Depois de apoiar Ciro Gomes (PDT) e Fernando Haddad (PT) na campanha eleitoral, Caetano Veloso defende a 'oposição vigilante' ao governo Jair Bolsonaro. Diz que esquerdistas não podem ser chamados de paranoicos por desconfiarem da nomeação de Sérgio Moro para a pasta da Justiça e admite conversar 'com quem quer que seja' se houver projetos de censura. Em 16 de dezembro, o cantor e compositor estará de volta a Belo Horizonte para apresentar o show Ofertório ao lado dos filhos Moreno, Zeca e Tom.
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O que significa a vitória de Jair Bolsonaro, futuro presidente da República? Em artigo publicado no New York Times, antes da votação, você afirmou que o país enfrentava a "tempestade de conservadorismo populista". O que você espera, já que a maioria da população escolheu e apoia Bolsonaro?
Fiz campanha para Ciro Gomes no primeiro turno e pra Haddad no segundo. Não gostei da jogada do PT de manter até quase o fim a candidatura simbólica de Lula e de colocar Haddad numa situação difícil – da qual, aliás, ele saiu engrandecido. Que tenha havido segundo turno e que este tenha chegado a assustar a direita que era obviamente destinada à vitória é muito significativo. Houve uma mudança na cena política no espírito das manifestações de 2013, que pediam que se encerrasse o ciclo da "velha política" e foi crescentemente inclinando-se à direita. Agora o presidente do Brasil é Bolsonaro. E eu o respeito como tal. Uma oposição vigilante e responsável deve poder se mover. O que não se pode é cair num "quanto pior, melhor". Temos que ajudar o Brasil e seus representantes a permitirem o prosseguimento da maturação da democracia entre nós. E a afirmação do nosso estilo peculiar.
Como você avalia a posição de Ciro Gomes na campanha do segundo turno e depois de abertas as urnas? Ele não parece inclinado a apoiar a união das oposições ao governo Bolsonaro. Disse ter sido "miseravelmente traído por Lula e seus asseclas". A oposição vai se dispersar antes mesmo da posse do presidente eleito?
Gostei quando Ciro, depois do resultado da eleição, disse que não era homem de mágoa, que fazia política. Depois me engajei na campanha de Haddad, coisa que ele não fez. Mas agora acho que a posição dele pode coincidir com o que eu disse antes: armar uma oposição que não seja submissa à hegemonia do PT. Mas nunca me tornei antipetista.
O juiz Sérgio Moro vai assumir o Ministério da Justiça. Como você avalia a escolha dele? A pasta é diretamente ligada a questões envolvendo censura a obras de arte. Vários artistas temem a volta de limitações à liberdade de expressão. Se for necessário, você topa conversar com o ministro Moro sobre a censura?
Agora só podemos avaliar sua atuação no cargo. Claro que é impossível não se buscar conexões entre a velocidade com que se tirou Lula, então favorito, do jogo eleitoral, o rendimento impressionante dos casos do apartamento em Guarujá e do sítio em Atibaia, com a elevação de Moro ao status de ministro logo depois da eleição. Qualquer esquerdista, petista ou não, que demonstre desconfiança não merece ser chamado de meramente paranoico. O que não quer dizer que a Lava-jato não trouxe nova visão do perfil das punições penais no Brasil. Antes era impossível imaginar alguém rico ou poderoso na cadeia. Esperemos para ver como Moro se sai no enfrentamento da corrupção e do crime organizado. E claro que, se houver censura de qualquer tipo, estou disposto a conversar com quem quer que seja sobre a questão. Acho que todos os criadores, jornalistas e professores devem reagir a projetos de censura. Espero que Moro não tenha inclinação para esse tipo de coisa.
Ofertório estreou em outubro de 2017, a turnê viajou pelo mundo, volta a BH em 16 de dezembro e segue para os EUA em 2019. Neste pouco mais de um ano, o Brasil mudou de ponta-cabeça com a eleição de Jair Bolsonaro. Essa mudança tão radical teve impacto sobre a "alma" do show? Nas redes sociais, você interpretou uma canção sobre mestre Moa, assassinado em Salvador por um bolsonarista. Ela vai entrar no repertório?
A canção sobre Moa não entrou no repertório. O show segue com a mesma estrutura. Por duas vezes, em lugares diferentes, cantei uma velha canção de Gil, desconhecida, que foi feita sobre Moreno e Preta, quando os dois eram pequenininhos. Às vezes a gente tira uma canção. Mas o roteiro básico é o mesmo desde a estreia. O clima do nosso show tem algo de místico: traz a luz da cultura do Recôncavo como a vi se intensificar na nossa família. Todo o nosso jeito de ser contrasta com o que há de regressivo e hipócrita nas ondas políticas que varrem o mundo. Entre o primeiro e o segundo turno da eleição, fizemos uma apresentação na Paraíba e voltamos a Fortaleza: nos dois lugares, o show resultava político para as plateias que foram nos ver. Isso ficava explícito na reação à música Gente, mas estava implícito em todos os momentos do resto do espetáculo. Agora, quando cantamos "ame-o e deixe-o", sentimos o poder da inversão que Gil cunhou sobre o slogan horrendo que não sonhávamos ver e ouvir de novo. Dos versos de O seu amor aos passos de Tom dançando, ao requebrado de Moreno, tudo tem essa luz mística de que falei. A frase "O samba é roda sem medida", de Um passo à frente, que pra mim é uma das mais bonitas do repertório, me emocionou muito ao ser cantada para aquelas plateias nordestinas naqueles dias.
OFERTÓRIO
Com Caetano Veloso e os filhos Moreno, Tom e Zeca Veloso
Em 16 de dezembro, às 20h. KM de Vantagens Hall. Avenida Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi, (31) 3209-8989
Em 16 de dezembro, às 20h. KM de Vantagens Hall. Avenida Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi, (31) 3209-8989
Pista/arquibancada (3º lote): R$ 130 (inteira) e R$ 165 (meia-entrada)
Mesas/quatro lugares: R$ 880 (setor 1) e R$ 800 (setor 2)
Vendas on-line: ticketforfun.com.br
Mesas/quatro lugares: R$ 880 (setor 1) e R$ 800 (setor 2)
Vendas on-line: ticketforfun.com.br