Nove instrumentistas, compositores e arranjadores. O fato de o Bixiga 70 permanecer unido há oito anos é um feito, ainda mais se levarmos em consideração o tamanho da formação. E, vale lembrar, a big band instrumental tem uma produção constante e uma agenda de shows que já extrapolou, há muito, as fronteiras do Brasil.
Quebra-cabeça, quarto álbum do combo paulistano, foi lançado anteontem nas plataformas digitais e deve chegar às lojas em agosto. É, de certa maneira, um novo começo. Mesmo que não tenha sido a intenção inicial, os três primeiros discos – todos homônimos ao grupo e lançados entre 2011 e 2015 – formaram uma trilogia.
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E também pela primeira vez cada instrumento foi gravado em separado – os registros anteriores foram todos feitos ao vivo em estúdio. “Queríamos que o trabalho soasse diferente. Quando se grava junto, há uma limitação na mixagem. Se você for, por exemplo, mixar o som do saxofone, vai ouvir um pouco da percussão também. Com os instrumentos separados, o som fica mais puro”, afirma Dworecki.
Quebra-cabeça reúne 11 faixas, todas de autoria coletiva. A produção coube a Gustavo Lenza, em parceria com a própria banda. O cenário foi o mesmo estúdio Traquitana, no bairro do Bexiga, em São Paulo, onde a banda surgiu. “Nosso processo de trabalho é totalmente caótico, mas conseguimos encontrar uma dinâmica que se tornou viável para as nove pessoas. Há algum tempo consideramos os arranjos parte da composição. Conseguimos compor de forma totalmente coletiva, tanto que as composições são creditadas a todos”, explica o baixista.
As músicas do Bixiga 70 só ganham nome quando estão devidamente prontas. Primeiramente foi lançada antes das demais. Em junho, o grupo divulgou o vídeo dessa música – cujo título dispensa maiores explicações –, que reúne imagens de várias manifestações populares (vai das passeatas de Martin Luther King pelos direitos civis nos EUA até os protestos dos últimos tempos no Brasil).
O som do Bixiga 70 aponta para diferentes caminhos – seja música brasileira, latina ou africana. Ilha vizinha tem uma guitarra psicodélica, que dialoga com uma percussão bem marcada. Pedra de raio tem forte influência de Moacir Santos. Ladeira, como o nome indica, tem uma pegada carnavalesca, enquanto Levante, que vem logo a seguir, é mais densa, bem lenta.
Marcelo Dworecki comenta que, quando o Bixiga 70 começou, o grupo era o projeto paralelo de todos os músicos. Com o passar do tempo, tornou-se a principal banda de todos eles. “Quando o Bixiga começou a tomar mais tempo de nós, naturalmente tivemos que abrir mão de trabalhos grandes”, conta ele. Mesmo com uma logística complicada para tempos de crise, devido ao número de integrantes, a banda vem tocando no Brasil todo.
No exterior, nos últimos três anos, o grupo soma uma centena de apresentações, inclusive em festivais do porte do Glastonbury, na Inglaterra, do Roskilde, na Dinamarca, dois dos principais eventos de verão na Europa. “No começo, a gente fez parte em festivais de world music, ou seja, tudo que não é europeu nem americano. Mas, a partir de certo ponto, deixamos a world music e passamos a fazer parte do circuito internacional”, diz Dworecki.
Quebra-cabeça
l Bixiga 70
l Disponível em plataformas digitais