, e os meninos têm comentado como estão felizes e satisfeitos em ter um espaço em que podem se expressar, dialogar, explicar o que querem, sem receio de nada."

Além da produção da dupla Hot e Oreia e de A Lamparina e a Primavera, a Mina também cuida da banda de Alice del Picchia e está envolvida com o próximo álbum do músico Sidarta Riani, que deve ser lançado no final do ano. "Temos outras coisas em andamento. Queremos fazer mais eventos como o festival Brota no Cafezal, que arrecadou fundos para a Associação de Moradores da Vila Santana do Cafezal, e queremos trabalhar com mais mulheres, realizando workshops, incentivando-as a produzir clipes e outras ações", revela Alice.
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