No alpendre da Rua Pouso Alegre, 2.048, aos pés de uma pitangueira, a chilena La Luzma dá o tom para a paulistana Aryani Marciano cantar. “Tanto tempo desfrutamos deste amor/ nossas almas se aproximaram tanto assim/ que eu guardo o teu sabor/ mas tu levas também.” Os versos da clássica Sabor a mi, do Trio Los Panchos, invade toda a casa. Na sala, a portenha Lucia Patané busca o melhor acorde no violão para uma composição. A soteropolitana Alexandra Pessoa e a colombiana Gabriela Sossa promovem o encontro dos tambores de Brasil e Colômbia. Enquanto, na cozinha, a mineira Jucélia Dias prepara costelinha com quiabo, angu e couve. É difícil saber o que encanta mais: o cheiro do prato mineiro, o canto das meninas ou as composições criadas pelas cinco musicistas latino-americanas.
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Anitta cita planos de novas parcerias com Dua Lipa, Rita Ora e PharrellCom boa presença latina, Festival de Veneza abre amanhã sua 75ª ediçãoDilsinho prepara lançamento de primeiro DVD da carreiraGrammy Latino homenageia Erasmo Carlos Mônica Salmaso e Sinfônica Sesiminas fazem show no projeto Mano a ManoA residência foi montada na galeria e espaço cultural Mama/Cadela. As meninas acordam e dormem, literalmente, cantando.
As trocas de referências estéticas ocorrem a todo momento, da hora em que as meninas se levantam até quando vão dormir. O ambiente de compartilhamento dos universos musicais das artistas propicia a experimentação de linguagens. Nesse intercâmbio, as cinco são recepcionadas e interagem com artistas da cena musical de Belo Horizonte, como Nath Rodrigues e Cláudia Manzo. As musicistas têm vivências artísticas com Josi Lopes, Chaya Vasquez, Poliana Tuchia, Isabela Leite e Luísa da Bahia. “A ideia é trazer pessoas de fora que se conectem com as artistas locais”, afirma Paula.
Embora parte delas fale espanhol e outra parte, português, não há ruído de comunicação quando a mediação é feita pela música.
Como a casa onde está a Mama/Cadela foi concebida para receber exposições artísticas, o espaço precisou ser transformado em lugar de morar para receber as artistas residentes. Para lá foram levadas camas, colchões, utensílios de cozinha e gaveteiros. Não menos importante do que esses itens básicos para se montar um lar foram levados para lá diversos instrumentos e aparelhos: de corda, percussão, teclado, mesa de som e microfones.
A proposta de criação da Zona LAMM nasceu da percepção de Paula de que era preciso ampliar, para as mulheres, o espaço no universo musical, seja no palco ou em funções técnicas nos bastidores – produção de shows, gravação de álbuns e outras. “O processo é bem orgânico e os lugares são intercambiáveis. Hoje, estou na coordenação, mas posso ser artista residente, posso estar na técnica (som, filmagem, fotografia)”, afirma Paula.
A residência está sendo documentada em vídeo. As cinco artistas também vão gravar um EP durante a festa de encerramento Que viva la América, que será realizada n’A Autêntica, em 6 de setembro. Na apresentação, as residentes da Zona LAMM se encontram com as “tamboreras” do coletivo Mulheres de América Latina Reunidas pelo Tambor (Malta), Jenn Del Tambó, Orito Cantora e Maria Pacífico. Ao todo, estarão no palco 10 musicistas latino-americanas. Também há entre elas o desejo de desconstrução da ideia de competição entre as mulheres. “Queremos criar de forma harmônica e menos hierarquizada”, diz Paula.
Com trajetórias distintas, a música convergiu o destino dessas musicistas, que foram selecionadas pelo edital Ibermúsicas para residências artísticas de grupos. A residência permite que compartilhem histórias e costumes de cada lugar.
Gabriela Sossa, de 27, exibe com orgulho pulseiras e colares feitos por mulheres indígenas da Colômbia. “Comecei com a música na barriga de minha mamãe. Sou de uma família que investiga a música para ensinar a música tradicional às crianças. Sou percussionista e procuro cantar o que passa na minha vida”, diz a jovem, que traz, em sua cultura, uma profunda ligação com a terra e tudo que ela oferece.
La Luzma, de 38, propõe em seu trabalho o diálogo de diferentes sonoridades, do bolero à bossa nova. “Estava ansiosa sobre como seria a troca com quatro mulheres que não conhecia.
Aos 22 anos, Aryani Marciano é a caçula do grupo e vem da periferia de São Paulo. Na bagagem, traz as lembranças de encontros musicais da família. “Meu rolê é o rap e o samba”, diz a jovem flautista. Há algum tempo, fez a opção de trabalhar artisticamente com outras mulheres. “Está sendo uma experiência intensa. Temos até pesadelo juntas. Cuidamos umas das outras”, afirma. Alexandra Pessoa, de 37, vem da periferia de Salvador. “Cresci ouvindo Araketu e os blocos afros”, diz a musicista, que se dedica à percussão. No ano passado, ela lançou o álbum autoral Visita.
>> LABORATÓRIO DE SONS
Confira as atividades previstas:
>> Ensaio aberto
Sexta (31), das 19h às 22h. Mama/Cadela (Rua Pouso Alegre, 2.048, Santa Tereza, (31) 2552-2048). Entrada franca.
Oficina Ritmos brasileiros e afro baianos
Com Alexandra Pessoa. Sábado (1º/9), das 14h às 18h. Mama/Cadela (Rua Pouso Alegre, 2.048, Santa Tereza, (31) 2552-2048). Inscrições pelo link: https://bit.ly/2nII1Au. Contribuição sugerida: R$ 15.
>> Oficina Entre o visual e o musical: uma experiência artística encruzilhada
Com Aryani Marciano. Sábado (1º/9), das 14h às 18h. Mama/Cadela (Rua Pouso Alegre, 2.048, Santa Tereza, (31) 2552-2048). Inscrições pelo link: https://bit.ly/2nII1Au. Contribuição sugerida: R$ 15.
>> Oficina La voz própria
Com La Luzna. Segunda (3/9), terça (4/9) e quarta (5/9), das 19h às 21h. Mama/Cadela (Rua Pouso Alegre, 2.048, Santa Tereza, (31) 2552-2048). Inscrições pelo link: https://bit.ly/2nII1Au. Contribuição
sugerida: R$ 15.
>> Festa de encerramento Que viva la América!
Zona LAMM %2b Malta. Quinta (6), às 22h.
n’A Autêntica (Rua Alagoas, 1.172, Savassi,
(31) 3654-9251). Ingressos antecipados:
R$ 15. Na porta: R$ 20. www.sympla.com.br..