Dias depois da polêmica sobre seu apoio a Donald Trump e de uma declaração ambígua sobre a escravidão, Kanye West volta com Ye, álbum no qual aborda temas atuais, mas também seus demônios e angústias.
“O hip-hop é a primeira forma artística criada por homens negros livres. E nenhum negro se beneficiou mais dessa liberdade do que Kanye West”, afirmou o ator Chris Rock durante o evento de lançamento do disco, em Wyoming, nos Estados Unidos, na semana passada.
O rapper evitou se pronunciar durante a festa. Obviamente, queria deixar que as canções falassem por ele. Em abril, West declarou em um tuíte o amor por seu “irmão” Donald Trump, posando com um boné onde estava escrito “Make America Great Again”, lema da campanha do político republicano. Foi essa a forma que ele escolheu para reivindicar liberdade de expressão e opinião.
Alguns dias mais tarde, o rapper se referiu à escravidão como uma “escolha” dos negros, provocando ainda mais alvoroço do que o gerado pela declaração sobre Trump.
Em Wouldn’t leave, faixa do disco Ye, o rapper repassa esse episódio, evocando as reações indignadas que se seguiram a seus comentários. “Só imagine se eles me pegam em um dia de loucura”, diz, em tom desafiador, enquanto elogia a reação da mulher, a estrela de reality shows americana Kim Kardashian West.
Coincidência ou não, Kim se encontrou com Trump, na semana passada, na Casa Branca. Pediu perdão para Alice Johnson, de 64 anos, condenada à prisão perpétua. A foto dos dois causou furor nas redes sociais.
ASSÉDIO Outras faixas de Ye estão relacionadas a temas polêmicos da atualidade.
Em All mine, Kanye menciona a estrela de cinema pornô Stormy Daniels, que diz ter mantido um caso com Donald Trump. A letra fala de adultério, mas não menciona o nome do presidente dos Estados Unidos.
Porém, o essencial de Ye é a propensão do compositor à introspecção. Embora o disco se pareça com os anteriores, o tom mais íntimo substitui a complexidade que fez de vários álbuns de Kanye West referências do rap.
Ye, alusão a um dos apelidos do músico, remete à depressão que ele experimentou em 2016 e aos demônios com os quais convive. Na faixa I thought about killing you, West flerta com o suicídio, por exemplo. (AFP).