No livro 'Queria ver você feliz' (2014), a escritora e roteirista Adriana Falcão conta a história dos pais, Caio e Maria Augusta. É uma história de amor com boa dose de tragédia – o pai de Adriana cometeu suicídio e a mãe morreu depois de uma overdose acidental de medicamentos. “Minha mãe teve a necessidade de falar sobre isso e chegou a minha hora de botar para fora. Tenho essas questões, depressão, ansiedade, desde adolescente. As músicas vieram desse lugar, foi uma coisa totalmente terapêutica”, afirma Clarice Falcão.
saiba mais
Gravação de DVD ao vivo de Paula Fernandes reúne 15 mil pessoas em Sete Lagoas
Adriana Calcanhotto se despede do mar com o disco 'Margem'
Ney Matogrosso sobre show: 'Não discuto nada e tem sido um sucesso louco'
Bianca Gismonti Trio lança o disco Desvelando mares
Cristiano, da dupla com Zé Neto, volta aos palcos após cirurgia de emergência
Clarice versa sobre depressão, morte e tormentos que cercam não somente ela, mas todos. “Quando lancei Minha cabeça (o primeiro single do disco, com clipe no ar desde abril), que fala sobre transtornos decorrentes de ansiedade, muitas pessoas vieram falar comigo que sentiam aquilo. Acabei me sentindo menos sozinha e acabei sendo quase uma terapia coletiva.”
Mas o álbum está longe de ser baixo-astral. Colorindo letras tão pessoais está a sonoridade eletrônica. Tem conserto é puro sintetizador. Traz músicas mais sofisticadas – Minha cabeça é delicada, cheia de efeitos; a lenta Morrer tanto é climática – e outras um tanto simples – Mal pra saúde remete ao synthpop oitentista meio descartável que é uma delícia para a pista de dança, assim como Dia D, repleta de efeitos de voz e com refrão impagável (“Hoje eu vou dar/ Hoje eu vou dar”, ela canta repetidamente, em várias línguas).
“Essa música (Dia D) grita na sua cara tudo o que você quer dizer”, comenta Clarice. A sonoridade eletrônica veio do gosto pessoal. “Sou muito o que estou ouvindo em cada época. Com 20 e pouquíssimos anos, quando lancei o primeiro disco, escutava muito folk independente. Desde então tenho ouvido outras coisas e acabei me apaixonando pelo eletrônico. Não por um estilo, mais pela cena em geral.”
EM CASA O álbum foi feito da maneira mais confortável do mundo: na própria casa de Clarice. Ela chamou o namorado de uma amiga, o produtor Lucas de Paiva, que lhe apresentou o infinito universo dos sintetizadores.
“O disco inteiro custou zero real para gravar, pois foi feito no tapete da minha casa. Fiz com o tempo que queria, aprendi a mexer em programas e até toquei umas linhas de baixo. Não sei tocar baixo, mas no teclado fica tudo mais fácil”, conta ela. Para se ter uma ideia, somente a faixa Esvaziou traz um instrumento orgânico – o contrabaixo de Vinicius Paranhos.
Mesmo com lançamento exclusivamente digital, o novo disco tem o conceito do velho álbum físico. Clarice canta seus dramas (e os de tantas outras pessoas) em pequenas histórias até chegar à faixa final. Em Tem conserto, a mais pesada do disco, ela mostra que há solução: “Tô quebrada mas tem conserto/ Não parece mas tem conserto”.
“É difícil (pensar no conceito de um álbum), porque hoje em dia só tem playlist. Mas quando vi que tinha um álbum inteiro, me deu uma alegria grande. Talvez isso seja mais pra mim do que para os outros. Quem ouvir o disco inteiro vai entender”, observa.
E é nesse clima que Clarice vai levar o novo álbum para a estrada. A turnê Em conserto terá início em 28 deste mês, em Juiz de Fora (no Cultural Bar). Em Belo Horizonte, ela se apresenta em 26 de julho, no Sesc Palladium. No palco, Clarice estará acompanhada de um pequeno exército de synths capitaneado por Érica Alves, Gabriel Guerra e Lucas de Paiva.
“Está sendo um desafio, mas vou tocar muitas músicas dos discos anteriores. Nos ensaios, temos conseguido trazê-las para o novo universo, mas sem perder a essência”, conclui.
TEM CONSERTO
De Clarice Falcão
Ditto Music
Nove faixas
https://ditto.fm/claricefalcaotemconserto" target="blank">Disponível em todas as plataformas digitais