O rapper Djonga anunciou nesta segunda-feira (18), em sua página no Facebook e em seus stories no Instagram, que o show de lançamento de seu terceiro disco solo, Ladrão, está marcado para 21 de abril, no KM de Vantagens Hall, na Savassi, com ingressos a R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). As vendas começam na sexta (22). O selo Ceia coordena o evento. Com 10 faixas inéditas, o álbum, que chegou à internet na quarta-feira (13), já soma 10 milhões de visualizações no YouTube. Sexta-feira (16), ele foi disponibilizado nas outras plataformas.
Nome de ponta da cena contemporânea da música brasileira – há muito deixou de ser apenas “artista revelação” –, o belo-horizontino, de 24 anos, faz de seu hip-hop um contundente espelho da juventude negra neste século 21. O disco Ladrão denuncia o implacável apartheid social imposto pela escravidão, mas também se orgulha de ostentar conquistas e vitórias da geração de seu autor. Quando canta que “fez Minas deixar de ser a terra do pão de queijo/ e virar terra do Djonga”, não se trata de um surto narcisista, mas da crônica de vitórias reais – dele e da moçada orgulhosa de sua negritude que vem conquistando espaço na arte, nas universidades, no mercado de trabalho e na sociedade brasileira.
“Eu sigo naquela fé/ que talvez não mova montanhas/ mas arrasta multidões/ esvazia camburões/ preenche salas de aula e corações vazios”, rima ele em Falcão, a última faixa do disco, lindamente encerrada pelo verso de Romaria na voz de Elis Regina. “Olho corpos negros no chão/ me sinto olhando espelho/ Corpos negros no trono/ me sinto olhando espelho/ Que corpos negros nunca mais/ se manchem de vermelho”, diz Djonga, num dos melhores momentos do disco.
A nova voz
Neste século 21, o rapper mineiro é a voz dos jovens pretos – assim como foi o Racionais, nos anos 1990/2000. Djonga constrói sua carreira – a partir de BH – nos palcos e na internet. Seu Ladrão é autobiográfico, expõe angústias e orgulhos. “O que adianta eu/ Preto rico em Belo Horizonte/ Se meus iguais não podem ter acesso à fonte?”, admite ele. “Meritocracia pra pobre/ É só se a frase for:/ Morreu porque mereceu!”.
“Ladrão busca de volta de quem pegou o que era da gente. Fomos nós que construímos este país”, resume o rapper, referindo-se, antes de tudo, aos negros. “Quem tem de mais é porque os outros têm de menos”, reforça. Esse “Robin Hood” do rap diz que rouba para “devolver a autoestima, o sentimento de dignidade e a alegria” a quem de direito. E não deixa barato. Filipe Ret, o convidado em Deus e o diabo na terra do sol, dispara: “É Brumadinho/ E Mariana na lama/ Indecência da grana/ Quem pensa apanha/ Fodam-se o capitão e o general/ O amor é o mais alto grau/ da inteligência humana”. Esta faixa é encerrada com belo coro da banda mineira Rosa Neon, empresariada por Djonga.
Hoje, o mineiro, que trabalhou como pedreiro e vendeu brigadeiros, é rapper premiado, depois de "ralar" muito. Respeitado por veteranos do hip-hop, como Mano Brown e Criolo, bomba na internet, ganha dinheiro, tem agenda cheia de shows. Ex-estudante de história da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), é empreendedor, investe em talentos de BH – a banda Rosa Neon e o MC Doug Now. Garante, entusiasmado, que a rapaziada do Rosa está prestes a estourar. Djonga abriu um espaço de arte e tatuagem na Zona Leste.
Produzido pelo respeitado Coyote Beatz, coproduzido por Thiago Braga e masterizado em São Paulo por Arthur Luna, o disco Ladrão conta com as participações de MC Kaio, Doug Now e Chris, além do rapper carioca Filipe Ret. A polêmica capa, que remete aos filmes do cineasta americano Jordan Peele (citado numa das faixas), mostra o rapper, coberto de sangue, segurando a cabeça decapitada de um integrante da organização racista Ku Klux Klan.