Finalmente, a viola se juntará ao queijo do Serro, à Comunidade dos Arturos de Contagem, à Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Chapada do Norte e às folias de Minas, das quais sempre foi aliada. Na quinta-feira (14), o instrumento será reconhecido como patrimônio cultural do estado. A ação é resultado do dossiê produzido pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), que será apresentado ao Conselho Estadual de Patrimônio Cultural durante reunião em BH.
Depois das formalidades, a viola será a estrela principal da celebração, nas mãos dos instrumentistas Chico Lobo, Pereira da Viola, Wilson Dias e Letícia Leal.Leia Mais
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“A partir deste reconhecimento, vamos identificar violeiros, luthiers e artesãos para elaborar um plano de salvaguarda a ser executado pelo governo futuramente. São ações para preservar esse patrimônio cultural. Na prática, isso pode significar mais editais para shows de viola, incentivo para a compra de instrumentos, cursos e oficinas de luthier, tudo de acordo com a demanda de cada região graças à identificação junto a esses coletivos de violeiros”, explica Michele Arroyo, presidente do Iepha. Cerca de 1,3 mil violeiros e mais de 90 construtores participaram do processo de pesquisa.
PAIXÃO O violeiro Chico Lobo diz que essa decisão institucional é motivo de alegria. “Reconhecer o seu tocar, o seu saber e o seu viver é reconhecer essa cultura pela qual me apaixonei ainda criança e quis levar para minha vida profissional.
Lobo defende a necessidade de promover a cultura popular. “Começamos a recuperar o terreno perdido para a música de entretenimento, como o sertanejo universitário. Temos de entender que a viola não é para a multidão, não é música de indústria, mas tem um nicho importante. Em Minas, noto a reação a essa globalização em festivais buscando a música de identificação, que passa a ser um ótimo mercado para nós. A viola sempre cumpriu uma função na cultura do interior, nas folias, festas de mutirão.
Se há preocupação em preservar tradições, outra demanda é romper barreiras. “É preciso desmistificar o lugar da viola com o fogãozinho de lenha, uma cachacinha ou café com pão de queijo”, defende o instrumentista Pereira da Viola. “Eu, Wilson Dias e Chico Lobo, a exemplo do Renato Andrade, nos dedicamos a uma linguagem artística musical que transcende este universo bucólico, em que ela está relegada ao tempo que já passou. Trazemos o instrumento para uma perspectiva mais contemporânea, respeitando a tradição histórica. Já quebramos muitos preconceitos, mas acredito que, com esse reconhecimento agora, esse processo continua avançando explica Pereira.
MACHISMO
Amanhã, Chico Lobo, Pereira da Viola e Wilson Dias estarão no palco montado no Memorial Minas Gerais Vale para celebrar a conquista, assim como Letícia Leal, de 32 anos. Para ela, a luta contra o preconceito é dupla. Além da promoção do instrumento, essa mineira batalha para provar que as mulheres têm vez nesse meio historicamente dominado pelos homens.
“É um privilégio e uma honra trilhar esse caminho.
A violeira diz que o instrumento oferece muitas possibilidades além do imaginário rural. “Temos uma viola caipira muito forte, que leva para o aspecto mais regional, da roça. Temos também a corrente de instrumentistas que a levam por outros caminhos. Há preconceito, tem gente que acha que viola só serve para tocar um tipo de música, como se não fosse um instrumento universal. Mas ela é universal”, argumenta.
Prova disso, afirma Letícia, estará na reunião de amanhã, que terá como convidada a Orquestra Oficina de Estudo Viola de Betim.
VIOLAS DE MINAS
Quinta-feira (14), às 19h. Memorial Minas Gerais Vale. Praça da Liberdade, 640, Funcionários. Com Chico Lobo, Pereira da Viola, Wilson Dias, Letícia Leal e Orquestra Oficina de Estudo Viola de Betim. Às 16h, será realizada reunião em que a viola será declarada patrimônio cultural de MG. Entrada franca. Informações: (31) 3235-2800..