Espelho cristalino (Alceu Valença), Carmo (Egberto Gismonti), Tiro de misericórdia (João Bosco) e Maria fumaça (Banda Black Rio) foram lançados em 1977. E não envelheceram. Por isso o projeto “Conexão 77 – 4 discos mágicos de 1977” promove, a partir desta quarta (14), no CCBB-BH, uma releitura dos álbuns por outros artistas – Pedro Luís e banda; André Mehmari e Antônio Loureiro; Verônica Ferriani, Swami Jr. e Felipe Roseno; Letieres Leite e Orkestra Rumpilezz, respectivamente.
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Pedro Luís, que abre o ciclo apresentando-se com sua banda, diz que Alceu Valença representa a diversidade da época. “É um cantador de origens nordestinas, mas não se limita. Ele traz um time de rock para cantar e, dessa textura, sai o que reconhecemos como sua música”, diz.
O repertório inclui as oito faixas de Espelho cristalino, além dos clássicos Morena tropicana, Coração bobo e Anunciação, de Alceu Valença, e Fazê o quê, de Pedro Luís & A Parede. As canções foram acrescentadas para suprir a apresentação, devido ao tamanho curto do disco – naquela época, os LPs costumavam conter 15 minutos em cada lado, para manter a qualidade do áudio.
Pedro Luís conta que conhecia pouco de Espelho Cristalino e ficou impressionado ao se deparar com as influências de rock e maracatu. “Tem um aspecto instrumental e psicodélico muito vigoroso. Não tem o forró clássico do Alceu. Passeia pela atmosfera vista no Zé Ramalho, de viagens mais roqueiras”, comenta.
Carmo, de Egberto Gismonti, ganhará versão com André Mehmari (piano) e participação de Antônio Loureiro (voz). Na releitura de Tiro de misericórdia, Verônica Ferriani estará acompanhada de Swami Jr. (violão de sete cordas) e Felipe Roseno (percussão). Letieres Leite e Orkestra Rumpilezz fecham a programação com sua leitura de Maria fumaça. Na opinião de Pedro Luís, os discos homenageados não seguem tendências. “A tendência era deixar a criatividade se manifestar. São músicos bons se encontrando e cruzando influências e ideias. É uma década sem preconceitos, na qual todas as sonoridades brincam juntas.”
O jornalista e crítico musical Hugo Sukman, que fará palestra na quinta (15) sobre o tema, ressalta a relevância estética, política e econômica da música brasileira na década de 1970. Para ele, um fenômeno raro e improvável de se repetir. “A música servia como porta-voz para movimentos políticos e era altamente rentável. Estava no horário nobre e vendia milhões de discos”, diz. O uso do verbo no passado é uma provocação. “Hoje temos uma música mais segmentada. Tem o sertanejo fazendo sertanejo, pagode fazendo pagode e rock sendo rock”, aponta.
CONEXÃO 77 – 4 DISCOS MÁGICOS DE 1977
De quarta (14) a sábado (17). No Centro Cultural Banco do Brasil (Praça da Liberdade, 450, Funcionários, (31) 3431-9400). Hoje, 20h30: Pedro Luís e banda. Homenagem ao disco Espelho cristalino, de Alceu Valença. Amanhã (15), 20h30: André Mehmari e Antônio Loureiro. Homenagem ao disco Carmo, de Egberto Gismonti. Sexta (16), 20h30: Verônica Ferriani, Swami Jr. e Felipe Roseno. Homenagem ao disco Tiro de misericórdia, de João Bosco. Sábado (17), 20h30: Letieres Leite e Orkestra Rumpilezz. Homenagem ao disco Maria fumaça, da Banda Black Rio. R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia). Ingressos: www.eventim.com.br. Quinta-feira (15), às 15h: palestra “A MPB dos anos 70: uma ponte para o futuro”, com o jornalista Hugo Sukman. Entrada franca, com retirada de ingressos 1h antes.
*Estagiária sob supervisão de Silvana Arantes