“Mundo animal, é o poder do capital/ É um jogo vulgar, muitos matam para ganhar/ Matam os animais, exterminam os vegetais/ Religião em excesso, me sinto enjoado, fui batizado/ Implantam multinacionais, destroem estatais, é o poder dos maiorais.” A letra de Mundo animal, em poucos versos, toca em questões atuais de grande ressonância midiática, que pautam debates políticos e movimentos sociais. No entanto, foi gravada há 30 anos, pela banda Atack Epiléptico. Grande ícone do punk rock belo-horizontino, eles são prova contundente de que o movimento “não está morto”, tal qual alertam adesivos, pichações e até estampas de camisetas mundo afora, sobre essa forte contracultura que também encontrou seu nicho na capital mineira nos anos 1980 e preserva os ideais libertários até hoje.
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Skank relembra o início da carreira em show inéditoRogério Flausino e Wilson Sideral homenageiam Cazuza em show em BHShow inédito: 'Cantadores' reúne Xangai, Renato Teixeira e Geraldo AzevedoAmeba é o único remanescente dos primórdios da banda, mas hoje tem a companhia de outros contemporâneos de movimento que, assim como ele, não deixaram o tempo levar a postura combativa contra as injustiças sociais e sistemas políticos, alvos dos protestos que fazem nas músicas. Ou melhor, nas “anti-músicas”, como define o próprio cantor.
GRINDCORE
A efervescência criativa e rebelde do underground belo-horizontino nos anos 1980 era dominada pelo heavy metal, cujo expoente máximo foi o Sepultura, além de outras bandas de alcance internacional, como Sarcófago, Overdose e Mutilator. No entanto, também havia espaço para o punk, movimento que, em São Paulo, explodia musicalmente através do Cólera e do Ratos de Porão.
Na época, assumir a filosofia do punk e sua indumentária subversiva à estética convencional, com os cabelos coloridos, jaqueta de couro, trajes rotos, piercings e tatuagens, tudo bem antes de isso se tornar moda, chegava a ser um risco. “Ser punk em Minas Gerais na década de 1980 era muito difícil. Sofremos preconceito, incompreensão, perseguição da polícia, discriminação da sociedade, mas atravessamos esses anos levantando a bandeira do anarquismo, confrontando a sociedade conservadora, machista, chauvinista e racista. O Atack Epiléptico é uma metralhadora giratória influenciada pela desgraça social”, relembra Ameba.
Ele conta que, mesmo entre outros grupos contestadores, a aceitação era complicada. “Tivemos nossos atritos com o pessoal ‘headbenger’ do metal, mas felizmente isso foi superado e hoje convivemos em harmonia.
Em sua constante batalha musical e comportamental, o Atack Epiléptico, bem como outras bandas punks, grita contra a violência policial, o militarismo, os governos de um modo geral, as religiões, a indústria da carne, os preconceitos e desigualdades de gênero, raça e classe social. Temas em voga atualmente e já levantados por eles no passado. No álbum recentemente relançado, Indústria da seca fala sobre o descaso do governo federal com o Nordeste. Apelo de mercado critica a prostituição e a exploração sexual de mulheres, enquanto Economia roubada protesta contra o imperialismo e o capital estrangeiro.
ATIVISMO
“Fomos persistentes na proposta do ‘faça você mesmo’. Estivemos lado a lado com diversos grupos sociais, como o Movimento Negro Unificado, movimentos de mulheres, a causa do veganismo, sempre publicando fanzines e organizando passeatas”, detalha o mais antigo integrante da banda, que hoje tem Carl Dornellas (baixo), Ronaldo Seth (guitarra) e Morto Drums (bateria).
Com pelo menos 30 anos dedicados ao movimento punk e ao rock extremo, Ameba vê evolução nas relações sociais e na aceitação da ideia defendida por ele e seus companheiros. “O anarquismo tem várias vertentes e o movimento punk vários nichos. Hoje, há mais compreensão, temos mais autonomia para organizar eventos, gravar discos, tudo isso é mais possível do que há 30 anos. Estamos sempre refazendo e reformulando”, compara.
Acesse o portal Uai E%2b e confira o material de vídeo da reportagem.
AQUI NÃO TEM NATAL
Shows com Atack Epiléptico, Slama, Desespero e Estática
Sábado (22), às 14h, na Marcenaria Artística (Rua Itaiumi, 1.033, Nova Esperança). Ingresso: R$ 10
Convulsões e distúrbios da consciência Decadência social (BH Core 1988)
Cogumelo Records
29 faixas
R$ 25.