Em 15 de janeiro de 2017, o cantor e compositor paulistano Rômulo Fróes recebeu o seguinte e-mail do artista Nuno Ramos, seu parceiro de longa data. “Estou te mandando uma coisa meio esquisita aí pra você ver o que faz... Considero uma espécie de suíte, no sentido de ser uma coisa com sequência. Podia até se chamar ‘Suíte número 0’. Acho que não é uma canção, mas um disco inteiro, ou quase. Pensei em fazer 12 ‘unidades’, formando um ‘disco das horas’ (outro nome possível), mas tô te mandando 8... Acho que deve ser supercomplicado pra musicar... Talvez sejam ‘elevadas’ demais pra dar boa canção, não sei, mas acho que vale tentar. Canção de amor pode tudo. Seria um disco só de canções de amor. Acho que sempre quis propor isso a você.”
A “coisa meio esquisita” que Ramos falou eram oito letras. “Supercomplicado para musicar?” Fróes levou dois dias para finalizá-las. Enviou as canções e pediu letras para outras quatro. “O Nuno não sabe brincar e mandou cinco, pois 13 era um número menos redondo”, comenta.
Pois eis que um ano e meio após aquele e-mail, enviado no meio de uma conexão em Roma, vem a público O disco das horas, novo trabalho de um dos nomes mais inventivos da música brasileira contemporânea. “É a história de um casal relembrando-se de tempos passados, escapando do cotidiano atual, que é absolutamente avassalador”, comenta.
Ele não mexeu em nada nas letras de Ramos. Só não conseguiu musicar a última delas, a 13ª – papel que coube a Thiago França, também responsável pelos arranjos, coprodução e direção musical. Como resolveu tratar o álbum como uma suíte, chamou cada uma das canções pela hora. Desta maneira, o disco tem início com a Primeira hora e termina com a Décima terceira hora.
“É gelo o amor/ Que fizemos agora naquela poltrona?”, pergunta Juliana Perdigão em Segunda hora. “Da carne cravada/ No coração/ Entrando e saindo/ Risada e gemido/ Cavando um umbigo/ Na imensidão”, canta Fróes em Décima hora.
“O texto das canções não é simples, mas também não é complexo. Não gosto de canções tolas, fico sempre querendo transformá-la, encontrar novos caminhos. Este disco tem melodias absolutamente assobiáveis. Elas só não são preguiçosas. Busco exaltar a canção em suas possibilidades”, comenta Fróes, logo acrescentando. “O Chico Buarque tem feito canções muito mais difíceis que eu. Caravanas é, na minha opinião, a maior canção da última década. Tenta cantá-la para ver como é difícil”, afirma.
Fróes, que já soma 11 álbuns solo, achou que era o momento de abrir mão de uma participação nos arranjos. Mandou as melodias, sempre voz e violão, para a França. “Só falei com ele da minha inspiração, que tem a ver com meu pai (a quem o disco é dedicado), que considerava a Santíssima Trindade o Jamelão cantando Lupicínio Rodrigues acompanhado da Orquestra Tabajara. Queria que eles imprimissem as influências dele, que não são naturais para mim, sobretudo o jazz. Conheço e ouço, mas não tenho intimidade com Miles Davis, Gil Evans, referências que ele trouxe para o trabalho”, conta.
Assim como o processo de composição, o de gravação foi muito rápido. Um combo de 10 músicos participou do disco (com naipe de metais bastante rico), gravado em cinco dias. Todas as faixas foram registradas ao vivo, com três takes. “A demora em lançar o disco se deveu mais a questões mundanas da vida. Tem mais a ver com as condições de gravar, conseguir dinheiro, do que a duração em gravar.”
E é com uma banda de 10 pessoas que ele vai levar O disco das horas para os palcos – a estreia será no dia 13, no Sesc Pompeia, em São Paulo. As músicas serão interpretadas na ordem e na íntegra. Quando começar a viajar com o novo show, ele vai ver a possibilidade de fazer a apresentação com todos os músicos. Senão, fará as devidas adaptações. “Não quero cometer o erro que cometi com o disco do Nelson Cavaquinho (Rei vadio, de 2016, só com canções do músico carioca). Ele tinha uma banda enorme e como me apeguei ao som do disco, acabei fazendo poucos shows. Como O disco das horas é de canções, ele funciona com voz e violão”, finaliza.
O DISCO DAS HORAS
De Rômulo Fróes
13 faixas
YB Music
Disponível nas plataformas digitais
R$ 20 (CD) e R$ 110 (vinil)
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Pois eis que um ano e meio após aquele e-mail, enviado no meio de uma conexão em Roma, vem a público O disco das horas, novo trabalho de um dos nomes mais inventivos da música brasileira contemporânea. “É a história de um casal relembrando-se de tempos passados, escapando do cotidiano atual, que é absolutamente avassalador”, comenta.
Ele não mexeu em nada nas letras de Ramos. Só não conseguiu musicar a última delas, a 13ª – papel que coube a Thiago França, também responsável pelos arranjos, coprodução e direção musical. Como resolveu tratar o álbum como uma suíte, chamou cada uma das canções pela hora. Desta maneira, o disco tem início com a Primeira hora e termina com a Décima terceira hora.
“É gelo o amor/ Que fizemos agora naquela poltrona?”, pergunta Juliana Perdigão em Segunda hora. “Da carne cravada/ No coração/ Entrando e saindo/ Risada e gemido/ Cavando um umbigo/ Na imensidão”, canta Fróes em Décima hora.
“O texto das canções não é simples, mas também não é complexo. Não gosto de canções tolas, fico sempre querendo transformá-la, encontrar novos caminhos. Este disco tem melodias absolutamente assobiáveis. Elas só não são preguiçosas. Busco exaltar a canção em suas possibilidades”, comenta Fróes, logo acrescentando. “O Chico Buarque tem feito canções muito mais difíceis que eu. Caravanas é, na minha opinião, a maior canção da última década. Tenta cantá-la para ver como é difícil”, afirma.
Fróes, que já soma 11 álbuns solo, achou que era o momento de abrir mão de uma participação nos arranjos. Mandou as melodias, sempre voz e violão, para a França. “Só falei com ele da minha inspiração, que tem a ver com meu pai (a quem o disco é dedicado), que considerava a Santíssima Trindade o Jamelão cantando Lupicínio Rodrigues acompanhado da Orquestra Tabajara. Queria que eles imprimissem as influências dele, que não são naturais para mim, sobretudo o jazz. Conheço e ouço, mas não tenho intimidade com Miles Davis, Gil Evans, referências que ele trouxe para o trabalho”, conta.
Assim como o processo de composição, o de gravação foi muito rápido. Um combo de 10 músicos participou do disco (com naipe de metais bastante rico), gravado em cinco dias. Todas as faixas foram registradas ao vivo, com três takes. “A demora em lançar o disco se deveu mais a questões mundanas da vida. Tem mais a ver com as condições de gravar, conseguir dinheiro, do que a duração em gravar.”
E é com uma banda de 10 pessoas que ele vai levar O disco das horas para os palcos – a estreia será no dia 13, no Sesc Pompeia, em São Paulo. As músicas serão interpretadas na ordem e na íntegra. Quando começar a viajar com o novo show, ele vai ver a possibilidade de fazer a apresentação com todos os músicos. Senão, fará as devidas adaptações. “Não quero cometer o erro que cometi com o disco do Nelson Cavaquinho (Rei vadio, de 2016, só com canções do músico carioca). Ele tinha uma banda enorme e como me apeguei ao som do disco, acabei fazendo poucos shows. Como O disco das horas é de canções, ele funciona com voz e violão”, finaliza.
O DISCO DAS HORAS
De Rômulo Fróes
13 faixas
YB Music
Disponível nas plataformas digitais
R$ 20 (CD) e R$ 110 (vinil)