Assim que foi lançado, no final de setembro, o álbum A pele do futuro, de Gal Costa – 40º disco da cantora de 73 anos e 53 de carreira – chamou a atenção por dois aspectos: a roupagem disco, algo até então inédito em sua discografia, e a dobradinha com Marília Mendonça na canção Cuidando de longe, um encontro entre a grande voz feminina brasileira e a diva do neossertanejo, considerado improvável por muitos fãs (de ambas).
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É Dê um rolê (Moraes Moreira e Luiz Galvão), pinçado de Fa-tal, que dá origem a essa viagem de passado, presente e futuro. Na sequência, a costura criada por Preto permite um diálogo com a nova Mãe de todas as vozes, blues com acento soul de Nando Reis. A pele é do futuro, mas muito do passado de Gal permeia o repertório. Caetano Veloso, que não apareceu no novo disco, se faz presente com antigas canções, como Mamãe, coragem (com letra de Torquato Neto), Vaca profana e London, London.
INÉDITAS Músicas de uma fase posterior – final dos anos 1970, início dos 1980 – que tiveram franco sucesso comercial, foram também recuperadas neste show: Chuva de prata (Ed Wilson e Ronaldo Bastos), Balancê (João de Barro e Alberto Ribeiro) e Festa do interior (Moraes Moreira e Abel Silva).
Para além das inéditas do disco, o show ainda traz canções que Gal nunca havia interpretado.
Mas inusitada é a interpretação de Gal para 'O que é que há', hit do início da carreira de Fábio Jr. – é a primeira vez que ela incursiona no mais romântico dos atores/cantores. Com a palavra, a própria Gal. “Nunca tinha cantado Fábio Jr. As pessoas adoram. Isso foi coisa do Marcus. Ele me sugeriu, experimentei para ver se gostava.
O tom dance music de 'A pele do futuro' nasceu de uma forma prosaica. Gabriel, o filho de 13 anos de Gal – “A luz da minha vida, minha alegria”, ela diz – adora, segundo a cantora, o soul de Earth, Wind & Fire e Gloria Gaynor. Um dia, o garoto chegou para ela comentando sobre I will survive, o hit impagável de Gaynor, já registrado em diferentes versões. Colocou a mãe à prova, questionando se ela conhecia a canção.
“Aí pensei que deveria gravar música de discoteca, algo que sempre quis”, diz ela, lembrando-se do passado de boates que frequentava na época em que morava no Rio de Janeiro.
“Eles gostam principalmente do meu trabalho dos anos 1960.” A intenção de cantar agora músicas que gravou há 40 anos Gal assume que é também uma forma de mostrar um pouco do que fez para o jovem “que não teve a possibilidade de me ver na época cantando no palco. (O show) É o registro da minha história, que é rica e passou por vários momentos”.
Por falar em momento, o Brasil de hoje e do futuro próximo ganha poucas palavras de Gal. “Não sou vidente, mas acho que as coisas tendem a piorar. A gente não sabe o que vai acontecer, mas não é só o Brasil que está caótico, mas o mundo todo.”
Para ela, é hora de militar, “aqueles que gostam, que se sentem na obrigação de militar. Eu, de certa forma, tenho minha história, minha carreira, que é revolucionária. Mas não sou militante, no sentido de um ser político. Fui militante através da mudança, da transformação”.
Gal acha que, hoje, canta melhor do que antes. “À medida que a gente amadurece, faz as coisas melhor.” O futuro de Gal já chegou. E há um ponto em que passado, presente e futuro sempre irão se encontrar. “A vontade de cantar.
A PELE DO FUTURO
Show de Gal Costa. Sábado (16), às 21h, no Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Ingressos: Plateia 1: esgotado; Plateia 2: R$ 200 e R$ 100 (meia); Plateia superior: R$ 160 e R$ 80 (meia). À venda na bilheteria e pelo site ingressorapido.com.br (com taxa de conveniência).
FILME E SÉRIE
Uma cinebiografia de Gal Costa, que terá Sophie Charlotte interpretando a cantora, deverá se tornar também uma série. A exemplo do que foi feito com o filme Elis, a Globo negocia um formato da produção em episódios, com cenas exclusivas. A direção será de Dandara Ferreira, que dirigiu a série documental O nome dela é Gal (2017). Dandara é filha do secretário municipal de Cultura de BH, Juca Ferreira.
REGISTRO AO VIVO
Assim como ocorreu com Gal estratosférica (2016), que ganhou, um ano depois de seu lançamento, o registro ao vivo da turnê homônima, A pele do futuro também será gravado. O registro será nos shows de 22 e 23 de março, na Casa Natura Musical, em São Paulo.
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