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Moreno Veloso e Bem Gil se unem em show em BH nesta quinta (23)

A primeira vez em que se viram só está na lembrança de Moreno Veloso, de 46 anos. Afinal, 13 anos separam o primogênito de Caetano Veloso de Bem Gil, o filho número seis de Gilberto Gil. Moreno vem acompanhando-no desde o nascimento. “Estive perto durante todo o crescimento dele. Em um determinado momento da adolescência, ele me disse que estudaria violão, que queria ser músico. Não sei se é uma questão astrológica, mas ele falou da maneira dele, séria. Fiquei feliz na hora, naquela tarde dei um abraço e disse: ‘Bem-vindo. Vamos juntos’”, conta Moreno.

Desde então, os dois já realizaram alguns trabalhos juntos, mas sempre no trabalho de outros.
Moreno e Bem dividiram a direção musical de Gilbertos samba (2014), álbum em que Gil releu a obra de João Gilberto. Um ano mais tarde, produziram a turnê dos pais, Dois amigos e um século de música. Mais recentemente, Bem levou Moreno para o palco na turnê Refavela 40, que celebrou as quatro décadas desse álbum de Gil.

Agora os dois estão – desde janeiro –, fazendo uma série de shows com o próprio repertório. Moreno e Bem chegam a Belo Horizonte nesta quinta-feira (23) para apresentar, no Teatro do Centro Cultural Minas Tênis Clube, o show que vêm considerando um experimento. Bem toca guitarra; Moreno, violão e pandeiro. A única regra é que não pode haver canções dos outros.

“Falei que este é o primeiro show do Moreno em que ele não canta Deusa do amor”, comenta Bem, a respeito da canção do Olodum que o filho de Caetano gravou em seu álbum de estreia, Máquina de escrever música (2000), e que se tornou onipresente em sua carreira. Moreno só ficou sabendo disso mais tarde, mas esse disco foi um marco na vida de Bem – além de acompanhar outros artistas, o filho de Gil é integrante da banda Tono.

Ele tinha 15 anos quando, morando na casa dos pais, recebeu a visita de Moreno.
Este, nervoso, tinha levado para Gil o disco que havia terminado de gravar com seus parceiros, Domenico Lancelotti e Alexandre Kassin. “Foi uma noite memorável, a gente ouvindo e reouvindo o disco. Não sabia que o Bem tinha ficado tão abalado com o disco, coisa que ele me falou aos poucos”, conta Moreno. “Na verdade, não foi a questão familiar (os irmãos mais velhos de Bem são primos de Moreno) que nos levou a trabalhar juntos. Foi mais uma identificação com ele mesmo”, acrescenta Bem.

Como o show está na rua, a relação se estreitou tanto que os dois têm composto juntos. Uma das canções inéditas, com música de Bem e letra de Moreno, está no repertório. “Há muitos anos o Bem me mandou uma melodia para eu colocar letra. Só que perdi meu celular.
Falei com ele o que tinha acontecido e ele me disse que tinha perdido o dele também. A música se perdeu. Agora, ele me mandou uma outra música e, finalmente,  conseguimos uma parceria”, diz Moreno. O nome, pelo menos por ora, é Sempre bela. “Não sei se ele vai aceitar, tenho um parceiro para perguntar”, acrescenta.

Além desta, estão no repertório Sereno (Bem), que Gil gravou no álbum OK OK OK (2018) para saudar a chegada de mais um neto; Sertão (Moreno e Caetano), Presente de Natal (Bem e Quito Ribeiro), Tudo ao redor (Moreno e Domenico Lancellotti) e Nem (Bem, Gil e Alberto Continentino).

“Bem me chamou para esse show para ajudá-lo a botar para fora as coisas novas, porque, mesmo na Tono, a participação dele na composição é relativamente pequena. Ele tem canções gravadas por outros (Nem, por exemplo, foi registrada em Giro, novo disco de Roberta Sá), mas o grosso da obra ninguém conhece”, conta Moreno. A hora desse encontro de experimentação no palco foi perfeita, diz Moreno, já que ele próprio está com canções inéditas que precisa testar (seu disco mais recente, Coisa boa, é de 2014).

TURNÊ  Para além deste encontro no palco, Bem e Moreno seguem fazendo outros trabalhos de terceiros. Ambos continuam em turnê com os pais. Ofertório, que uniu Caetano, Moreno, Tom e Zeca Veloso, está há mais de um ano em cartaz. No mês que vem, os quatro partem novamente para um giro com o show pela Europa.

Além desse, Moreno tem também em andamento um show com o baiano Paulo Costa, antigo aluno de sua tia Mabel Veloso.
“Ela alfabetizou milhares de crianças de Santo Amaro da Purificação. Paulo foi um deles. Depois de passar a maior parte da vida na Europa, ele voltou e musicou um punhado de poemas da Mabel. Ajudei na produção do disco e acabei fazendo parte do show.”

Já Bem está a mil. Ele volta a BH depois de passar o último fim de semana na cidade – na sexta,  participou do show de Roberta Sá no Palácio das Artes, já que fez a direção musical do trabalho; no sábado, tocou com o pai no MecaInhotim, pois é o produtor de OK OK OK. Além disso, a banda Tono dividiu a produção e a gravação de Não há abismo em que o Brasil caiba, novo disco de Jorge Mautner.

E já tem sua nova vinda a Belo Horizonte agendada para 23 de agosto, na estreia nacional do show do novo álbum de Adriana Calcanhotto, no Palácio das Artes, (Bem produziu o espetáculo anterior, o celebrado A mulher do Pau Brasil, que também estreou na capital mineira). “Tenho criado uma relação de naturalidade e intimidade com Belo Horizonte. A gente é sempre bem acolhido, acho que pelo público ser muito aberto para a música”, afirma Bem.

Para ele, trabalhar em várias frentes foi outro aprendizado que teve com Moreno. “Ele é pintor, cozinheiro, cantor, baterista. Então, além da música, ele foi uma referência também nesse sentido.” Para Moreno, a parceria deverá render dois álbuns – o dele e o de Bem.
“Estou feliz e disposto em poder ajudar a formatar o trabalho dele. Estamos caminhando para isso. Como ele não tem nenhum solo, o disco vai ser um passo maior. Ele faz coisas tão boas e elas podem se dissipar pelo ar se a gente esquecer de si mesmo. Mas eu não vou deixar.”

BEM GIL E MORENO VELOSO
Show nesta quinta-feira (23), às 21h, no Centro Cultural Minas Tênis Clube, Rua da Bahia, 2.244, (31) 3516-1360.
Ingressos: R$ 70 e R$ 35 (meia).





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