Saiu nesta quarta-feira (13) o aguardado terceiro disco do rapper belo-horizontino Djonga, de 24 anos, que se tornou nome de ponta do hip-hop nacional, depois de estrear com o álbum Heresia, em 2017. Ladrão não promete polêmica só no título, mas também na capa, em que Djonga exibe a cabeça ensanguentada (e decapitada) de um integrante da Klu Klux Klan. Ele evita "explicar" essa capa, diz esperar que todos tirem as próprias conclusões. Mas é inegável a semelhança com filmes de terror – inclusive, ele cita o norte-americano Jordan Peele, diretor do longa Corra!, o primeiro roteirista negro a levar o Oscar para casa. A capa também remete ao último filme de Spike Lee, Infiltrado na Klan, premiado com o Oscar de melhor roteiro este ano, mas Djonga avisa que não viu o longa desse genial cineasta negro.
Com 10 faixas inéditas, Ladrão pode ser ouvido no canal de Djonga no YouTube. Neste contexto do "terror" brasileiro – tragédias de Brumadinho e Mariana, polarização política, intolerância, massacre de estudantes em Suzano (SP) –, o terceiro disco de Djonga chega com rimas contundentes, a marca registrada do rapper. Ano passado, ele conquistou crítica, fãs e prêmios com o álbum O menino que queria ser Deus.
"Vou roubar o patrimônio do seu pai", avisa ele, já na faixa-título. "Ladrão é buscar de volta de quem pegou o que era da gente. Fomos nós que construímos este país", diz o rapper. "Quem tem demais é porque os outros têm de menos. Quero que todo mundo saiba que estamos aqui, não estamos mortos só porque ganharam a eleição", afirma, referindo-se ao governo Bolsonaro. "A guerra é difícil, mas estamos aí", avisa.
O rapper fala da opressão sobre os negros, mas também celebra o sucesso de jovens negros como ele – sem culpa de ganhar dinheiro com sua música, mas ciente da responsabilidade como artista. "Eu sigo naquela fé/ que talvez não mova montanhas/ mas arrasta multidões/ e esvazia camburões/ preenche salas de aula/ e corações vazios", canta ele em Falcão, a última faixa, lindamente encerrada por um trecho de Romaria na voz de Elis Regina. "Meus irmãos perderam-se na vida a custa de aventuras", são as últimas palavras do disco.
Ex-estudante de história da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), o rapper põe Canudos, Lampião e o cangaço em seu rap. O drama de Brumadinho também está lá, na voz de Filipe Ret, que divide com ele a faixa Deus e o diabo na terra do sol: "É Brumadinho/ E Mariana na lama/ Indecência da grana/ Aonde quem pensa apanha/ Fodam-se o capitão e o general/ O amor é o mais alto grau/ da inteligência humana". Ao comentar as duas tragédias da Vale, Djonga comenta que a enorme tristeza supera até a revolta. "Tristeza de ver até onde chega a miséria do ser humano, disposto a sempre ganhar a todo custo".
SAMBA
Djonga reservou uma surpresa: solta a voz, a capela, no samba MLK 4TR3V1DO: "Faça o favor/ Respeite quem pôde chegar/ Onde a gente chegou", canta o "moleque atrevido" criado na Zona Leste de BH, que decidiu não pôr os tradicionais instrumentos do samba nessa faixa.
Outro destaque é a bela e emocionada Bença, inspirada na avó dele, dona Maria Eni, mulher batalhadora, moradora do Bairro Santa Efigênia/Novo São Lucas, que criou as filhas com muita luta. Djonga homenageia a família que o formou, com direito à bênção da vovó, no final da faixa, tanto para ele quanto para os ouvintes.
Na sexta-feira (15), Ladrão será disponibilizado nas plataformas digitais, via ONErpm. Além de Filipe Ret, o disco conta com as participações de MC Kaio, Doug Now e Chris. O álbum foi produzido pelo respeitado Coyote Beatz, coproduzido por Thiago Braga (Pato Fu) e masterizado por Arthur Luna.
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