A jovem paranaense Ana Vilela trocou o anonimato pelo sucesso na velocidade de seu Trem-bala. Essa canção foi gravada no segundo semestre de 2016, quando ela tinha apenas 18 anos, e lançada em seu canal no YouTube. Menos de um ano depois, era uma das músicas mais tocadas no país. No ranking Hot 100 Brasil da Billboard, a versão com participação de Luan Santana ficou várias semanas entre as 10 primeiras.
O produtor musical Fernando Lobo, ex-diretor artístico da Som Livre, procurou Ana Vilela tão logo a música virou sucesso. “A ideia era lançar um EP com cinco ou seis faixas, mas ao longo do processo ela criou outras canções de muita qualidade.
Antes de deixar a Som Livre, onde trabalhou por 11 anos, Lobo viu artistas do gênero darem os primeiros passos rumo ao sucesso. “Na Folk MPB, temos Anavitória, Tiago Iorc e o Nando Reis, a grande referência de muitos deles. Há um movimento vindo aí, com canções menos densas. O Brasil e o mundo precisam de músicas com mais leveza, que ajudem a gente a levar melhor as situações complicadas pels quais passamos.
Formada por Ana Caetano e Vitória Falcão, a dupla Anavitória se destaca na lista dos mais ouvidos nos últimos 12 meses no país. O álbum de estreia delas foi o sexto mais executado no Spotify em 2017. As jovens do Tocantins estouraram graças ao vídeo enviado ao ídolo Tiago Iorc. Ele gostou e assumiu a produção do trabalho delas.
Aos 35 anos, o brasiliense Iorc é uma das vanguardas da MPB Fofa. Em 2008, lançou o primeiro álbum, Let yourself in, em inglês. Emplacou hits em novelas da Globo e parcerias com Maria Gadú, Sandy e Milton Nascimento.
A trajetória dessa turma é parecida com a de Mallu Magalhães. Em 2008, aos 16 anos, ela estourou no YouTube cantando Tchubaruba. Referência da Nova MPB, lançou quatro álbuns solo e outro com a Banda do Mar. Ela será uma das atrações do festival PopLoad, em São Paulo, dividindo o palco com Tim Bernardes, vocalista da banda O Terno. Ano passado, Tim lançou o disco solo Recomeçar, sucesso de crítica, com as mesmas características de Iorc, Mallu, Ana Vilela e Anavitória.
INTERNET Esta geração não se limita à bela voz e ao violão no colo. Conseguiu usar muito bem as redes sociais para mostrar o próprio talento. O tom suave das melodias e o teor “permitido para menores” das letras sobre amor e trivialidades garantem a aceitação do público infantojuvenil. Acompanhada dos pais, a garotada garante plateias expressivas em shows e festivais.
Com 30 anos de experiência na indústria fonográfica, Marcelo Castello Branco, diretor-executivo da União Brasileira de Compositores (UBC), saúda esse movimento. “É sempre bem-vindo um certo resgate, pois a gente viveu e continua vivendo a cultura do mercado consumidor, do mainstream, com o monopólio do sertanejo e o crescimento do funk. Agora há o ressurgimento da MPB, com muito mérito.
Ex-presidente da Universal Music Brasil, Cone Sul e Península Ibérica e da EMI Music Brasil/América do Sul e Central, além de vice-chairman do conselho do Grammy Latino, Castello Branco aposta: “Do ponto de vista da MPB, é fantástico ter uma nova geração liderando esse movimento e se reinventando. Essa garotada jovem, que se relaciona com outros ritmos sem preconceitos, é sinal da força e da vitalidade da música brasileira.”
No cenário internacional, as chamadas “baladas fofinhas” também são tendência. O inglês Ed Sheeran, artista mais ouvido do mundo em 2017 no Spotify, é outro adepto das canções suaves. “Com a globalização, há pouca exclusividade de cada país, pois temos referências do mundo inteiro. Mesmo com 75% da música consumida aqui sendo nacional, o Brasil também tem referências estrangeiras e todos se alimentam disso”, conclui Marcelo Castello Branco.
Ouça alguns "sucessos fofos" da nova MPB: