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Recentemente, durante conversa entre o produtor e grande amigo de Naná Geraldinho Magalhães e o fotógrafo Adriano Fagundes, a história dos itens “perdidos” em NY veio à tona. Descobriu-se que Rich, grande fã do percussionista, já havia tentado localizar os herdeiros em outras ocasiões. Logo se dispôs a doá-los à família Vasconcelos. “É muito significativo, não só a história em si, sobre o coração desse cara americano, mas o resgate de um pedaço da memória da música brasileira”, diz Geraldinho. Os 16 instrumentos, bem como parte do acervo deixado no Brasil, serão futuramente expostos no Musical Instrument Museum, no Arizona (EUA).
Patrícia Vasconcelos se lembra da emoção do encontro. “Ele (Rich) sentia vontade de devolvê-los porque essa energia não era dele. Ficamos muito felizes com esta sensibilidade.” Ela fez o caminho inverso do marido e mudou-se com a filha Luz Morena Vasconcelos para Nova York. Atualmente, cursa psicologia na Borough of Manhattan Community College – a meta é produzir uma tese sobre a obra de Naná e a musicoterapia. “Nova York é o centro de tudo, daqui ele foi para o mundo. De fato, aqui ele começou a se projetar, mundialmente falando”, explica ela sobre sua decisão.
SOCIAL
Enraizado na música e no extenso trabalho social, o legado de Naná Vasconcelos perpassa a ressignificação da percussão e a reinvenção das sonoridades. “Quando falava do Amazonas, ele ‘fazia chover’ no show – por meio dos sons. O público saía da apresentação refletindo sobre o meio ambiente. Quando as pessoas ainda não se davam conta, ele já levantava essa bandeira”, lembra a viúva Patrícia Vasconcelos.
Um dos instrumentos recuperados é uma peça de lata utilizada para refletir a luz. “Em determinados momentos do show, ele virava o refletor para que a luz batesse nele e explodisse na plateia causando um efeito com a música. Ele já tinha essa preocupação nos anos 1970”, explica o produtor. Entre os bens resgatados em NY, há ainda agogô, caxixi e objetos personalizados e indígenas.
Para Geraldinho Magalhães, Naná Vasconcelos foi contra todas as apostas e elevou os padrões da música brasileira. “Ele é um exemplo por ter se tornado um gigante sendo negro em um país racista, vindo de uma cidade preconceituosa como Recife”, observa. Conta que um dos maiores problemas da sociedade brasileira é não valorizar o que está sendo feito, o chamado “complexo de vira-lata”. “Exatamente o aposto dele. Naná era grande e sabia ser grande”, afirma.
* Estagiária sob supervisão do subeditor Pablo Pires Fernandes