A cantora Titane e o instrumentista Túlio Mourão apresentam nesta quinta-feira (21) o show Paixão e fé – Manifesto, derivado do álbum homônimo, lançado em 2017. O projeto coloca em discussão a mineração no Brasil, a partir das consequências do rompimento da Barragem do Fundão, no subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana, ocorrido em 2015. Com a tragédia de Brumadinho, ocorrida no último dia 25, o projeto ganhou contornos ainda mais urgentes.
Leia Mais
Samuel Rosa e Rogério Flausino cobram justiça por Brumadinho'Lama', peça sobre rompimento da barragem de Mariana, volta ao cartaz após tragédia em BrumadinhoEntidades ligadas ao turismo debatem os impactos da tragédia em BrumadinhoIra! critica a 'lama que é o Brasil' e se solidariza com BrumadinhoFestivais de hardcore protestam contra tragédia em BrumadinhoShow de Lenine promete ser tributo à arte e uma voz contra a tragédia de BrumadinhoCom nome vinculado à mineração, Minas Gerais sofre desde os primórdios com a exploração de ouroInstituto Inhotim vai abrir durante todo o feriado de carnavalNovo álbum de Adriana Calcanhotto apresenta diferentes vozes e estilosRemanescentes da Gang 90 e as Absurdettes retomam a carreira da bandaThe 1975 é o grande vencedor do Brit AwardsUnem-se à dupla, na apresentação, os artistas Flávio Venturini, Aline Calixto, Pereira da Viola, Luiz Gabriel Lopes, Mariana Cavanellas, Priscila Glenda, Emílio Dragão e Renato Saldanha. Eles interpretam canções da MPB que evocam sentimentos de perda e perplexidade, recorrentes no atual cenário. O espetáculo também contará com exibição de fotografias aéreas de Júlia Pontes, que registrou áreas de mineração com seu projeto “Ó Minas Gerais”.
“Não é apenas um show. Queremos convocar as pessoas, público e artistas, para que estejam conosco, promovendo a união entre palco e plateia”, afirma Titane. O espetáculo se divide em duas partes: a primeira, informativa, traça um panorama da mineração no estado; a segunda é dedicada à música e à leitura de poemas de Carlos Drummond de Andrade sobre o tema, datados da década de 1940.
Paixão e fé foi levado ao público pela primeira vez há dois anos. Titane e Túlio Mourão apresentaram o show em 10 cidades mineiras, incluindo Mariana.
Sobre a classificação do show com caráter de manifesto, a cantora diz: “Não há outro caminho. Do contrário, vamos desaparecer debaixo da lama. Estamos cercados de bombas-relógio.
“Sempre que um artista coloca para fora o que realmente pensa e sente, isso reflete a sociedade. Não que a arte tenha essa função, mas é de sua natureza refletir o mundo em que se insere. E como nosso mundo está um caos, com a violência e o desrespeito imperando, a arte naturalmente passa a tratar desses assuntos”, aponta a cantora.
Ao definir o projeto Paixão e fé, a cantora mostra que não há mais tempo para meias palavras. “Estamos cada vez mais convictos do óbvio: esse grande ciclo de mineração, criminosa e devastadora, deve se encerrar em Minas Gerais. É preciso escancarar que é falso esse discurso de que a mineração traz progresso e que dependemos dela. Todo o benefício é insignificante perto do desastre econômico, além do ambiental, cultural e humano.”
CARNAVAL Blocos de carnaval de BH também se preparam para mostrar que a folia pode ser um espaço de denúncia e resistência. É o caso do Havayanas Usadas, cujo desfile contará com uma intervenção, formulada em parceria com o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
“Sentimos a necessidade de apoiar e dar voz ao MAB. Houve várias iniciativas de grupos artísticos e empresas para arrecadar donativos, o que é obviamente muito importante, mas queríamos fazer além de uma ação pontual”, afirma Débora Mendes, cofundadora do bloco e responsável pelo núcleo Eco Sócio Musical, que define as questões sociais abordadas pelo Havayanas Usadas.
No início do desfile, a Bateria Chinelada estará fora do cortejo, sem instrumentos, exibindo estandartes, faixas e bordados de protesto. “Nossa intenção é usar todo o nosso alcance – do bloco e de todo o carnaval – a serviço dos atingidos e daqueles que ainda estão em risco, próximos às barragens que correm risco de rompimento, como em Macacos”, diz Débora.
O Havayanas Usadas ocupa a Avenida dos Andradas, no Centro, em 4 de março (segunda-feira de carnaval). “Queremos festejar, mas também aproveitar esse momento de diversão para trazer questões sérias. É uma proposta que nos acompanha desde o início”, afirma a cofundadora do bloco. O respeito à mulher e a luta contra o assédio são pauta desde o primeiro desfile, em 2017.
O abre-alas do desfile é formado por mulheres transexuais. Membros da ONG TransVest participam, ao longo do ano, de oficinas de confecção de instrumentos musicais e percussão oferecidas pelo bloco. “São propostas que vão além do carnaval. O bloco busca a inclusão de pessoas que sempre estiveram à margem, promovendo também a sua inserção no mercado de trabalho”, diz Débora.
O tema do desfile 2019 será Soy loco por ti, carnaval, com decoração, fantasias e músicas que trazem a proposta de integração da América Latina. “As barragens são um problema não de Minas e do Brasil, mas de todo o continente.
PAIXÃO E FÉ – MANIFESTO
Show de Titane e Túlio Mourão. Com participação de Flávio Venturini, Aline Calixto, Pereira da Viola, Luiz Gabriel Lopes, Mariana Cavanellas, Emílio Dragão e Renato Saldanha. Quinta-feira (21/2), às 20h. Teatro Francisco Nunes. Parque Municipal, Av. Afonso Pena, 1.377, Centro. (31) 3277-6325. Entrada franca.
DEBATE NA PRAÇA
No sábado (23), às 10h, o Café Controverso, debate promovido no Espaço do Conhecimento UFMG mensalmente, enfocará a exploração de minério de ferro no Brasil. A abordagem deverá ir além dos desastres de Brumadinho e Mariana, retrocedendo ao surgimento da Mina do Córrego do Feijão, há mais de 50 anos, e promovendo uma avaliação sobre o impacto da atividade no ambiente e na comunidade local.
PROTESTO NO MEMORIAL
O Memorial Minas Gerais Vale, vinculado à mineradora responsável pela Barragem do Feijão, está de portas fechadas desde o dia seguinte ao rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão. A instituição chegou a anunciar sua reabertura, mas voltou atrás. “Estamos mobilizados para prestar apoio aos impactos pelo rompimento da barragem de Brumadinho e às comunidades afetadas”, é o que diz o comunicado oficial sobre a suspensão das atividades. Procurada, a assessoria do Memorial afirmou que ainda não foi definida a data de reabertura. O movimento Águas e Serras de Casa Branca agendou para o próximo domingo (24), quando se completam 30 dias da tragédia, um “ato pelas vítimas da barragem do Córrego do Feijão”. A convocação estabelece o Memorial da Vale como ponto de encontro e pede aos participantes que se vistam de preto.
"As cidades estão entregues à mineração, porque a própria atividade não as permite consolidar outro tipo de atividade econômica. Não há investimento significativo no turismo, por exemplo, sendo que nossa cultura é uma de nossas coisas mais exuberantes. Precisamos encontrar formas de desenvolvimento que sejam limpas e tenham como objetivo o bem comum do estado"
. Titane,
cantora
"Nossa intenção é usar todo o nosso alcance – do bloco e de todo o carnaval – a serviço dos atingidos e daqueles que ainda estão em risco, próximos às barragens que correm risco de rompimento, como em Macacos"
. Débora Mendes,
cofundadora do Havayanas Usadas