Em meio às 72 atrações anunciadas para a edição deste ano do Lollapalooza Brasil, 32 são artistas nacionais. Desses, apenas um é de Minas. Luciano Ferreira, conhecido nacionalmente sob a alcunha de KVSH (pronuncia-se cush), se apresenta amanhã, no palco Perry’s By Doritos, dedicado à música eletrônica. Ele contará com a participação especial dos conterrâneos Pedro Calais, da banda Lagum, e Rogério Flausino, do Jota Quest, que recentemente lançaram versões com o DJ. Aos 25 anos, o novalimense é um exemplo de que, no século 21, os instrumentos tradicionais não são o único caminho para realizar o sonho de ser músico.
Cinco anos atrás, Luciano era um estudante de arquitetura, apaixonado por música eletrônica e curioso pelo aprendizado das mixagens e domínio dos programas de edição. Em casa, arriscava-se na criação de alguns remix e, com estrutura mínima, se virava como DJ em algumas festas da faculdade. Hoje, ele faz em média 12 shows por mês e está escalado para os dois maiores festivais realizados no país: além do Lolla, neste fim de semana, se apresentará no Rock In Rio, no segundo semestre.
Pela dedicação que sempre demonstrou, fazendo cursos e investindo o salário que ganhava no estágio em novos equipamentos, não dá para dizer que foi num “passe de mágica” que tudo mudou. Porém, foi graças a uma versão criada por ele com o tema dos filmes do bruxo Harry Potter que a trajetória profissional tomou outra proporção em sua vida.
“Comecei produzindo em Nova Lima, onde não há muita opção de balada, nem clubs. Observava a cena de BH e procurava produzir algumas coisas parecidas com as que faziam sucesso no exterior. Lançava algumas músicas, mas nenhuma pegava. Até que, um dia, assistindo a um dos Harry Potter com meu irmão, veio essa ideia. É uma melodia legal, que todo mundo conhece, pensei que poderia funcionar. Fiz, mostrei para alguns amigos, muita gente não gostou, achou bobo, desconfiou. Mas lancei na internet e logo virou sucesso e começou a tocar em muitas festas”, conta Luciano sobre o hit Potter, lançado inicialmente na plataforma SoundCloud, mas que, em 2016, chegou a ocupar o primeiro lugar no Top 50 Virais do Brasil no Spotify.
APELIDO Usando uma grafia diferente para o apelido que ganhou ainda na escola, KVSH virou presença constante nas principais “trances” e outros eventos em que o eletrônico é o ritmo predominante. No entanto, a criatividade e os recursos de mixagem permitiram conexões com outros estilos e novas versões de sucesso vieram, em parcerias com nomes importantes da música mineira.
Uma das primeiras foi com o Lagum, no remix de Eu não valho nada, lançado em 2017, com participação da DJ Samhara. A jovem banda formada em Brumadinho, que mescla pop rock com MPB em letras e melodias “good vibes”, também vem se destacando além de Minas Gerais. Mais recentemente, Lagum e KVSH voltaram a se juntar na faixa Bem melhor, que já tem mais de 3,3 milhões de execuções no YouTube.
Um grande admirador do Lagum é Rogério Flausino, que se tornou outro parceiro de KVSH. Em 2018, o DJ procurou Flausino, de 46, e propôs um remix de Dias melhores. O sucesso das colaborações estará no Lollapalooza amanhã, e o vocalista do Jota Quest, assim como Pedro Calais, de 22, do Lagum, subirão ao palco para encerrar a participação do DJ, marcada para as 14h.
Mais velho da turma, Flausino é só elogios à nova geração de conterrâneos. “Sou fã do KVSH. Estamos indo ao Lolla por causa dele. Dias melhores fala de expectativas, de esperança, é uma música muito mineira. Quando olhamos para o Clube da Esquina, o jeito de falar sempre foi positivo, tem um astral. Essa união de gerações é muito importante, no Jota sempre admiramos o Clube da Esquina. Agora vejo o Lagum, com um estilo de pop rock, com reggae e MPB, que me agrada muito, de verdade. Estou muito feliz de estar aqui com essa molecada, que é muito talentosa e pé no chão.”
Flausino conheceu o Lagum por intermédio de amigos. “Infelizmente, não tenho frequentado muito a noite, colocaram o Lagum para eu ouvir na minha casa e logo pensei: ‘esses meninos têm o lance, o borogodó’. E aí comecei a acompanhar de perto”, conta.
Para quem cresceu ouvindo o Jota Quest, a admiração é recíproca. “Uma coisa legal da nova geração é que fazemos o link com o antigo e Minas proporciona esse contato forte que temos dentro das montanhas. Mesmo antes de assinar com gravadoras ou sem intermédio de grandes produtores, os músicos se aproximam uns dos outros e, aí, quando nos unimos, saímos de Minas com muita força”, afirma Pedro Calais, que é vocalista do Lagum.
“Rogério é nosso tutor. Não o conhecia pessoalmente e cheguei até ele por meio de amigos, para fazer o remix de Dias melhores. Em Minas, isso facilita as parcerias. Falamos diretamente um com o outro”, diz KVSH, que, no início de sua adolescência, tocava as músicas do Jota Quest nas aulas de bateria. Agora ele se diz surpreso de estar lado a lado com o ídolo no ensaio para o show no Lolla.
Ontem, KVSH lançou nas plataformas digitais o resultado de outra parceria – com Beowulf e Flakke. Me gusta tem acento latino, explora o som da sanfona e letra em espanhol, declaradamente mirando o público hispânico.
CONTRATO Assim como o Lagum, KVSH assinou contrato com a gravadora Sony Music. “Para ser sincero, às vezes a ficha não cai, porque tudo começou como uma brincadeira, quando eu ainda era ainda muito jovem. Mas a música é o que me move. Todo dia abro o computador para fazer coisas diferentes. Temos uma diversidade de ritmos muito grande no Brasil para servir de inspiração. Quero seguir fazendo coisas novas. Do remix da voz e violão do Lagum a coisas com o pessoal do hip-hop. São muitas possibilidades para ter sempre um set bem diverso”, afirma o DJ. KVSH hoje mora em São Paulo e tem 130 mil seguidores em seu canal no YouTube, no qual, além de suas músicas, posta vídeos com dicas e lições de mixagem e produção musical.
A edição 2019 do Lollapalooza começou na sexta-feira e segue neste sábado (6) e domingo (7), no autódromo de Interlagos, em São Paulo. Os destaques do primeiro dia eram Tribalistas e Arctic Monkeys. Entre as principais atrações nacionais que ainda subirão nos quatro palcos do festival estão os rappers Liniker e Gabriel, O Pensador e as cantoras IZA e Letrux.
Os nomes estrangeiros mais aguardados são Snow Patrol, Lenny Kravitz, Kings Of Leon, Twenty One Pilots, além dos rappers Post Malone e Kendrick Lamar, que encerra o festival. O preço dos ingressos variava entre R$ 400 (meia) e R$ 800 (inteira), para um único dia de shows, ou R$ 900 (meia) e R$ 1800 (inteira) para o passaporte que dá acesso aos três dias. Os canais por assinatura Multishow e BIS transmitem o festival pela TV e também por streaming, em seus aplicativos.