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Em novo disco, Djavan critica conflitos criados para vender armas e celebra a paixão


Djavan não é muito de se posicionar em redes sociais ou entrevistas, seja política ou ideologicamente. Mas as canções falam por ele. Não foi diferente com a leva de 12 composições inéditas criadas por ele entre junho e agosto, reunidas em seu 24º disco de estúdio, Vesúvio (Sony Music/Luanda Records). Algumas faixas abordam questões contemporâneas do Brasil e do mundo. Outras falam de amor e de flores.



“O disco fala de tudo que tem ocorrido nos últimos tempos. O mundo doente, em ebulição, guerras, a questão dos imigrantes. Mas também dou umas pinceladas políticas, apesar de serem canções apartidárias”, salienta Djavan.

Entre as mais “politizadas” estão Solitude (“Guerra vende armas/ Mantém cargos/ Destrói sonhos/ Tudo de uma vez/ Sensatez/ Não tem vez”) e Viver é dever (“Tudo vai mal/ Muito sal/ Nada vai bem/ Pra ninguém/ Nessa pressão/ Quem há de dar a mão/ Pra que o mundo/ Saia lá do fundo”).

“Não tem como não falar de certos assuntos. Principalmente com relação a essas políticas que depreciam a inteligência humana, políticas destrutivas.
Há ideias de alguns governantes que são impraticáveis em vários aspectos. Veja só a questão do clima: não dá mais pra dizer ‘não vou assinar tal tratado’. É uma questão de sobrevivência. O planeta tem que se abraçar. Tem que pensar no outro”, defende.

Apesar de acreditar que “chegamos ao fundo do poço”, Djavan vê luz no fim do túnel. “Tenho grandes esperanças para o Brasil e para o mundo”, afirma. Ao comentar o futuro governo Jair Bolsonaro, diz esperar que o novo presidente consiga “dar um jeito” nas principais mazelas brasileiras.

“Cultura é a alma de um povo, uma área importantíssima para a formação da identidade de qualquer país.
Espero que possamos ter um Ministério da Cultura que realmente olhe para a cultura do Brasil. Mas, na minha visão, a questão mais urgente é a segurança pública. Uma sociedade sem segurança não evolui”, defende.

DREXLER

Vesúvio não traz só temas espinhosos. Fala também de amor, na balada Tenho medo de ficar só, além das faixas Dores gris e Meu romance. Essa última ganhou versão quase literal em espanhol, intitulada Esplendor, do compositor uruguaio Jorge Drexler, a convite do alagoano.

A faixa-título é metáfora do poder da mulher e do próprio Vesúvio, o vulcão italiano. A força da natureza também está presente no álbum. Uma das canções mais bonitas e delicadas é Orquídea, o único samba do disco. Há 15 anos, Djavan se encantou por essa flor e, atualmente, cultiva 850 espécimes em seu sítio, na região serrana fluminense.

“Sempre tive zelo pela natureza.
Quando descobri as orquídeas, esse carinho e a preocupação vieram naturalmente. Ela é tão linda e delicada. Acabei fazendo a letra citando várias espécies para registrar um pouco do que sinto por essa flor”, revela.

Não só a qualidade e a potência das canções chama a atenção. A capa de Vesúvio é um dos destaques do disco. Traz o rosto de Djavan pintado com tinta negra e dourada, alusão às cinzas e ao magma do vulcão italiano.

O trabalho vem sendo rotulado como pop. O cantor atribui isso ao fato de o disco ser mais fluido, transmitindo suas mensagens com mais naturalidade. “Estou muito contente com esse projeto, pois foi uma coisa louca. Como faço tudo, ou seja, produzo, componho músicas e crio arranjos, é uma coisa gigantesca. Nada acontece sem a minha aquiescência. Aí você tem de pensar em show, turnê.
Mas gosto de assumir todas as rédeas. Dá muito trabalho, mas dá muito prazer”, conclui.


VESÚVIO
. De Djavan
. Sony Music/Luanda Records
. 12 faixas
. Preço sugerido: R$ 39,90.