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BaianaSystem mistura água, fogo e terra em 'O futuro não demora'

Maior ilha da Baía de Todos os Santos, Itaparica fica a 13 quilômetros de Salvador por via marítima. É cercada por arrecifes de corais, tem uma belíssima vegetação tropical, além de manguezais e coqueirais. Por isso ganhou o apelido de “caribe baiano”. Foi nesse cenário que tomou forma o novo trabalho do BaianaSystem. O futuro não demora, terceiro álbum do grupo baiano, foi concebido na terra do escritor João Ubaldo Ribeiro (1941-2014). O mergulho nessa ilha moldou a história do disco, disponível desde a sexta-feira passada (15) nas plataformas digitais. Em breve, as lojas deverão receber a versão física do disco.

Roberto Barreto (guitarra baiana) explica que o trabalho anterior, Duas cidades (2016), teve um modo de feitura oposto. “A gente já estava tocando as faixas ao vivo, em shows, e aí teve esse processo do (produtor) Daniel Ganjaman ir para São Paulo organizar as ideias e gravar.
Agora, a coisa se inverteu. Todas as músicas já estavam prontas e coube a ele pegar aquele material bruto e comunicar no formato de um disco.”

O guitarrista comenta sobre a importância do contato do BaianaSystem – formado ainda por Russo Passapusso (voz) e Seko Bass (baixo) – com Itaparica. “O convívio lá com todos os envolvidos nessa iniciativa, com os artistas da região, como o pessoal do Maré de Março, movimento sócio-ambiental formado por jovens da ilha, trouxe para a gente uma visão da importância de Itaparica em sua relação imprescindível com a história do Brasil, com o entendimento de nossa ancestralidade. E isso nos permitiu um outro olhar para Salvador, que é o nosso berço, literalmente, já que dali dá para ver um outro ângulo da cidade.”

O álbum abre com a vibrante Água e traz a participação de da dupla Antônio Carlos e Jocafi, autores de sucessos da MPB como 'Você abusou'. Os dois assinam a faixa junto com Roberto Barreto, Ubiratan Marques e o vocalista Russo Passapusso. Antônio Carlos e Jocafi são autores também de Salve, esta em parceria com B Negão, Russo Passapusso e Seko Bass. Salve saúda Zulu Nation, Nação Zumbi, Ilê Aiyê e a Orkestra Rumpilezz.

O futuro não demora é pródigo convidados especiais.
Estão presentes o maestro Ubiratan Marques, a Orquestra Afrosinfônica, o mestre Lourimbau, Curumin, o grupo Samba de Lata de Tijuaçú, o rapper Vandal de Verdade e Manu Chao.

“As participações vieram de uma maneira muito natural. A gente não chegou e falou: ‘Ah, agora vamos contar com fulano’. O próprio disco foi nos guiando. No caso de Antônio Carlos e Jocafi, eles já vinham há um tempo compondo com o Russo e o Manu Chao. A gente percebeu que uma das canções, Sulamericano, tinha uma pegada muito a ver com ele. Como já tínhamos conhecido uma pessoa que trabalhava com ele quando fomos à Europa, acabou que deu certo”, conta.

DA ÁGUA AO FOGO

Roberto avalia que o eixo que guia esse trabalho do BaianaSystem ficou claro para o seu público. “Os comentários são muito bacanas, porque a galera percebeu o fio condutor, que há uma história ali”, diz. Não é à toa que Água é a primeira música de O futuro não demora e Fogo, a última.
Entre a água e o fogo, há o Melô do centro da Terra, criada para a trilha sonora do filme Trampolim do forte há 10 anos e que nunca havia sido registrada.

“É como se ela dividisse o disco em lado A e lado B – Água e Fogo, representando elementos vitais para o entendimento dessa obra e suas ramificações”, diz o guitarrista. O nome do álbum foi inspirado por um verso de Fogo. Inicialmente, os integrantes do BaianaSystem pensaram em Salve para batizar esse seu terceiro disco. “Dava aquele sentimento de saudações às pessoas, aos mestres que estavam participando. Mas, como também é um momento de completar um ciclo, já que estamos completando 10 anos de estrada, Salve não estava dando todo esse entendimento da água, do fogo, das idas e vindas, de movimento, de diásporas. O futuro não demora amarra o disco de uma forma mais abrangente, como se a gente estivesse olhando para a nossa ancestralidade e plantando agora para que algo possa vir depois”, diz Roberto.

O disco traz uma mistura de ritmos percussivos, beats eletrônicos, riffs de guitarra baiana, ijexá (praticado nos terreiros de candomblé), samba-reggae, música latina e hip-hop. Questionado se o trabalho contém alguma influência de Minas Gerais, Roberto Barreto diz que os músicos e os ritmos mineiros são grandes influências do BaianaSystem e que, se não estão presentes diretamente, estão de forma implícita. “Minas, seus tambores, raízes e seus artistas são grandes referências para a gente. Pode não transparecer, mas tudo isso está ali de alguma maneira. Assim como a Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro, Minas Gerais é um dos estados com maior estrutura e tradição na música popular brasileira, pela forma como foram colonizados, pela forte presença negra”, afirma.

SEGUNDO SOL

O BaianaSystem, que já tinha algumas de suas músicas em trilhas de cinema, como no longa Tungstênio, de Heitor Dhalia, estreou no ano passado numa novela da Globo.
A música O segundo sol, tema de abertura da trama das 21h, Segundo sol, de João Emanuel Carneiro, ganhou nova roupagem. “O fato de ser uma novela que se passava na Bahia e ainda por ‘gravar’ com Cássia Eller uma música de Nando Reis, tudo isso contribuiu para que a gente topasse. E ficou muito bacana o resultado”, diz.

A turnê do novo trabalho só começará depois do Carnaval, festa tradicional na agenda do BaianaSystem. O trio elétrico da banda, O Navio Pirata, costuma desfilar todos os dias da folia em Salvador, mas, neste ano, vai se apresentar apenas um dia na capital baiana. Nos demais, o Navio segue para Rio de Janeiro e Recife. “Imagino que vamos tocar alguma coisa do novo disco, mas o carnaval, por si, já tem um trabalho diferenciado. É sempre uma alegria participar dessa festa.”


O futuro não demora
Selo: Máquina de louco
BaianaSystem
Faixas: 13
Disponível em todas as plataformas digitais
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