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Grande sertão

Titane faz homenagem ao compositor baiano Elomar em concerto na capital

Noite de Santo Reis talvez seja uma das canções mais bonitas de Elomar. Trata do espírito do Natal, descrevendo o presépio e o caminho percorrido pelos Reis Magos até encontrar o Menino Jesus. Esta pérola do cancioneiro do compositor baiano foi escolhida pela cantora mineira Titane para batizar o show marcado para este sábado (8), na Sala Minas Gerais.

 

Elomar vai dividir o palco com Titane. O momento não poderia ser mais apropriado. “Não deixa de ser um concerto de Natal, pensando no ano que virá. As canções do Elomar são canções de amor, de aventura sertaneja, mas, principalmente, canções para quem persevera e permanece inquieto, buscando algum sentido para a vida”, diz ela.

 

Interpretar esse repertório é um respiro, é sobrevida, afirma Titane. “Depois de viver esses últimos meses tão tumultuados, seja no campo político, social e até pessoal, é como se me revigorasse em todos os sentidos. É uma boa maneira de encerrar um ciclo e me revigorar para 2019”, destaca ela.

Em agosto, a cantora perdeu o marido, o dramaturgo e diretor João das Neves.


FESTIVALE O primeiro contato de Titane com a obra do mestre baiano ocorreu na década de 1980, durante edições do Festival de Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha (Festivale). “Conheci Elomar nas vozes de Rubinho do Vale, Saulo Laranjeira, e, especialmente, de Dércio e Doroty Marques, referências muito fortes pra mim. Desde então, me vi envolvida com a obra dele. Fui me aprofundando, ouvindo os discos. Em meados dos anos 1980, por um bom tempo, cheguei a cantar Chula no terreiro ao lado do Gilvan de Oliveira”, recorda.


Em 2016, a mineira se apresentou com o ídolo pela primeira e única vez, no show comemorativo aos 80 anos dele realizado no Sesc Palladium, em BH. A partir dali, mergulhou no universo “elomariano” e lançou, em março de 2018, o disco Titane canta Elomar. Foi o primeiro álbum dedicado à obra do mestre baiano por uma voz feminina.


“Estamos acostumados a ouvir o Elomar nas vozes masculinas.

Eu mesma te confesso: senti certo estranhamento ao me ouvir interpretando aquele repertório. Porém, o universo feminino está muito presente nessa obra”, observa Titane.
Trata-se de um cancioneiro que exige grande disposição de quem se propõe a interpretá-lo. “São músicas que, às vezes, têm extensão muito longa, melodias sinuosas, muitas palavras e ritmo muito rápido. Quando canto Elomar, sinto grande conforto, pois o português sertanejo é muito parecido com o que ouvia na minha infância. Sinto-me em casa cantando e contando aquelas histórias”, revela a artista, nascida em São João del-Rei.


No show, alguns clássicos do mestre baiano serão interpretados pela primeira vez por ela. Também vão subir ao palco Hudson Lacerda (violões), responsável por transpor a obra de Elomar para a partitura, e o maestro João Omar (violão e violoncelo), filho do compositor.


“Além de ser a anfitriã, pois receber o Elomar me deixa honrada e feliz, só de o show acontecer na Sala Minas Gerais, esse lugar tão mágico de celebração da música, já torna o momento ímpar. Ali é um espaço para você reparar no detalhe da canção, na sonoridade do violão, na palavra. Precisamos desse momento de serenar, baixar a poeira, para abrir os ouvidos, a cabeça e os pensamentos pra sentir o mundo.

Mais do que nunca, precisamos da obra do Elomar para entender o sentido da vida e compreender a natureza humana”, defende Titane.

TEMPLO Com formação erudita e acadêmica, o maestro, arranjador, compositor e instrumentista João Omar está ansioso para estrear na Sala Minas Gerais. “Só a conheço por fotos ou reportagens, é um templo da música e das artes”, diz. “Daqui a pouco, vou falar uai”, brinca ele, que veio a BH, em julho, apresentar Muntano o mondengo com o pai.


“Vitória na Conquista, onde moramos, fica a 100 quilômetros da divisa com Minas. Nossa região recebe muita influência do Vale do Jequitinhonha, carregamos muito da cultura mineira. É muito bacana ter tantos artistas de Minas que são fãs e foram influenciados pelo trabalho do meu pai. Estar em Belo Horizonte ao lado da Titane num projeto como esse é maravilhoso. Será um rebanho de amigos, a celebração do cancioneiro brasileiro”, festeja.


João Omar destaca o empenho de Titane, revelando que o próprio Elomar reconhece a dificuldade de interpretar sua própria obra. “Ele costuma dizer que tem preguiça de cantar (risos). Prefere compor. Essa música exige um personagem, pois não é só a melodia, a letra.

São canções lentas, ricas em harmonias, que bebem no romanceiro ibérico. Por isso, é fundamental saber contar histórias”, analisa.

ÓPERAS Vivendo recluso em sua fazenda, Elomar não para de criar. Compôs uma série de pequenas óperas que deve ser apresentadas ao público em 2019. “O que mais admiro na personalidade dele, coisa que vem dos meus avós e da minha família, é se voltar para a cultura nacional local, a cultura do sertão”, diz João Omar. “O padrão é menosprezar esse tipo de manifestação, pois, na cabeça de muitos, sertão significa atraso. Para ele, não. Meu pai valoriza e reconhece o vaqueiro, o homem do campo, seus fazeres e costumes. Sua obra é praticamente a universidade brasileira de carinho e amor pelo sertão. Isso é o que mais me marca”, conclui.

 

 

NOITE DE SANTO REIS

Com Titane e Elomar. Convidados: João Omar e Hudson Lacerda.

Neste sábado (8), às 20h. Sala Minas Gerais. Rua Tenente Brito Melo, 1.090, Barro Preto, (31) 2527-8585. Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$15 (meia). Vendas on-line: www.eventim.com.br.
A bilheteria da casa funciona de terça a sexta-feira, das 12h às 21h.

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