Em uma época em que o Nordeste volta a ser alvo de preconceito e xenofobia por motivações eleitorais, Pabllo Vittar foi na contramão (mais uma vez) e abraçou a musicalidade da região com Não para não, seu segundo álbum de estúdio, lançado no dia 4 de outubro nas plataformas digitais. São dez faixas inéditas que celebram ritmos como brega, batidão romântico, forró, calypso e arrocha, também incluindo parcerias com Ludmilla, Dilsinho e Urias. A produção é assinada por Rodrigo Gorki e Brabo Music Team (BMT), dupla responsável pelo fenômeno Vai passar mal (2017), disco de estreia da maranhense no mundo da música.
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Pabllo Vittar lança segundo disco da carreira, 'Não para não'; ouçaPabllo Vittar rompe com grife que declarou apoio a BolsonaroPabllo Vittar critica Silvio Santos: 'Tem que saber o que fala' Taylor Swift te torna a maior vencedora do American Music AwardsInternautas fazem 'mutirão' para descurtir vídeo de Pabllo VittarO primeiro álbum já flertava com sonoridades regionais, a exemplo do hit K.O, mas no geral foi ancorado no funk carioca e na música pop que ecoava das divas norte-americanas. Agora, Pabllo aparece como uma figura híbrida entre Mylla Karvalho (ex-vocalista do grupo paraense Companhia do Calypso), Britney Spears e Ariana Grande. Na abertura do disco, com a faixa Buzina, ela simula uma aeromoça ao convidar os ouvintes para voar ao mundo utópico da música pop: "Aperta o cinto que o brega vai tocar".
No primeiro single, Problema seu, Vittar traz um pagodão eletrônico que soa como trilha sonora de um suspense investigativo. No clipe, encarna a “espiã” vivida por Britney no hit Toxic, enfrentando seguranças e desviando de lasers sensoriais.
No segundo single, Disk me, o ouvinte se depara com o batidão romântico, ritmo da Paraíba consagrado por Aldair Playboy e que ganhou a cena do brega pernambucano neste ano com os MCs Bruninho, Elvis e Roginho. O pop mais tradicional aparece em Eu não vou deitar e Ouro, parceria com Urias - fiel escudeira de Pabllo que traz rimas de hip hop. Batidas eletrônicas dão as caras em Vai embora, colaboração com Ludmilla que mistura trap, funk e pagode baiano.
Na capa, a fotografia de Pedrita Junckes mostra a intérprete exaltando sua sensualidade cercada de bastões neons, como uma entidade high-tech. “Eu quis trazer essa pegada meio angelical, poderosa e iluminada. É como se eu fosse uma entidade da tecnologia. Eu consigo misturar todos os ritmos com o pop através da tecnologia”, explica a cantora. De fato: em tempos escuros para a comunidade LGBTI no Brasil, Pabllo Vittar é um ponto luz.
ENTREVISTA - PABLLO VITTAR, CANTORA
Existe uma ideia de que para ser 'pop' é necessário trazer sonoridades internacionais. Por que decidiu apostar em um álbum tão regional?
Desde o início da produção eu quis que esse álbum fosse uma exaltação da música brasileira. Durante minha última turnê, comecei a prospectar referências em diversas cidades do Nordeste e do Norte. Eu queria trazer as referências da minha adolescência: tecnobrega, calypso, brega, guitarras do Pará e arrocha. Tudo isso com uma pitada do pop que eu gosto muito, afinal cresci vendo as divas internacionais. No começo não sabíamos ao certo como iríamos fazer isso, mas testamos bases, sonoridades e conseguimos. Estou muito feliz com o resultado. Diria que estou viciada no meu próprio álbum (risos).
E para sua carreira, o que ele representa?
Representa um ano de muito trabalho. Eu aprendi uma coisa, tanto profissional quanto pessoalmente. Eu amei trabalhar muito com a equipe lá fora, o Gorc, o Diego Timborc. Eu estou cantando mais grave, algo que amei. Fiquei passada com a repercussão no streaming. Agradeço muito ao vittalovers (apelido para os fãs) que me dão esse suporte.
O single Disk me é um batidão romântico, ritmo da Paraíba que agora domina o país. Você está ajudando na nacionalização desse ritmo...
E eu tenho muito orgulho disso. Isso tudo está impregnado em mim. Sou do Nordeste, morei no Norte. Tenho muito orgulho de passar isso, foi a região onde eu passei minha infância. Levar esses segmentos para o país é importante para mostrar que eles são muito ricos de cultura. Nós fomos ensinados a não perceber isso.
Desde que você “entrou” para a grande mídia, tem sido apontada como uma figura de resistência LGBTI. Como é ter esse papel em um momento tão conservador da nossa sociedade?
Eu procuro dizer que só faço a minha parte. Tenho várias amigas que são símbolos e levantam essa bandeira. Ainda existe um mar de gente que tem medo de mostrar quem é de verdade. Eu fico muito feliz quando a gente avança. Estou muito triste depois do resultado do primeiro turno dessas eleições, mas fiquei feliz quando vi que o Nordeste votou pela democracia. Deu muito orgulho de ser nordestina. Fico triste sobre não saber onde isso vai parar, mas garanto uma coisa: nada vai calar a nossa voz ou tirar a nossa luta.
Pessoas LGBTI estão começando a publicar nas redes sociais que estão sendo vítimas de preconceito nas ruas, e algumas outras estão com medo de sair de casa. O que você gostaria de dizer para elas?
Temos de nos unir. Ficar perto de quem nos quer bem, pessoas que te respeitam. Não está fácil mesmo. Eu falo diretamente com meus fãs para tomarem cuidado quando saem para a rua. É muito difícil ter que falar isso quando a gente quer mais é ser livre, sabe? Ainda tenho uma esperança que vamos derrotar esse ódio com uma vitória massa.
Confira os clipes: