O músico Thiago Amud é carioca da gema, mas bem que poderia ser mineiro, apesar de não ter nenhuma origem ou parentesco em Minas Gerais. O seu mais recente trabalho, o álbum O cinema que o sol não apaga, traz um pouco dessa paixão pelo estado. “Tenho muitos amigos queridos aí. Minas é, sem dúvida, o lugar do Brasil em que mais gosto de ficar. Não é demagogia porque estou falando com um jornal mineiro. Sou apaixonado por Belo Horizonte, por Minas Gerais de uma maneira geral.”
Quem lhe despertou esse sentimento tão intenso foi a obra de Guimarães Rosa (1908-1967) que, para Thiago, foi responsável por adensar sua consciência de brasileiro. Direta ou indiretamente, o autor de Grande sertão: veredas está presente em seu trabalho, tanto nos anteriores como em canções do novo disco – o xote Brasileia, O mundo imaginal, Cantilena alada e Nascença. Nas duas últimas, a mineiridade soa mais forte.
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A arte da capa de O cinema que o sol não apaga é da pintora mineira Leonora Weissmann. “Ela é um vulcão criativo. Comentei com a Leonora que gostaria de fazer alguma coisa inspirada nas gravuras do Goeldi, que ilustrou vários livros do Dostoiévski. E foi então que ela comentou que estava voltando a fazer xilogravuras. No dia seguinte, ela me mandou algumas extraordinárias”, lembra.
O disco de Thiago faz parte da seleção inaugural da nascente gravadora Rocinante, que já lançou o disco do artista mineiro Rafael Macedo e vai lançar os novos de Ilessi, Sylvio Fraga, Nelson Angelo, Letieres Leite e Guinga – é um mergulho no Brasil. Tem frevo, xote, bossa nova, toada e, como ele diz, “essa coisa brasileira multiforme”.
O nome O cinema que o sol não apaga tem provocado as mais diferentes interpretações e Thiago Amud tem gostado disso. Outro dia foi Caetano Veloso quem deu sua análise. “Ele comentou que se lembrou das suas sessões no interior da Bahia e que, quando saía do cinema, o sol era tão forte que não conseguia apagar da sua cabeça os filmes a que ele tinha assistido. É uma interpretação bem poética e ao mesmo tempo física”, diz.
Sempre presente na vida e na obra do cantor e compositor de 38 anos, a sétima arte é também um estímulo criativo. “Não é só a música de cinema, mas o próprio ritmo das cenas, a montagem. O nome do disco é um verso da primeira faixa, A mais bela cena, e virou uma espécie de centro gravitacional do disco”, explica.
O trabalho está disponível nas principais plataformas digitais e será lançado em CD e em vinil no segundo semestre. Traz 16 faixas, todas autorais. Apenas duas foram feitas em parceria – Brasileia, com Guinga; e Catirina desejosa, com Edu Kneip. Thiago Amud revela que nem todas as composições foram feitas especificamente para o disco, mas que acabaram entrando. “Desde que lancei meu último trabalho solo, há cinco anos, compus muita coisa. Daria para fazer uns três discos. Não é exagero.”
Por falar em “excessos”, O cinema que o sol não apaga reuniu 73 músicos em cerca de 350 horas de estúdio. A produção musical é de Ivo Senra. “Não é bravata, não. Foi isso tudo. É impressionante, não é? (risos). Mas deu tudo certo. Vamos começar a turnê em agosto e BH já está no roteiro. Em 30 de agosto, estamos aí no Teatro de Bolso do Sesc Palladium”, avisa.
Abaixo, ouça o disco O cinema que o sol não apaga:
O CINEMA QUE O SOL NÃO APAGA
>> Thiago Amud
>> Rocinante
>> 16 faixas
>> Disponível nas principais plataformas digitais