Hamilton de Holanda aprendeu a tocar bandolim antes de saber ler e escrever. “Era igual a jogar bola, brincar. Quando cresci, vi a paixão que tenho”, afirma o músico de 42 anos. Com tamanha afinidade com o instrumento, foi natural que não demorasse a se aproximar da obra de Jacob do Bandolim (1918-1969).
No centenário de nascimento do mestre, ele mergulhou na obra do compositor carioca. Hamilton de Holanda toca Jacob do Bandolim (Deck) é uma caixa com quatro discos dedicados a seu repertório. Cada um deles traz uma formação distinta e enfatiza um estilo. “A ideia era tentar colocar a música do Jacob em outras situações estéticas musicais”, diz Holanda.
Jacob 10ZZ foi gravado com o Hamilton de Holanda Trio – Thiago da Serrinha na percussão e Guto Wirtti no baixo. O formato enxuto deu uma maior liberdade para os músicos. “O bandolim fica responsável pela harmonia junto com o baixo, mostrando um parentesco que o choro e o jazz têm”, explica. Neste álbum, foram gravados os clássicos Remelexo e Bole bole. Duas não são de Jacob: Naquela mesa, de Sérgio Bittencourt, que o filho do compositor fez para ele, e Serenata Jacarepaguá, que Hamilton compôs e dedicou ao mestre.
Jacob bossa foi gravado com o já citado Wirtti e o músico Marcelo Caldi (os três formam o Trio Mundo), que tocou piano e acordeon. Não é a bossa nova a que o título se refere exclusivamente, já que não um único violão no registro. “Queria mostrar que a música de Jacob até sem percussão tem bossa”, diz Hamilton. Com a harmonização que Caldi fez ao piano, ele acredita que a música de Jacob tenha se aproximado da produção jobiniana. Neste registro, Hamilton até se colocou como cantor – gravou Jamais, conhecida por um registro na voz de Elizeth Cardoso.
Jacob black contou com Thiago da Serrinha e Luiz Augusto (percussão) e Rafael dos Anjos (violão). Aqui, a intenção foi enfatizar as nuances do universo afro-brasileiro na música do Jacob em canções como A ginga do Mané e Bola preta. O título do disco também nomeou outra inédita de Hamilton feita em homenagem ao mestre.
O Instituto Jacob do Bandolim nomeou Hamilton o responsável pelo bandolim de 10 cordas do próprio Jacob. No álbum Jacob baby o músico tocou o instrumento sem nenhum acompanhamento. “O que eu queria nesse disco era quase que simular uma caixinha de música. Tanto que o andamento das músicas está mais lento do que o original.” Foi a maneira que ele encontrou de tentar atingir um outro público. “Não há plateia melhor do que as crianças”, diz.
Todos os quatro discos contam com 12 faixas, pinçadas do repertório de quase 50 que Hamilton toca de Jacob. O bandolinista partiu das partituras originais. Já os arranjos foram criados coletivamente, no estúdio, com a participação de cada músico convidado.
Uma maneira de entender as várias “línguas” que a música de Jacob fala é ouvir Assanhado. Lançada em 1961 (sua gravação mais conhecida é um choro-samba com pouco mais de três minutos), a divertida música foi registrada por Hamilton nos quatro CDs. “Se alguém quiser comparar, é só ouvir as gravações para ver a diferença de colorido”, comenta.
Ídolo e parceiro
Nascido Jacob Pick Bittencourt em 18 de fevereiro de 1918, em Laranjeiras (bairro depois trocado pela Lapa), o músico não chegou ao bandolim de cara. Seu primeiro instrumento foi um violino, que havia ganhado de presente da mãe, a polonesa Raquel Pick – o pai, Francisco Gomes Bittencourt, era de Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo.
Não demorou para que ainda adolescente Jacob jogasse o arco do violino fora e passasse a tocar o instrumento de uma maneira diferente. Até que veio outro presente, o bandolim, que acabou lhe tornando até sobrenome. Com 16 anos já instrumentava os choros de seu mestre e ídolo Pixinguinha no rádio. Mas foi além do choro – compôs valsas, polcas, sambas. Nacionalista e conservador, evitava “modernizações descabidas” na música.
Seu auge produtivo foi entre as décadas de 1950 e 1960 – só nos 1960, lançou uma dezena de LPs. Foi também por aqueles anos que fez históricas apresentações no Teatro João Caetano, no Rio, ao lado de Elizeth Cardoso, Zimbo Trio e Época de Ouro, que resultaram em dois LPs (de 1968).
Em dois anos, teve três ataques cardíacos. O terceiro foi fulminante. Morreu cedo, aos 51 anos. Jacob estava na varanda de sua casa, em Jacarepaguá, para onde havia retornado após uma visita na casa de Pixinguinha, que de ídolo tinha se tornado parceiro.
HAMILTON DE HOLANDA TOCA JACOB DO BANDOLIM
. Caixa com quatro CDs
. Deck
. R$ 180 (preço médio)
No centenário de nascimento do mestre, ele mergulhou na obra do compositor carioca. Hamilton de Holanda toca Jacob do Bandolim (Deck) é uma caixa com quatro discos dedicados a seu repertório. Cada um deles traz uma formação distinta e enfatiza um estilo. “A ideia era tentar colocar a música do Jacob em outras situações estéticas musicais”, diz Holanda.
Jacob 10ZZ foi gravado com o Hamilton de Holanda Trio – Thiago da Serrinha na percussão e Guto Wirtti no baixo. O formato enxuto deu uma maior liberdade para os músicos. “O bandolim fica responsável pela harmonia junto com o baixo, mostrando um parentesco que o choro e o jazz têm”, explica. Neste álbum, foram gravados os clássicos Remelexo e Bole bole. Duas não são de Jacob: Naquela mesa, de Sérgio Bittencourt, que o filho do compositor fez para ele, e Serenata Jacarepaguá, que Hamilton compôs e dedicou ao mestre.
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Jacob black contou com Thiago da Serrinha e Luiz Augusto (percussão) e Rafael dos Anjos (violão). Aqui, a intenção foi enfatizar as nuances do universo afro-brasileiro na música do Jacob em canções como A ginga do Mané e Bola preta. O título do disco também nomeou outra inédita de Hamilton feita em homenagem ao mestre.
O Instituto Jacob do Bandolim nomeou Hamilton o responsável pelo bandolim de 10 cordas do próprio Jacob. No álbum Jacob baby o músico tocou o instrumento sem nenhum acompanhamento. “O que eu queria nesse disco era quase que simular uma caixinha de música. Tanto que o andamento das músicas está mais lento do que o original.” Foi a maneira que ele encontrou de tentar atingir um outro público. “Não há plateia melhor do que as crianças”, diz.
Todos os quatro discos contam com 12 faixas, pinçadas do repertório de quase 50 que Hamilton toca de Jacob. O bandolinista partiu das partituras originais. Já os arranjos foram criados coletivamente, no estúdio, com a participação de cada músico convidado.
Uma maneira de entender as várias “línguas” que a música de Jacob fala é ouvir Assanhado. Lançada em 1961 (sua gravação mais conhecida é um choro-samba com pouco mais de três minutos), a divertida música foi registrada por Hamilton nos quatro CDs. “Se alguém quiser comparar, é só ouvir as gravações para ver a diferença de colorido”, comenta.
Ídolo e parceiro
Nascido Jacob Pick Bittencourt em 18 de fevereiro de 1918, em Laranjeiras (bairro depois trocado pela Lapa), o músico não chegou ao bandolim de cara. Seu primeiro instrumento foi um violino, que havia ganhado de presente da mãe, a polonesa Raquel Pick – o pai, Francisco Gomes Bittencourt, era de Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo.
Não demorou para que ainda adolescente Jacob jogasse o arco do violino fora e passasse a tocar o instrumento de uma maneira diferente. Até que veio outro presente, o bandolim, que acabou lhe tornando até sobrenome. Com 16 anos já instrumentava os choros de seu mestre e ídolo Pixinguinha no rádio. Mas foi além do choro – compôs valsas, polcas, sambas. Nacionalista e conservador, evitava “modernizações descabidas” na música.
Seu auge produtivo foi entre as décadas de 1950 e 1960 – só nos 1960, lançou uma dezena de LPs. Foi também por aqueles anos que fez históricas apresentações no Teatro João Caetano, no Rio, ao lado de Elizeth Cardoso, Zimbo Trio e Época de Ouro, que resultaram em dois LPs (de 1968).
Em dois anos, teve três ataques cardíacos. O terceiro foi fulminante. Morreu cedo, aos 51 anos. Jacob estava na varanda de sua casa, em Jacarepaguá, para onde havia retornado após uma visita na casa de Pixinguinha, que de ídolo tinha se tornado parceiro.
HAMILTON DE HOLANDA TOCA JACOB DO BANDOLIM
. Caixa com quatro CDs
. Deck
. R$ 180 (preço médio)