Com ao menos três orquestras ativas – Filarmônica de Minas Gerais, Sinfônica de Minas Gerais e Orquestra de Câmara Sesiminas –, a capital mineira atravessa um momento fértil na música erudita, que se reflete no interesse crescente de jovens instrumentistas em se profissionalizar e no aumento das oportunidades para aperfeiçoamento profissional. Um exemplo dessa tendência é o Mozarteum Brasileiro, iniciativa que desenvolve atividades no âmbito da música de concerto e criou, em 2017, a Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro (OAMB).
A orquestra seleciona bolsistas no Brasil e no exterior. Em 2018, a orquestra recebeu 316 candidaturas. Entre os músicos que selecionou, cinco são mineiros: André Dias Ferreira (contrabaixo), Bruno Araújo Ribeiro (violino), Enzo Bernardes Cypriani Oliveira (violoncelo), Isabelle Menegasse Silva (trompa) e Josafá Ferreira Vitor (viola). A formação da Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro é renovada anualmente, e os bolsistas devem passar por novo teste para continuar no grupo.
Isabelle Menegasse Silva, de 25 anos, natural de Vale do Jatobá, na Região do Barreiro, conseguiu manter seu lugar na orquestra paulista. “Ser escolhida novamente é a consolidação do trabalho desenvolvido este ano. Aprendi muito com os profissionais, desde ter confiança no palco a lidar com uma rotina pesadíssima de ensaios”, afirma. Ela conta que integrar a Mozarteum ajudou a abrir outras portas em sua carreira. Hoje ele faz parte também da Orquestra Experimental de Repertório, em São Paulo, para onde se mudou.
No entanto, Isabelle consegue conciliar o trabalho na capital paulista com apresentações esporádicas da Orquestra Multiplayer, em Minas. Aqui, ele passou pelas orquestras da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pela Sinfônica de Minas e a Sinfônica da Polícia Militar, além de atuar como chefe de naipe da Orquestra Sinfônica de Betim.
A tradição familiar foi decisiva para a trajetória de Isabelle. “Meu pai começou os estudos em canto, mas parou por falta de condições na época. Como ele regia o coral da igreja e fazia trabalhos voluntários, esse assunto sempre rodeou minha vida”, conta. A profissão que a trompista escolheu é motivo de preocupação em casa. “Meus pais têm um pouco de medo, porque é preciso viajar demais, tem que ter um alto grau de desprendimento. Porém, todas as vezes que eles me veem tocar, esquecem disso”, diz. Devido à distância, os pais de Isabelle costumam acompanhar as apresentações dela por meio de transmissões televisivas ou on-line. “Eles ficam muito emocionados vendo onde consegui chegar com meu esforço. Nessas horas, o coração dos pais amolece.”
HERANÇA
André Dias Ferreira, de 23, também considera o apoio da família o pilar de sua formação. O pai é ferroviário aposentado e a mãe, bordadeira. André diz não se recordar de nenhum momento em que não houvesse música em casa. “Minha mãe canta e meu pai sempre tocou violão. Tenho filmagens ainda no berço com meu pai tocando bossa nova para mim”, conta. Aos 9 anos, quando quis aprender um instrumento, sua primeira opção foi o violão.
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“Quando você conhece alguém e pergunta: qual estilo de música você gosta?, já assume que a pessoa gosta de música. É impossível achar quem não goste”, diz ele. André encara a participação na Orquestra Mozarteum como uma grande oportunidade de crescimento profissional. “A orquestra é nova, mas já tem nome, recebeu grandes solistas da Europa. E os bolsistas têm a oportunidade de tocar na Sala São Paulo, uma das maiores da América Latina”, aponta.
MINEIROS
Depois de se mudar para a capital paulista, Isabelle percebeu como a carência de orquestras jovens prejudica a formação de instrumentistas mineiros. “Em São Paulo, tenho visto adolescentes de 15 anos que saem de sua cidade para estudar, tocar em uma orquestra jovem e se formar profissionalmente. Em Minas, a cultura é diferente, a gente começa mais velho”, comenta.
A limitação de oportunidades é uma das razões que fizeram o violinista Bruno Araújo Ribeiro, de 28, decidir cursar mestrado em outro país. “O mercado é muito competitivo. Você não tem previsão de como ele estará daqui a uns dois anos”, diz. Ele vê a seleção da Mozarteum como um ponto de partida para a carreira profissional. “É uma grande oportunidade para a transição da graduação para o meio profissional. E a orquestra ainda promove concursos de bolsas para mestrado.”
Embora esteja feliz com sua experiência em São Paulo, Isabelle diz que basta uma porta ser aberta em Minas para ela retornar ao seu estado natal. O sonho da trompista é integrar a Sinfônica ou a Filarmônica de Minas Gerais. “Precisamos de pessoas que fiquem aqui para lutar pela música de Minas, porque o estado é mais precário, a verba destinada à música é menor. Também tenho vontade de voltar para estimular o jovem a tocar trompa, pois esse instrumento está virando raridade”, conta.
Neste 2019, a Mozarteum tem concertos programados no 8º Festival de Música em Trancoso, na Bahia, onde se apresentará nos dias 29 e 30 de março, e também na Sala São Paulo, em 22 e 24 de junho.
*Estagiária sob a supervisão da editora Silvana Arantes
"Minha mãe canta e meu pai sempre tocou violão. Tenho filmagens ainda no berço com meu pai tocando bossa nova para mim”
. André Dias Ferreira,
contrabaixista
"(A Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro) É uma grande oportunidade para a transição da graduação para o meio profissional. E a orquestra ainda promove concursos de bolsas para mestrado”
. Bruno Araújo Ribeiro,
violinista
"Meus pais têm um pouco de medo, porque é preciso viajar demais, tem que ter um alto grau de desprendimento. Porém, todas as vezes que eles me veem tocar, esquecem disso”
. Isabelle Menegasse Silva,
trompista