"Teremos muros, grades, vidros e portões, mais exigências nas especificações, mais vigilância, muito menos exceções, que lindo acordo de cidadania!” Em Marcha macia, os acordes dançantes na guitarra acompanham a letra cheia de ironias. A música abre Baile solto, álbum lançado pelo pernambucano Siba em 2015. Trata-se de uma introdução certeira para o que vem nas nove faixas a seguir e também para o cenário de tensões sociais que já se desenhava naquela época.
Em turnê desde então, Siba vem alterando o repertório, incluindo outras peças de sua rica carreira, iniciada na década de 1990. O Baile solto aporta neste sábado (28) em BH com show n’A Autêntica antecedido por apresentação do mineiro Arthur Melo.
Com o fim do Mestre Ambrósio, Siba seguiu com outros projetos e outros parceiros, muitos deles resultado de um período vivendo em Nazaré da Mata, na Zona da Mata pernambucana. Com a Fuloresta do Samba, ele lançou quatro discos desde 2002, sendo o mais recente deste ano, pelo Selo Sesc. Com Barachinha, gravou No baque solto somente (2003), mergulho nesse estilo de maracatu.
“A gente liga tudo o que é popular, tudo o que é herança africana ou indígena a raiz, origem, passado e nega toda possibilidade de agenciamento político no presente. Sem querer, até a gente que ama isso reforça os estereótipos do simples, do folclórico, do coletivo, do não autoral. São preconceitos profundos e antigos, que servem para manter a exclusão, a penúria e a falta de reconhecimento do valor que essas tradições têm no país inteiro”, avalia Siba.
Ele diz que, mesmo em Recife, “há um discurso de gostar da cultura popular do estado, mas, quando se chega perto, a intimidade da classe média com a cultura popular é muito pequena, sobretudo quando cai em questões mais políticas”. Em Baile solto, ele usa o maracatu e outros “ritmos de rua de Pernambuco” para abordar de forma sutil injustiças sociais, fome, desigualdade e abusos de poder do estado. Em 2014, foi imposto um polêmico toque de recolher aos ensaios de maracatu no interior de Pernambuco, limitando-os até um horário específico, contrariando a tradição de amanhecer o dia tocando.
“Desde 2013, o país começou a derivar para uma posição mais violenta, mais excludente, mais injusta de um modo geral. Isso começou a aparecer de modo específico no maracatu de baque solto para discutir nossa ideia de país. Há momentos do disco em que parece que estou adivinhando o que viria a acontecer.
Sobre a transposição do disco para o palco, ele diz: “O show é um corpo vivo para mim, nunca é fechado, então entram outras contribuições. Temos hoje um formato sem a tuba, diferente do disco. São duas guitarras, bateria percussão, tudo construído na estrada do Baile solto”.
Siba %2b Arthur Melo
Show neste sábado (28), às 22h, n’A Autêntica (Rua Alagoas, 1172, Savassi). Ingressos: R$ 30 (antecipado no site Sympla) e R$ 40 (na portaria). Mais informações: (31) 3654-9251.