O cara do momento do rap brasileiro é de BH. Seu nome vem de um apelido de rua: Djonga. Gustavo Pereira Marques, de 24 anos, está “estourado”: bateu 10 milhões de visualizações no YouTube só com o clipe "A música da mãe", lançado em 20 de agosto, que causou polêmica porque ele aplica uma “voadora” num menino branco. No concurso sobre a melhor canção nacional lançado no dia 22 pelo site Red Bull, Djonga e sua “voadora” estão em primeiro lugar, com 4,7 mil votos, seguidos por "O céu é o limite" (1,8 mil), em que o mineiro divide a cena com Mano Brown, Emicida, Rael, BK e Rincon Sapiência.
O ex-integrante do coletivo de poesia Sarau Vira-Lata e ex-universitário (deixou o curso de história para se dedicar à música) lançou dois álbuns – "Heresia" (2017) e "O menino que queria ser Deus" (2018), ambos elogiados pela crítica. Com apenas seis anos de carreira, Djonga ganhou o respeito dos veteranos Mano Brown, Edi Rock e Criolo.
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“Graças a Deus, estou conseguindo fazer tudo aqui. Pra que vou morar em São Paulo ou no Rio? A gente tem de firmar o pé, tem coisa boa aqui em BH também”, frisa.
DUELO Djonga garante: a capital mineira abriga a maior cena de hip-hop do Brasil atualmente. “Nossa cultura própria é forte.
Ele busca fazer sua parte nessa cena coletiva. “Sempre tento trazer visibilidade, colocar minhas irmãs e meus irmãos para ‘jogar’ comigo nos meus discos, nas minhas músicas solo... Onde posso, tento trazer essa galera – do funk ao rap.” A turma é grande – e talentosa: Fabrício FBC, Paige, Sidoka, Hot, Clara Lima, Oreia e o produtor Coyote Beatz, entre muitos outros.
“Tenho uma coisa que talvez possa parecer arrogância, mas não é. Tenho muita confiança na minha qualidade, em onde quero estar, com quem quero estar. Isso não me assusta. Estou preparado, sou guerreiro”, afirma.
Suas rimas falam de racismo, exclusão social, violência policial e desafios enfrentados por jovens da periferia, sobretudo negros. Também falam de amor, sexo, da complexidade das relações afetivas e de machismo. Shakespeare, Renato Russo, Tupac Shakur, Milton Nascimento são referências para ele.
MANIFESTO Nessas eleições, o rapper que estudou história usou a internet para se manifestar. No primeiro turno, defendeu Ciro Gomes. No segundo, assinou o "Manifesto Rap pela Democracia", contra Jair Bolsonaro (PSL). “A gente vive um momento de desespero, de desesperança mesmo. As pessoas se decepcionaram com um partido que fez muitas promessas, mas também cumpriu muitas coisas boas para a história deste país. Decepcionadas com algumas atitudes, elas querem outra coisa. Acho que não justifica correr atrás de algo tão negativo radicalmente, tão negativamente radical, para tapar a crise de representatividade”, analisa.
Por falar em vida ganha, Djonga é um empreendedor. Adepto da autogestão, investe no próprio negócio: o Sensação Tattoo Shop – mix de loja, ateliê de tatuagem e bar, no Bairro Santa Efigênia. Seu único patrocínio por contrato firmado vem da Adidas. “É legal isso. Se você tem uma visão empresarial e acha que vale a pena, é show mesmo. Se você é o Djonga, o músico, você é uma empresa também. E já é uma marca”, explica.
“Posso pegar todo o meu dinheiro e ficar comprando roupa, carro e não sei o quê. Isso é legal, mas mais legal é pegar essa grana e investir de forma que ela possa retornar em maior quantidade pra mim e pras pessoas em quem acredito.
* Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria.