Celebrada por muitos comentaristas esportivos, a atual geração de futebolistas belgas tem como uma de suas principais características a multietnia. Entre os jogadores que enfrentarão o Brasil nesta sexta-feira (6), em Kazan, pelas quartas de final da Copa do Mundo, estão filhos de congoleses, espanhóis e marroquinos, mas todos nascidos na Bélgica. Se jogasse futebol, Alexandre Materna, de 28 anos, poderia ser mais um deles, mas foi nas rimas que esse filho de pai belga e mãe mineira encontrou o seu espaço.
Leia Mais
Brasil e Bélgica confrontam tradição e geração promissora também na cervejaEspaço no Buritis terá telão para o jogo do Brasil e shows com entrada gratuitaPríncipe William quebra protocolo e comemora classificação da Inglaterra na Copa Muita ostentação no país da Copa: conheça o hotel de luxo em Moscou que cobra diária de R$ 75 milEm clima de Copa, projeto cria escudos de times para os loucos por música'Vai fazer um gol', deseja filho de Neymar para o craque antes do jogo Festa e militância vão marcar as comemorações do orgulho LGBT em BH; confira programaçãoMusa da Copa, modelo brasileira anuncia noivado com goleiro da AlemanhaSeinfeld perde o amigo, mas não perde a piada em série da NetflixAmy Adams encara a dor por trás de objetos cortantes em série da HBOAos 11, o MC voltou à capital belga, onde viveu até os 15. O período em que morou em um bairro de imigrantes do Congo e de outras partes da África foi decisivo para sua elástica formação musical. “Quando fui para lá, eu ouvia mais o nosso funk daqui e entrei em contato especialmente com o rap em francês, que era o som oficial dessa galera. Isso teve muita influência no meu jeito de fazer as músicas e escrever as letras”, diz Papo.
Embora tenha se criado no funk e mergulhado no rap, a música que o projetou veio de outro estilo que ele também absorveu em seu país de nascimento. “Quando voltei da Bélgica, na adolescência, foi para valer.
“Lá em Bruxelas, no bairro em que eu vivia, tinha essa coisa de cada um querer representar sua cultura. Esse vídeo mostrava danças típicas, o Pelé fazendo gol, os boxeadores cubanos, os heróis de cada país latino, as bandeiras. Eu me vi representado e quis experimentar fazer isso, que entendi como o funk do Caribe”, explica.
PIONEIRO Papo reivindica ter o pioneirismo no Brasil do ritmo, hoje já gravado por Anitta e difundido pelas vozes de artistas latinos como Enrique Iglesias e Carlos Vives. “Para mim, foi triste isso, porque comecei aos 13 anos.
Não é para menos. Depois de Piriguete, o “belgo-mineiro” emplacou outros sucessos entre esses públicos específicos. Um deles foi o rap Texas, de 2013.
Embora pareça uma simples ironia, Papo explica que há um significado maior na comparação entre Minas e o estado norte-americano. “Acho que falei uma coisa que é verdade. Minas Gerais é o Texas brasileiro por carregar esse estigma de caipira, às vezes menosprezado culturalmente, mas é um estado importante e que influencia muito o resto do país. Eu via muitos rappers do Texas, como Paul Wall e Mike Jones, despontarem na cena dos EUA, antes dominada pelo eixo Nova York-Los Angeles. E pensei que, aqui no Brasil, um dia, BH poderia ser igual a Houston, criando tendências no rap ou no funk. Acabou que, de certa forma, isso vem acontecendo, com nomes daqui fazendo sucesso nacionalmente, como o Djonga e a Clara Lima.”
BELLORY HILLS Independente desde o começo de sua atividade musical, MC Papo já lançou três álbuns, além de vários singles e mixtapes, sempre transitando entre funk, rap, reggaeton e as misturas entre eles. No momento, ele diz que está “como um surfista esperando a próxima onda”, mas garante ter um hit engatilhado para o próximo carnaval. “Vão sair algumas antes, mas minha grande aposta é Bellory Hills, uma música sobre esse novo carnaval de BH, que vem impressionando todo mundo. Escolhi esse nome para ter um gancho com Texas e porque achei uma sonoridade legal nessa expressão que ouço muito o pessoal falar para se referir a BH.
Se na música MC Papo se divide, quando a bola rolar em Kazan ele não tem dúvidas: a torcida é pelo Brasil. A situação não é inédita para ele. Na Copa de 2002, ele estava na Bélgica quando as duas seleções se enfrentaram nas oitavas de final, com vitória brasileira. “A gente no Brasil é meio doente com futebol, né? Não fazia sentido para mim a escola não nos liberar para ver o jogo. Nem fazia sentido para eles eu pedir isso. Mas vi o jogo no refeitório da escola, torcendo pelo Brasil junto com um único colega brasileiro. Todos os outros alunos torcendo pela Bélgica”, relembra o rapper, que diz se preocupar com futebol apenas nas Copas.
Contudo, uma eventual vitória belga não o entristece. “Sou sempre Brasil, mas acharia legal também a Bélgica ganhar, já que nunca ganhou Copa nenhuma. Sei que meus amigos todos ficariam felizes por lá e seria uma festa inesquecível. Na periferia de origem estrangeira, como eles falam, mesmo cada um sendo de um lugar, todos se sentem iguais por ser diferentes.