Álbum privilegia o jazz à brasileira

Em Solar, seu 11º disco solo, o baterista Alfredo Dias Gomes diz que retoma pegada de "brasilidade" ao fundir ritmos. Multi-instrumentista, ele fez composições ao teclado

por Augusto Pio 25/05/2019 10:00

Thiago Krofp/Divulgação
Thiago Krofp/Divulgação (foto: Thiago Krofp/Divulgação)

Filho da escritora Janete Clair e do romancista e dramaturgo Dias Gomes, o compositor e baterista Alfredo Dias Gomes chega ao seu 11º disco solo, Solar. “É um CD marcadamente jazzístico e brasileiro, diferentemente de JAM, lançado no ano passado, e que trazia uma pegada mais jazz rock”, explica o músico carioca. Gravado em seu próprio estúdio, no Rio de Janeiro, está disponível nas principais plataformas digitais.


Ele já tocou com grandes nomes, como Ivan Lins, Ritchie, Sérgio Dias (Mutantes), Hermeto Pascoal, com quem gravou Cérebro magnético, Lulu Santos e com as bandas Heróis da Resistência e Kid Abelha, entre outros. “Comecei a tocar profissionalmente aos 18 anos, quando Hermeto me viu ensaiando e me fez o convite para tocar com ele. Aceitei e integrei a banda dele por dois anos”, lembra.


O CD traz oito faixas autorais e inéditas. “Minha carreira solo começou mesmo em 1993, quando resolvi deixar a banda que acompanhava Ivan Lins e partir para um trabalho próprio e mostrar o meu lado autoral e minha virtuose com as baquetas”. Ele garante que o trabalho de agora não só ressalta tais motivações, como revela um lado seu mais brasileiro. “Quando comecei a compor, pensei em uma proposta diferente. Por isso decidi tocar, além da bateria, os teclados e os baixos, dando ênfase à forma como crio minhas composições. Acrescentei somente o Widor Santiago, como solista, que tocou sax e flauta.”

Solar é um disco totalmente autoral e nele Alfredo mistura ritmos e melodias brasileiras com jazz e jazz-fusion. Abre o CD a canção Viajante, composta em 1980. “Minha mãe me pediu uma música para um personagem de uma novela que ela estava escrevendo e que se chamava Coração alado (1980/1981). Era sobre um personagem nordestino, vivido por Tarcísio Meira, que foi para o Rio de Janeiro tentar ganhar a vida. Lembro-me que, naquela época, ainda tocava na banda de Hermeto. E foi assim que resolvi compor a trilha sonora da novela, cuja música foi gravada, na época, por Dominguinhos. Neste disco ela está numa versão instrumental.”

Já a canção Solar, que deu nome ao CD, foi composta em 1974. “Tem uma pegada pesada de bateria e melodia abrasileirada. Já El Toreador foi composta em 1993, quando a fiz para uma trilha sonora de uma peça teatral escrita por minha mãe.

Alfredo, natural do Rio de Janeiro (nasceu em 1960), gravou com grandes nomes da música instrumental, como Márcio Montarroyos, Ricardo Silveira, Torcuato Mariano, Arthur Maia, Nico Assumpção, Guilherme Dias e Luizão Maia, entre tantos outros. Antes de Solar, havia gravado o single Serviço secreto (1985) e os CDs Alfredo Dias Gomes (1991), Atmosfera (1996), Ecos (1988), mas lançado em 2018, Corona Borealis (2010), Looking back (2015), Pulse (2016), Tributo a Don Alias (2017), com clássicos do jazz fusion (covers), e JAM (2018).

Alfredo conta que o álbum Tributo a Don Alias (2017) foi gravado em homenagem ao baterista e percussionista norte-americano, que tocou com Miles Davis. “Comecei a aprender a tocar bateria com Alias, que me ensinou muito. Tinha lá meus 16, 17 anos. Ele veio o Brasil para fazer umas gravações, e quando a sua banda não estava em estúdio, tinha aulas com ele. Alias foi a ponte entre mim e Hermeto. Foi quando o músico alagoano me viu tocando e me fez o convite para tocar com ele. Tinha acabado de completar 18 anos”, lembra.

RETOMADA Embora seja baterista na essência, Alfredo compõe suas músicas nos teclados. “Componho nele, vou para a bateria e vejo como está o andamento da música e faço o baixo em seguida, ou seja, já mostro para os músicos que gravarão comigo o arranjo praticamente pronto. Em Solar fiz algo diferente, pois deixei os teclados nas músicas, coisa que, normalmente, não faço quando vamos gravar. Achei que ficou legal”, orgulha-se o baterista, que não quis ser escritor, como os pais. “Tenho irmãos músicos e, na minha família, somente minha filha mais velha está escrevendo e já está fazendo algumas coisas para a Rede Globo”, revela.

Ele conta que está montando um quinteto e que fará a turnê para o lançamento do álbum. “Este novo disco é uma retomada de um lado meu mais brasileiro, que tinha nos primeiros álbuns, que era mais de jazz fusion e jazz rock. Solar é uma retomada dessa minha brasilidade”.

ALFREDO DIAS GOMES – SOLAR
• Independente
• 8 faixas
• Preço sugerido: R$ 25
• CD disponível nas plataformas digitais

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