Na ponte entre Brasil e Estados Unidos, o percussionista pernambucano Juvenal ‘Naná’ Vasconcelos (1944-2016) cravou sua marca como pioneiro na integração da consciência ecológica com a música. No palco, Naná era conhecido pelo uso de instrumentos de origem indígena e afro-brasileira em suas apresentações – caxixi, gongo, cuíca e berimbau, entre outros. Foi apelidado pela crítica americana de 'Jungle man'. Entre tantos feitos, foi vencedor do Grammy por oito vezes, eleito o melhor percussionista do mundo pela revista de jazz Down Beat em nove ocasiões, e participou da autoria da trilha da animação brasileira indicada ao Oscar 'O menino e o mundo'. Ao lado do grande amigo Milton Nascimento, teve participação importante no Clube da Esquina.
Durante os quase 30 anos vividos em Nova York, o pernambucano lançou discos, atuou como solista ao lado de grandes orquestras, apresentou-se em diversos países e dividiu palco com grandes nomes da música, como Pat Metheny, B.B. King, Paul Simon e Jean-Luc Ponty. Quando retornou ao Brasil, para morar com a esposa, Patrícia Vasconcelos, em 1999, parte de seus instrumentos exóticos permaneceu em um estúdio nova-iorquino. Em 2005, as peças foram colocadas à venda e adquiridas pelo músico norte-americano Rich Stein – transação ainda controversa, pois, de acordo com Patrícia, não há confirmação quanto ao consentimento do marido.
Recentemente, durante conversa entre o produtor e grande amigo de Naná Geraldinho Magalhães e o fotógrafo Adriano Fagundes, a história dos itens “perdidos” em NY veio à tona. Descobriu-se que Rich, grande fã do percussionista, já havia tentado localizar os herdeiros em outras ocasiões. Logo se dispôs a doá-los à família Vasconcelos. “É muito significativo, não só a história em si, sobre o coração desse cara americano, mas o resgate de um pedaço da memória da música brasileira”, diz Geraldinho. Os 16 instrumentos, bem como parte do acervo deixado no Brasil, serão futuramente expostos no Musical Instrument Museum, no Arizona (EUA).
Patrícia Vasconcelos se lembra da emoção do encontro. “Ele (Rich) sentia vontade de devolvê-los porque essa energia não era dele. Ficamos muito felizes com esta sensibilidade.” Ela fez o caminho inverso do marido e mudou-se com a filha Luz Morena Vasconcelos para Nova York. Atualmente, cursa psicologia na Borough of Manhattan Community College – a meta é produzir uma tese sobre a obra de Naná e a musicoterapia. “Nova York é o centro de tudo, daqui ele foi para o mundo. De fato, aqui ele começou a se projetar, mundialmente falando”, explica ela sobre sua decisão.
SOCIAL
Enraizado na música e no extenso trabalho social, o legado de Naná Vasconcelos perpassa a ressignificação da percussão e a reinvenção das sonoridades. “Quando falava do Amazonas, ele ‘fazia chover’ no show – por meio dos sons. O público saía da apresentação refletindo sobre o meio ambiente. Quando as pessoas ainda não se davam conta, ele já levantava essa bandeira”, lembra a viúva Patrícia Vasconcelos.
Um dos instrumentos recuperados é uma peça de lata utilizada para refletir a luz. “Em determinados momentos do show, ele virava o refletor para que a luz batesse nele e explodisse na plateia causando um efeito com a música. Ele já tinha essa preocupação nos anos 1970”, explica o produtor. Entre os bens resgatados em NY, há ainda agogô, caxixi e objetos personalizados e indígenas.
Para Geraldinho Magalhães, Naná Vasconcelos foi contra todas as apostas e elevou os padrões da música brasileira. “Ele é um exemplo por ter se tornado um gigante sendo negro em um país racista, vindo de uma cidade preconceituosa como Recife”, observa. Conta que um dos maiores problemas da sociedade brasileira é não valorizar o que está sendo feito, o chamado “complexo de vira-lata”. “Exatamente o aposto dele. Naná era grande e sabia ser grande”, afirma.
* Estagiária sob supervisão do subeditor Pablo Pires Fernandes
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Recentemente, durante conversa entre o produtor e grande amigo de Naná Geraldinho Magalhães e o fotógrafo Adriano Fagundes, a história dos itens “perdidos” em NY veio à tona. Descobriu-se que Rich, grande fã do percussionista, já havia tentado localizar os herdeiros em outras ocasiões. Logo se dispôs a doá-los à família Vasconcelos. “É muito significativo, não só a história em si, sobre o coração desse cara americano, mas o resgate de um pedaço da memória da música brasileira”, diz Geraldinho. Os 16 instrumentos, bem como parte do acervo deixado no Brasil, serão futuramente expostos no Musical Instrument Museum, no Arizona (EUA).
Patrícia Vasconcelos se lembra da emoção do encontro. “Ele (Rich) sentia vontade de devolvê-los porque essa energia não era dele. Ficamos muito felizes com esta sensibilidade.” Ela fez o caminho inverso do marido e mudou-se com a filha Luz Morena Vasconcelos para Nova York. Atualmente, cursa psicologia na Borough of Manhattan Community College – a meta é produzir uma tese sobre a obra de Naná e a musicoterapia. “Nova York é o centro de tudo, daqui ele foi para o mundo. De fato, aqui ele começou a se projetar, mundialmente falando”, explica ela sobre sua decisão.
SOCIAL
Enraizado na música e no extenso trabalho social, o legado de Naná Vasconcelos perpassa a ressignificação da percussão e a reinvenção das sonoridades. “Quando falava do Amazonas, ele ‘fazia chover’ no show – por meio dos sons. O público saía da apresentação refletindo sobre o meio ambiente. Quando as pessoas ainda não se davam conta, ele já levantava essa bandeira”, lembra a viúva Patrícia Vasconcelos.
Um dos instrumentos recuperados é uma peça de lata utilizada para refletir a luz. “Em determinados momentos do show, ele virava o refletor para que a luz batesse nele e explodisse na plateia causando um efeito com a música. Ele já tinha essa preocupação nos anos 1970”, explica o produtor. Entre os bens resgatados em NY, há ainda agogô, caxixi e objetos personalizados e indígenas.
Para Geraldinho Magalhães, Naná Vasconcelos foi contra todas as apostas e elevou os padrões da música brasileira. “Ele é um exemplo por ter se tornado um gigante sendo negro em um país racista, vindo de uma cidade preconceituosa como Recife”, observa. Conta que um dos maiores problemas da sociedade brasileira é não valorizar o que está sendo feito, o chamado “complexo de vira-lata”. “Exatamente o aposto dele. Naná era grande e sabia ser grande”, afirma.
* Estagiária sob supervisão do subeditor Pablo Pires Fernandes