Depois de percorrer seis cidades do Sul de Minas (São Lourenço, Extrema, São Tomé das Letras, Coqueiral, Guapé e Nepomuceno), o Festival Nacional da Canção (Fenac) definiu os 24 semifinalistas de sua edição 2018 no fim de semana passado. O grande vencedor vai ser conhecido no próximo fim de semana, em Boa Esperança. Bandas e artistas das cinco regiões do Brasil disputam o troféu Lamartine Babo.
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A classificação para a final mostra domínio das mulheres na interpretação – são 14 cantoras e 10 cantores defendendo as composições. O festival premia, além da melhor letra, a performance do intérprete da canção vencedora. Laís Marques, de 31 anos, que é de Uruçuca, no Sul da Bahia, concorre cantando ela mesma uma música de sua autoria – Tem mulher nesse forró. A cantora e compositora se alegra com o fato de o trabalho das mulheres estar em evidência no Fenac.
“O mais bacana é que, com essa música, disputei um Festival em Itaúnas (ES), que tinha como tema a mulher. O forró é um universo muito masculino. Minha composição tenta fazer essa desconstrução e provar que a mulher também sabe tocar, cantar e compor nesse gênero”, diz a artista, que tem um trio de forró feminino em Ilhéus, onde vive.
A música surgiu por acaso na vida de Laís. Quando foi estudar turismo e hotelaria em Itacaré, também no litoral Sul baiano, a 35 km de Ilhéus, ela percebeu que as duas coisas podiam caminhar juntas. “Todo lugar tem um barzinho com música ao vivo. Comecei tocando violão na adolescência e, quando vi, já estava cantando, compondo, tocando. Hoje, a minha principal atividade econômica é a música.”
BONS OUVINTES Não é a primeira vez que Laís Marques disputa o Festival Nacional da Canção. “Fico tão feliz de fazer parte desse festival. É algo tão grandioso. Espero ganhar, mas já estou muito satisfeita de estar nesse grupo seleto. Acho que o que está faltando no Brasil não é boa música, mas bons ouvintes e o Fenac traz isso”, afirma.
Outra representante do time feminino e também nordestina é a paraibana Madu Ayá, de 21 anos. É o segundo festival de que ela participa. O primeiro foi o Sonora - Festival Internacional de Compositoras, realizado no ano passado, em João Pessoa, sua terra natal. “Ele é mais para valorizar e evidenciar o trabalho de compositoras do que uma disputa propriamente. Mas o Fenac é o primeiro em que concorro a algum prêmio. Só de estar entre os 24 semifinalistas, num universo de 2.500 artistas, já é uma conquista”, celebra Madu, que canta desde criança.
A paraibana conta que nunca fez curso na área e diz que aprendeu a cantar, compor e tocar sozinha. “Uma coisa foi levando à outra. O lado compositora veio naturalmente e surgiu na mesma época em que comecei a cantar. Gosto muito de MPB e tenho um trabalho autoral”, diz. No Fenac, Madu concorre com sua canção Me tira d’eu, que, segundo ela, tem uma pegada romântica. “Quando me apresentei na etapa de Extrema, foi interessante ver um monte de meninas falando que estavam me vendo como referência, já que, além de eu ser bem nova, cantei a minha própria música. É muito bacana ter esse retorno e ver que já sirvo de exemplo”, diz Madu, cujo nome de batismo é Mayara Fernandes. “Tive um sonho em que me chamavam de Madu. Isso já tem uns três anos e desde que adotei esse nome artístico – o Aya vem de Mayara –, as coisas começaram a fluir na minha vida”, diz. Paralelamente à carreira de cantora e compositora, ela estuda odontologia na capital paraibana.
A coordenadora do Fenac, Cristina Marques, destaca não só a presença feminina no evento, como a de novos talentos da música. “Esta edição trouxe uma renovação. Tem muita gente boa e que não é festivaleiro, como a gente chama, ou seja, nunca tinha participado de nenhum festival. É bacana ver essa moçada se sobressaindo”, afirma. Há quase 50 anos revelando artistas e bandas, o Festival Nacional da Canção tem atraído cada vez mais gente fora do circuito Rio-São Paulo-Minas, como salienta Cristina. “É claro que, pela proximidade, a maior parte dos concorrentes vem desses estados, sobretudo São Paulo. Mas temos tido muita procura de participantes do Norte, Nordeste e do Sul. Neste ano recebemos inscrições de 23 estados”, aponta.
ASSÍDUO Pelo fato de ser um evento consolidado no calendário nacional, o festival acaba atraindo também habitués, como o músico Nano Vianna, da banda Cinco Nós, de Vitória (ES). O grupo, que venceu a edição 2016 do Fenac, desta vez concorre com a música Clips e clichês. “Se for contabilizar, já é minha quinta participação, porque estive aqui uma vez sem a banda. Anualmente, faço questão de participar de pelo menos dois ou três festivais de música, e o Fenac sempre está nessa lista, justamente pela sua qualidade e seriedade”, afirma.
Nascido na extinta União Soviética – os pais são brasileiros, mas estavam morando lá nos anos 1980 – Nano, de 38 anos, viveu durante muito tempo no Rio de Janeiro, mas acabou fixando raízes no Espírito Santo, em 2003, quando surgiu o Cinco Nós. O cantor e compositor ressalta a participação e o interesse do público pelo Festival Nacional da Canção. “Em todas as cidades, é impressionante o envolvimento das pessoas. Elas assistem com aquele olhar ávido pela arte. Respeitam o artista, seu trabalho. Isso é muito gratificante. Vamos com tudo para a etapa final em Boa esperança”, avisa.
A semifinal será disputada em dois dias – na quinta (6) e na sexta (7) – e a grande final, com os 10 remanescentes na disputa, está marcada para o sábado (8), na Praça Padre Júlio Maria, em Boa Esperança. A 48º edição do Fenac distribuirá R$ 220 mil em prêmios, além de entregar o troféu Lamartine Babo ao primeiro colocado. O Festival tem hoje sete premiações – do primeiro ao quinto lugar, além de mais dois troféus, para o melhor intérprete e para o mais comunicativo.
Na noite da final será realizado o show Encontro marcado, com 14 Bis, Sá e Guarabyra e Flávio Venturini. “É raro um festival acontecer durante tantos anos, de forma ininterrupta, e sem perder a sua essência. Somos considerados o maior festival de música do Brasil. É um desafio realizá-lo todos os anos, mas o resultado sempre compensa”, diz Cristina Marques.
rumo à final
Confira os 24 selecionados
e suas canções
» Breu vazio, de Robertho Ázis e Tavinho Lima (RJ)*
» Cansei, de Andrezza Santos (BA)*
» Carmim, de Thaylis Carneiro (MG)*
» Clips e clichês, de Nano Vianna (ES)*
» Corre e vem ver, de Matheus Pezzota e Bárbara Leite (SP) Interpretação: Selma Fernandes (SP)
» Deusa, de Tata Alves (SP)*
» Do lado de dentro, de Thiago K e Kleuber Garcez (SP). Interpretação: Isabela Moraes(SP)
» Frágil beleza, de Raul Misturada e Dulce Quental. (PR). Interpretação: Demétrius Lulo (PR)
» Inteira, de Márcia Cherubin (SP)*
» João Ninguém, de Rubens
Soares (MG). Interpretação:
Ana Soares. (MG)
» Me tira d’ eu, de Madu Ayá (PB)*
Meu teremim, de Carlos Gomes (AM). Interpretação: Jéssica Stephens (AM)
» Meu santo, de André Fernandes e Dentinho Aureira (SP). I
nterpretação: Zu Laiê (SP)
» Não me deixe, de Aline Lessa e
Ithalo Furtado (RJ)*
» O som da minha voz, de Zé Alexandre e Manoel Gandra (MG)*
» Olhar em festa, de
Ruan Trajano (PE)*
» Para ser Deus, de Cláudia
Ferrari (RJ)*
» Perseguição, de Fábio Baddini e Bruno Orefice (SP). Interpretação: Monoclub (SP)
» Plantio, de Mongol e Deborah Turturro (RJ). Interpretação:
Júnior Almeida (RJ)
» Ponto em comum, de
Rodrigo Régis (SP)*
» Só eu sei, de Bezão e Nô Stopa (SP). Interpretação: Duas Casas (SP)
» Trapos e delícias, de
Cláudia Romano (SP)*
» Tem mulher nesse forró,
de Laís Marques (BA)*
» Vingando a miséria, de Beto
Santos e Sani Taiee (SP)*
*Interpretação pelos
próprios autores