Ao embarcar para sua sexta turnê internacional com a Orquestra Filarmônica Jovem de Boston, a primeira no Brasil, o maestro Benjamin Zander descobriu que um de seus músicos, um rapaz de 21 anos, nunca havia entrado em um avião. E que muitos daqueles 100 instrumentistas jamais haviam deixado os Estados Unidos.
“Tudo é muito novo para eles. A plateia, os lugares, a comida. Porém, o mais importante é que essa orquestra funciona no mesmo nível das profissionais, mesmo que alguns dos integrantes sejam crianças”, comenta Zander sobre a Filarmônica Jovem, que ele rege nesta terça-feira (25), no Centro Cultural Minas Tênis Clube.
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A apresentação, que integra o programa Concertos Supergasbras, traz no repertório a Sinfonia novo mundo, de Dvorak, e o Concerto nº 2, de Rachmaninoff, com solo da pianista ucraniana Anna Fedorova.
Fedorova, de 29 anos, é um prodígio musical desde criança. O registro da peça que ela apresenta esta noite, brilhante criação de Rachmaninoff, foi gravado em 2013 em Amsterdã, na Holanda, e já ultrapassou 23 milhões de visualizações no YouTube.
A turnê brasileira tem nove concertos – depois desta terça, a orquestra vai conhecer Ouro Preto amanhã. Na quinta-feira (27), a temporada será encerrada em Curitiba.
Zander fez 80 anos em março – também em 2019, completa quatro décadas à frente da Orquestra Filarmônica de Boston, fundada por ele. Há nove, criou a Filarmônica Jovem, que conta com 120 músicos. “A principal diferença (entre reger e dirigir duas orquestras, uma com músicos experientes e outra com jovens) é a questão do tempo. Com o grupo profissional, os ensaios são rápidos. Em duas semanas intensas de muito trabalho fazemos um concerto. Já com os jovens, só para ter uma ideia, a temporada de ensaios começa em setembro. O primeiro concerto estreia em novembro”, compara.
HISTÓRIA Mas não é só uma questão de ensinar música. “Os jovens aprendem a história, o significado de cada frase. É como se fosse treinar um time para o campeonato. Eles passam um tempo aprendendo sobre outras questões da vida, pois nossa intenção não é apenas formar pessoas que toquem e amem música, mas também formar futuros líderes”, explica o maestro.
O projeto educacional abrange vários níveis. “Se alguém sai dos trilhos, coisa comum entre jovens, deve ter responsabilidade sobre seus atos. Tivemos uma crise em uma turnê, quando um grupo de músicos quebrou a regras quanto ao álcool. Em vez de mandá-los de volta para casa, reunimos todos para conversar”, revela Zander.
O maestro nasceu na Inglaterra em 1939, dois anos depois de sua família ter deixado Berlim fugindo do nazismo – a avó do maestro foi uma das vítimas de Auschwitz. Especialista em Beethoven e Mahler, Zander chegou aos Estados Unidos no fim da década de 1960, onde se radicou. Além da atuação como regente, Zander é palestrante – costuma falar sobre o poder transformador da música. Seu Ted Talk sobre o tema já soma 4,2 milhões de visualizações no YouTube.
“Não há divisão (entre as funções). Músico, regente, líder de orquestra, professor, sou alguém que tem responsabilidade pelo desenvolvimento humano. A palavra maestro, usada para o condutor de uma orquestra, significa professor em italiano. Então, minha função, e também responsabilidade, vai além de ensinar música”, acrescenta.
SILÊNCIO Na primeira turnê brasileira, a Filarmônica Jovem vem realizando encontros em todas as cidades com jovens músicos do país. “As plateias têm sido as melhores. Domingo, tocamos em um anfiteatro (o auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre), e tivemos uma plateia de milhares de pessoas completamente silenciosas e atentas”, conta Zander.
As audições da Filarmônica Jovem se destinam exclusivamente a jovens que estudam e vivam na região de Boston. No entanto, Zander trabalha com grupos do mundo inteiro. Terminada a turnê brasileira, o maestro partirá para o Texas para trabalhar com uma orquestra. Depois segue para Aruba, onde vai dar aulas para regentes de oito países. Em setembro, chega a Joanesburgo, na África do Sul, também para atuar ao lado de jovens.
Ele não se cansa? “Não”, responde Zander, com bom humor. “Fiz 80 e estou na melhor fase da vida."
ORQUESTRA FILARMÔNICA JOVEM DE BOSTON
Projeto Concertos Supergasbras. Nesta terça-feira (25), às 20h30. Teatro do Centro Cultural Minas Tênis Clube, Rua da Bahia 2.244, Lourdes, (31) 3516-1360. R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada).
SEGUNDO SEMESTRE
A série Concertos Supergasbras programou três recitais para o segundo semestre. Em 13 de agosto, a atração será o Trio Nobile, formado por Anthony Flint (flauta), Johann Sebastian Paetsch (cello) e Clélia Iruzun (piano). Em 17 de setembro, apresentam-se o violinista Emmanuele Baldini e a pianista Lilian Barreto. Já em 15 de outubro, encerrando a programação, será a vez do pianista Nelson Freire. Os ingressos estão à venda na bilheteria do teatro. Passaporte para a temporada custa R$ 160 (inteira) e R$ 80 (meia). Sócios do Minas Tênis Clube: R$ 136 (inteira) e R$ 68 (meia).