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No começo da década de 1940, em São Paulo, garotos de 12 a 14 anos começaram a tocar samba despretensiosamente, liderados por Arnaldo Rosa. Eram o Grupo do Luar, cuja primeira formação reunia Arnaldo, Antonio Espanha (tamtam), Benedito Espanha (afoxé), Zezinho (violão tenor) e Bruno Michelucci (pandeiro). A virada ocorreu quando a turma participou de 'A hora da bomba', programa de calouros da Rádio Bandeirantes. “Eles ganharam. O jornalista Vicente Leporace, que se tornou padrinho do grupo, promoveu um concurso para escolher o novo nome. Um ouvinte, que nunca foi identificado, sugeriu Demônios da Garoa”, conta Dedé.
Na opinião do mineiro, o segredo do sucesso do Demônios da Garoa está na maneira singular de interpretar canções, sobretudo as de Adoniran Barbosa, como Trem das onze e Saudosa maloca. “Arnaldo Rosa inovou na forma de cantar e falar, inspirado no jeito como os engraxates da Praça da Sé, em São Paulo, se comunicavam. Expressões como ‘quais, quais, quais’ deram essa identidade, a coisa paulistana. Se você ouve os primeiros acordes das nossas músicas, já sabe que é Demônios da Garoa”, diz Dedé.
Os integrantes da formação original já morreram. Hoje, o grupo reúne Dedé Paraizo (violão sete cordas), Izael Caldeira (timba), Ricardinho (pandeiro) e Sérgio Rosa (afoxé) – filho e neto, respectivamente, do fundador Arnaldo –, além de Canhotinho (cavaquinho), afastado por problemas de saúde. “O médico disse que em breve ele vai voltar. Mestre do cavaquinho, tem 80 anos e desde 1962 está no grupo. Inclusive, Canhotinho participou da gravação original de Trem das onze”, comenta Dedé.
O grupo incorporou novidades, como a maneira de tocar e a presença nas redes sociais. “A gente tem de se adaptar, mas sem perder o nosso estilo. Hoje, contamos com uma banda de apoio que tem outro neto do Arnaldo Rosa, o Serginho. Usamos mais instrumentos – bateria, baixo e percussão –, mas a tradição vocal permanece. Pais, filhos e netos vão a nossos shows. Não há quem não se empolgue com o Demônios da Garoa. Estamos aí há 76 anos e, pelo visto, não vamos acabar nunca”, avisa Dedé. O grupo está em turnê com Toquinho & Demônios da Garoa – De Adoniran a Vinicius, que deve chegar a BH no meio do ano.
MEL VERDE
O Trio Irakitan está há mais de meio século nos palcos. Criado em 1950, em Natal (RN), por Edson França, o Edinho (violonista, arranjador e cantor), João Costa Neto e Paulo Gilvan Bezerril (harmonia vocal e percussão), o conjunto ganhou esse nome – mel verde, em tupi – do historiador e jornalista Câmara Cascudo.
“Nos anos 1940 e 1950, trios eram muito comuns. Eu mesmo fazia parte do Trio Guarani. Quando o Edinho morreu (ele se matou, aos 36 anos), fui convidado, mas só entrei um ano depois, porque estava em turnê com o Guarani”, relembra Antonio Santos Cunha, o Tony Mell. Aos 82 anos, ele é arranjador, violonista e primeira voz.
O Irakitan estourou na década de 1960, depois de uma temporada no exterior, devido a um disco de boleros. “O trio era muito focado em música brasileira e folclore, mas o público estava carente de boleros. Quando eles voltaram ao Brasil, foram contratados pela Rádio Nacional, a TV Globo da época, e participaram de filmes de sucesso”, diz Tony. A formação mudou, mas ele permaneceu.
Com 50 discos lançados, o Irakitan mantém agenda de shows e tem página no Instagram. Autointitula-se “o maior trio vocal e instrumental do Brasil de 1950 até os dias atuais.” Tony comemora essa longevidade: “Com tanto artista aparecendo todos os dias, acabam não valorizando os mais antigos. Mantemos praticamente as mesmas características da formação original e não paramos de fazer shows. No Brasil, isso é um fenômeno.”
Como o Demônios da Garoa, o Irakitan passou por “modernizações”. A abertura dos shows é praticamente a mesma – Hino ao músico, de Chico Anysio –, mas o teclado “faz-tudo” executa o som de vários instrumentos. “Nosso público principal é gente da nossa época, mas a nova geração tem curtido também”, destaca Tony. Ele trabalha no songbook com as 400 canções gravadas pelo trio. “Esse projeto demanda muito tempo e dedicação, estamos em busca de uma editora para publicá-lo”, conta. Além de Tony, o trio conta com Valmir Maia, de 84, e Hélio Rocha, de 59.
BOSSA NOVA
Em 1942, Ismael Netto criou um quinteto com a alma do Rio de Janeiro, que revolucionou a maneira brasileira de cantar. A primeira formação oficial reunia Ismael (arranjador, primeira voz e violão), seu irmão Severino Filho (segunda voz e percussão), Emmanoel Furtado, o Badeco (terceira voz e violão), Waldir Viviani (percussão e quinta voz) e Jorge Quartarone, o Quartera (quarta voz e percussão). O nome: Os Cariocas.
Os cinco chamaram a atenção pela forma de interpretar bossa nova. Aliás, ao lado de Vinicius de Moraes, Tom Jobim e João Gilberto, Os Cariocas apresentaram Garota de Ipanema pela primeira vez. O show histórico ocorreu em 1962, na Boate Au Bon Gourmet, em Copacabana.
A formação mudou ao longo do tempo. Em 2016, com a morte de Severino Filho, último remanescente do quinteto original, o grupo passou a se chamar Quarteto do Rio. A atriz Lúcia Veríssimo, filha de Severino, entendeu que, com a morte do pai, o DNA vocal de Os Cariocas não existia mais.
“A denominação mudou, mas a essência permanece. O Quarteto do Rio conta com três integrantes das últimas formações d’Os Cariocas: eu, na voz e violão, o Neil Teixeira (baixo e voz) e o Fabio Luna (voz e bateria). O Leandro Freixo (voz e teclados) entrou mais recentemente”, explica Eloi Vicente, de 70.
Sobrinho do fundador Quartera, Eloi diz que a grande ousadia do grupo foram a sonoridade e as harmonias mais sofisticadas, motivo de seu sucesso. “Quando eles surgiram, havia uma série de conjuntos vocais no Brasil. Os Cariocas tinha um diferencial: arranjos vocais especiais, com uma voz em um tom mais acima”, defende.
Entre os trabalhos recentes do quarteto está o disco que celebra os 80 anos de Roberto Menescal. Em breve, será lançado álbum com João Bosco, Yamandu Costa e Pedro Miranda. Desde 1994 no conjunto, Eloi diz que nasceu ouvindo Os Cariocas por conta do tio Quartera.
“Como já era músico e conhecia a fundo os arranjos e as músicas, eles me chamaram para substituir o Badeco, que ficou um tempo afastado. Depois, entrei definitivamente na vaga do Edson. Cheguei a cantar ao lado do meu tio”, revela Eloi Vicente.
"Estamos aí há 76 anos e, pelo visto, não vamos acabar nunca"
. Dedé Paraizo,cantor do Demônios da Garoa