Rapper Fabrício FBC faz homenagem a ícone do heavy metal mineiro

Destaque do hip-hop local, faz referência ao Sarcófago em capa de novo álbum

por Ângela Faria 28/10/2018 07:00
Paralax/divulgação
Rapper FBC no cemitério do Bonfim (foto: Paralax/divulgação )
Fabrício FBC é o fiel escudeiro de Djonga nos palcos. Destaque do Duelo de MCs e linha de frente do elogiado coletivo DV Tribo, dedicou 15 de seus 29 anos ao hip-hop. “Só tenho a agradecer por tudo o que ele me ensinou, pelas trocas de ideias da gente. Pra mim, é o maior representante do rap de Minas Gerais”, diz Djonga.

FBC acaba de mandar para as plataformas o disco solo S.C.A, cuja capa homenageia um ícone do death metal: a banda belo-horizontina Sarcófago, criada em 1985, cujo álbum I.N.R.I, clássico do catálogo da gravadora Cogumelo, é considerado marco mundial do gênero. Fabrício posou no Cemitério do Bonfim, assim como os rapazes do Sarcófago em seu disco cult. Comenta que se Djonga homenageou o Clube da Esquina na capa de seu elogiado Heresia (2017), ele presta tributo ao underground mineiro.

Cronista de uma cidade (muito) além dos limites da Avenida do Contorno, FBC tem estilo, luz própria. Já tocou em banda de rock, seu rap valoriza a melodia. Mandou vários singles para as redes, soma 11 milhões de visualizações no YouTube, tem 130 mil ouvintes no Spotify. O SCA do título remete a Sexo, cocaína e assassinatos, cuja letra fala das ruas perigosas e violentas da periferia da capital. “Nosso Bom Ar é maconha e lança-perfume./ É assim que vivemos e morremos/ À margem dos dias de hoje (...) As ruas adoram Wagner Montes/ E adoram Mauro Tramonte/ Isso é um paradoxo/ Isso é Belo Horizonte”, rima ele, referindo-se aos apresentadores de programas sensacionalistas na TV.

OCUPAÇÃO FBC foi criado no Bairro São Benedito, em Santa Luzia. Morou no Barreiro, já ergueu seu lar numa das ocupações urbanas da capital, mudou-se para o Cabana, vendeu água no sinal e varreu ruas para sustentar a família. Conheceu de perto o mundo do crime, mas o rap o libertou. Hoje, vive no Bairro Concórdia com a mulher, Michele, e os dois filhos pequenos. Músico profissional, apresenta-se com Djonga por todo o país.

SCA vem se somar à potente arte gerada na periferia da Grande BH – tanto pelo rap de moças e rapazes revelados pelo Duelo de MCs quanto por longas-metragens da produtora Filme de Plástico, em Contagem, cujos trabalhos são aplaudidos em Cannes. Essa nova cena fala dos excluídos, dos bairros sem asfalto, com casas de tijolos aparentes.

Ocupação Nelson Mandela, Vila Pinho, Barreiro, baile funk, violência policial, exclusão social – tudo isso está nos versos de FBC. Em Frank & Tikão, referência aos funkeiros do hit Tô planejando ficar rico, ele avisa: “Eu vim da lama/ Eles do asfalto/ Vocês queriam show de trap/ Isso é um assalto/ Fora da boca nunca lucrei tanto/ Acho que agora abro uma conta no banco”.

O rap 17 anos e um 38 narra a sina do garoto empurrado o crime: “Do Cabana ao Centro, mano/ É tudo nosso/ Dos bacana aos sujo/ mano/ É nós de novo/ Investindo alto”. FBC diz que suas letras vêm “provocar a esquerda e a direita” neste Brasil dividido, aguçando as contradições que a sociedade evita enfrentar.

Se o Clube da Esquina tem o icônico “Disco do Tênis” de Lô Borges, FBC lança a inspirada e irônica Superstar, referência ao pisante cobiçado pela garotada. É uma crônica social: “Meu bairro/ tão violento e simplório/ Meu tênis/ Aqui vale um velório/ Roubados/ Invejosos dizem/ Roubados (...) E ando neles/ Nas minhas ruas de barro.”

AUTÊNTICO FBC comemora a força do rap de BH. “Fomos lá e tomamos a cena”, diz, referindo-se à quebra do monopólio do eixo-Rio São Paulo por artistas de outros estados. Para ele, a marca de Minas é a autenticidade. “A gente veio da cena hip-hop das ruas, do Duelo de MCs feito debaixo do Viaduto Santa Tereza. Não é show em cima do palco, mas ali, no Centro. As pessoas bebem cerveja com a gente no Mineirão”, diz.

SCA é produto genuinamente belo-horizontino: foi gravado no estúdio Pro Beats, produzido por DJ Spider e Coyote Beatz, com participação da jovem safra de artistas da cidade: Chris, Lord, Oculto Beats, Hot, Doug Now, Disstinto, Gustavo BP, Sidoka, Izabel Sabino, DJ Cost e, claro, Djonga. A produção executiva ficou a cargo de FBC e Rafael Barra, artista carioca que já virou mineiro. F. H. Oliveira assina a direção de arte.


SCA

• De FBC
• 10 faixas
• Disponível nas plataformas digitais

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