Alexandre Kassin, de 44 anos, é o produtor que assinou trabalhos de Caetano Veloso, Los Hermanos, Erasmo Carlos, Mallu Magalhães, Adriana Calcanhotto, Vanessa da Mata e Nação Zumbi. É também músico de banda – integrou nos anos 1990 o Acabou La Tequila; formou com Moreno Veloso e Domenico Lancellotti o projeto +2, que, além de seus próprios discos, compôs Ímã, trilha para o Grupo Corpo; e é um dos membros da Orquestra Imperial, que hoje faz apresentações bissextas.
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Mesmo produzindo outros artistas constantemente, Kassin não para de compor. As 14 músicas que compõem Relax foram gravadas em não mais do que sete dias. Isso porque, ao convocar os instrumentistas que trabalhariam com ele, Kassin já tinha em mente o disco inteiro formatado.
“Quando vou fazer uma coisa minha, o conceito já está amarrado na cabeça. É engraçado, mas como trabalho com álbuns numa base diária, consigo visualizar quase tudo: tipo de instrumentação, arranjo. Aí, pego as canções que combinam com o ambiente que quero, o conjunto de textos do que quero falar, pois considero as letras muito importantes, elas tornam tudo mais pessoal.”
SOULMAN Relax percorre diferentes caminhos. A faixa-título (Kassin/Alberto Continentino) tem um clima dançante, funkeada, que dialoga com um dos melhores registros do álbum, Estrada errada. Uma das duas canções não autorais do disco é uma velha composição do soulman Hyldon, lançada há mais de 40 anos.
“Sou bastante fã dele e tocava Estrada errada em show. Não conhecia o Hyldon até ser convidado para participar do Rock in Rio Lisboa com ele e a banda (portuguesa) Orelha Negra. Como era um show coletivo, cada um escolhia tantas músicas. O Hyldon fez a lista dele e eu disse que queria cantar Estrada errada. Aí, ele disse que não, era uma música que ninguém conhecia e que era a primeira vez que saía do país. Eu disse que gostava tanto dela que poderia tirar alguma minha do repertório”, comenta Kassin. O encontro deu tão certo que eles gravaram essa faixa na sequência ao show, em Portugal.
A outra versão é Coisinha estúpida (do original Something stupid, sucesso sessentista da dupla Leno & Lílian). Aqui, Kassin divide os vocais com Clarice Falcão. O cover casa muito bem com a autoral Sua sugestão, um rock com balanço. Ouça:
ADULTÉRIO Com humor sempre ácido, Kassin fala do fim de amor em Comprimidos demais (“Dias de domingo são tão deprimentes/ Tédio e adultério são complementares/ Somos diferentes com comprimidos demais); debocha das velhas canções amorosas em Taxidermia, com voz de locutor de rádio (“O nosso amor/ Sobreviverá a gerações e gerações/ De pessoas medíocres/ De imitadores”).
Já que produz tanta gente, Kassin levou para seu próprio disco um bom número de amigos. O guitarrista Davi Moraes, o baixista Alberto Continentino e o baterista e percussionista Stéphane San Juan estão entre eles.
Foi desta maneira que Carlos Eduardo Miranda, morto em 22 de março, se tornou um consultor informal do trabalho. “Nunca tive produtor nos meus discos. Tive meus amigos que me davam toques, pois ninguém faz nada sozinho. Neste disco, a cada três, quatro músicas que gravava, eu mandava para o Miranda comentar. Foi a pessoa com quem mais troquei ideias. Ele que me disse que o disco tinha mais música do que precisava, mostrou o que estava sobrando, escolheu a ordem que as músicas deveriam entrar”, comenta Kassin. O encarte do álbum traz os devidos créditos a Miranda.
Agora que o disco está pronto, Kassin se prepara para colocá-lo na estrada. O primeiro show está previsto para maio, no Rio de Janeiro. Um cara de bastidor se tornar bandleader não é tarefa fácil, ele comenta. “No início da carreira solo (subir no palco) era como se eu estivesse pelado. Posso fazer qualquer coisa de áudio, mas essa história de cantar... Eu me sentia pouco à vontade. Só que se eu não cantasse essas minhas canções estranhas, ninguém iria fazê-lo por mim, ninguém iria conhecê-las”, comenta Kassin.
Duas canções dele, passados mais de 10 anos da gravação original, já tiveram várias regravações: Tranquilo já foi gravada 15 vezes – Bebel Gilberto e Thalma de Freitas são duas das intérpretes – e Água ganhou até versão de Caetano Veloso. “De algum jeito eu vi que meu projeto não estava sendo jogado fora”, brinca ele, que se diz hoje em dia mais confortável no papel de vocalista. “Mesmo que não seja a coisa mais natural do mundo para mim, não me dá mais medo”, finaliza.
WILSON DAS NEVES
O baterista Wilson das Neves morreu em 26 de agosto de 2017, aos 81 anos. Pois estava marcado para 28 de agosto o início da gravação do primeiro de dois álbuns de canções inéditas. “Era um projeto que ele vinha tentando fazer há muito tempo. Seria um disco de banda e outro com o (violonista mineiro) Thiago Delegado, só de voz e violão.” No sábado, 26, Kassin recebeu, pela manhã, um telefonema do próprio Wilson das Neves dizendo que estava indo para o hospital e que não poderia se encontrar com ele no estúdio dois dias mais tarde. Com a morte do músico, os amigos se mobilizaram para levar o projeto para frente. Na ausência dele, o projeto de voz e violão foi abortado. Um time de músicos e amigos vai participar das gravações, que ainda não têm data para começar. Chico Buarque, Ney Matogrosso e Emicida estão entre eles.
RELAX
. De Kassin
. Selo Lab 344
. 14 faixas
. Disponível nas plataformas digitais