Sérgio Reis retoma a estrada em show em Minas na quinta

Cantor supera problemas de saúde, lança livro e vem ao estado para cantar. Ídolo da Jovem Guarda e do sertanejo, o paulistano comemora 60 anos de carreira

por Ana Clara Brant 11/09/2018 08:00
Acervo
Sérgio Reis percorreu vários estilos, do rock e da Jovem Guarda até a música caipira (foto: Acervo)
Sabe quando um alemão cisma de tocar samba no meio de brasileiros e não há sincronia alguma entre eles? Pois é assim que Sérgio Reis, de 78 anos, explica o problema de saúde que o levou para a sala de cirurgia no início de agosto. “Foi uma fibrilação, mas graças a Deus deu tudo certo. Achei que minha viola não ia mais tocar”, brinca ele, referindo-se à frequência cardíaca irregular, muitas vezes acelerada, que geralmente provoca má circulação sanguínea.

Esta semana, o cantor e compositor paulistano, que está completando 60 anos de carreira, lança a biografia Sérgio Reis – Uma vida, um talento, escrita pelo jornalista mineiro Murilo Carvalho. “Amo tanto esta terra abençoada, não sei como não nasci em Minas Gerais. Tenho grandes amigos aí, negócios. Fui salvo duas vezes por médicos mineiros (em 2002, quando teve um AVC, em Belo Horizonte, e em 2012, quando caiu do palco em Três Marias). Se não fizer o lançamento do livro aí, os mineiros me matam (risos). Vamos dar um jeito de programar”, avisa.

Enquanto isso, os fãs podem se contentar com o show de Serjão – como ele é carinhosamente conhecido – marcado para quinta-feira (13), no Carretão Trevo, em Contagem. “Essa apresentação seria no Dia dos Pais, mas foi adiada por conta do meu procedimento cirúrgico. Vou cantar tudo o que o povo gosta”, promete.

SERESTA A trajetória artística de Sérgio Reis teve início com seus antepassados, principalmente o avô, Constanzo Bavini, os tios Aldo e Lino, e o pai, seu Érico. “Eles eram seresteiros. A música está no sangue. Não tinha outro caminho a seguir, apesar de ter trabalhado em seguradora e na fábrica de papelão fundada pela família. Não adianta tentar outra coisa, pois a gente acaba quebrando a cara. Deus sabe o que faz”, garante.

Recentemente, Sérgio voltou ao passado. Visitou Colle di Val d’Elsa, pequena vila na região da Toscana, na Itália, conhecida como a cidade do Pinóquio, onde nasceu o avô paterno. Também foi à região dos Trás-os-Montes, em Portugal, terra do avô materno.

“Queria conhecer um pouco da história deles e, consequentemente, a minha história. Os dois avôs – o italiano e o português – eram muito corajosos em vir tentar a vida aqui,um país totalmente desconhecido. Fiquei muito emocionado quando estive lá e queria contar essa história no livro”, revela.

Sérgio Reis conta que já conhecia o trabalho de Murilo Carvalho, mas ficou impressionado com a pesquisa e a dedicação do biógrafo. “Foi o primeiro que conseguiu levantar a minha discografia. Sou o artista vivo com o maior número de discos gravados: 124”, celebra.

Nascido em 23 de junho de 1940, aos 7 anos Sérgio já cantarolava sucessos dos ídolos Orlando Silva, Carlos Galhardo e Nelson Gonçalves. Já tocava pandeiro, seu primeiro instrumento. “Nasci na véspera de São João. Então, tudo era festa, música”, relembra, citando outra coincidência: “Sabe que o primeiro cachê que ganhei foi num show em Mairiporã, na região metropolitana de São Paulo, nos anos 1950? E hoje moro em Mairiporã. Tudo na vida da gente é encaminhado.”

ECLÉTICO O cantor percorreu vários estilos – do rock e da Jovem Guarda até a música sertaneja, ou melhor, caipira. “É a mesma coisa. Sertanejo vem do sertão, então tem tudo a ver com caipira. O Luiz Gonzaga cantava música sertaneja, mas do Nordeste”, explica Sérgio.

Pouca gente sabe, mas ele chegou a ser conhecido pelo inusitado nome de Johnny Johnson quando formava um trio com Márcio e Ronaldo Antonucci, que mais tarde formariam a dupla Os Vips, que fez sucesso na década de 1960. “O próprio Márcio brincou que esse meu nome artístico era terrível. Falava que Johnny Johnson parecia nome de preservativo”, diverte-se.

O nome Sérgio Reis foi sugerido por Diogo Muleiro (cantor e compositor conhecido como o Palmeira, da dupla com Biá) e por Teddy Vieira, um dos autores do clássico O menino da porteira. “Usava o sobrenome Bavani, do meu pai. Então, acabei colocando o Reis em homenagem à minha mãe, Clara Reis”, recorda.

ROCK A transição da Jovem Guarda – Sérgio estourou com Coração de papel – para o universo caipira não foi tão fácil. Desde criança, ele ouvia o programa de Tonico e Tinoco, Na beira da Tuia, na Rádio Bandeirantes.

“Não caí de paraquedas no mundo sertanejo. São canções que sempre fizeram parte da minha vida. Tinha uma violinha vermelha que meu pai me deu quando tinha uns 10 anos. Tocava e ficando ouvindo o programa”, revela.

Conhecer pessoalmente Tonico e Tinoco foi uma honra. Quando a dupla enfrentou dificuldades financeiras, Sérgio fez questão de ajudar os ídolos. “Devia isso a eles, que foram fundamentais na minha carreira”, destaca.

De certa forma, o Sérgio caipira nasceu em Minas Gerais. Durante um baile de debutantes em Tupaciguara, no Triângulo Mineiro, o repertório da festa era todo de rock e Jovem Guarda. De repente, a banda começou a tocar acordes de O menino da porteira.

“Todo mundo começou a cantar. Fiquei impressionado com a força daquela música. Comentei com o Tony Campello e ele decidiu: quando voltássemos para São Paulo, eu a gravaria com os arranjos de Elcio Alvarez. Foi um sucesso. Depois dali, não teve mais jeito”, conta ele.

Nome de destaque da cena sertaneja, Sérgio gravou também Panela velha, Chalana, Chico mineiro, Comitiva esperança e Saudade da minha terra.

O veterano cantor é enfático sobre a cena contemporânea: “Isso não é sertanejo. É Jovem Guarda cantada em dueto, aquela pegada mais romântica com guitarra, bateria. Mas todos são excelentes músicos. Se você colocar uma viola na mão deles, todos dão show, pois a maioria é do interior e conhece o estilo.”

SÉRGIO REIS: UMA VIDA, UM TALENTO
• De Murilo Carvalho
• Editora Tinta Negra
• 256 páginas
• R$ 34,90
• Vendas on-line: www.fokaki.com.br

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