CRISTIANO OTONI - Ter a morte como material de trabalho pode ser o caminho para um jovem do interior de Minas Gerais realizar o sonho de sua vida. Breno Baeta, de 24 anos, nasceu e cresceu em Cristiano Otoni, a 118 quilômetros de BH. Desde 2016, é o responsável pelo cemitério local, tendo sido selecionado em concurso público para o cargo de coveiro do município de apenas 5 mil habitantes.
Fã de rock e heavy metal, com especial devoção por Ozzy Osbourne, Breno resolveu homenagear o ídolo batizando (extraoficialmente) o cemitério com o nome do ex-vocalista do Black Sabbath. Agora, ele tenta tornar a homenagem oficial. Mais que um ato de reverência, ele acredita que isso poderá trazer melhorias para o espaço e talvez levá-lo a conhecer pessoalmente o Príncipe das Trevas, que faz show em BH em 18 de maio.
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Depois da transformação de sua vida causada pelo contato com a história de Osbourne e o heavy metal, a rotina de Breno voltou a mudar em 2016. No ano anterior, ele havia prestado concurso público para o cargo de coveiro. Empatado com outro candidato em primeiro lugar, foi preterido no edital por ser mais novo. No entanto, o servidor selecionado teve que lidar com seis mortes logo no primeiro dia de trabalho, número pouco usual para a cidade, que costuma ter dois ou três sepultamentos por mês, e acabou desistindo. Breno assumiu a função.
O recém-empossado coveiro investiu o primeiro salário na compra de passagens para o Rio de Janeiro e ingresso para o show da turnê de despedida do Black Sabbath naquele ano. Antes disso, ele já havia visto o ídolo de perto em 2011, no Mineirinho, em show solo, e em 2013, na Esplanada do Mineirão, com o Sabbath.
TRABALHO
Apesar da baixa demanda por sepultamentos, Breno percebeu que teria muito trabalho. “O coveiro anterior a esse último concurso ficou no cargo por 35 anos e nunca houve uma organização de quadras para otimizar o espaço, que hoje está quase esgotado. Além disso, não há um cômodo próprio para guardar as ferramentas. Tenho que guardar no velório, que não é lugar para isso. Vi que era um grito da comunidade reorganizar nosso cemitério.”
A primeira etapa das mudanças que ele idealizou foi dar nome ao local, que até então não tinha nenhum. “Por que não reorganizar e regulamentar o cemitério? Para que isso fosse feito, a primeira coisa que ele precisava era de um nome. Quem mais eu poderia homenagear, senão o grande Ozzy Osbourne, o cara que mudou a minha vida?”, diz o coveiro, que dá aulas de sociologia na escola estadual do município e cursa ciências sociais na Uemg de Barbacena. Para colocar o plano em curso, ele contou com a empresa que fabrica as placas de metal para as lápides.
“A fábrica de fundição sempre me procurava para saber o nome das pessoas que faleceram e as datas para produzir as lápides. Então, encomendei e comprei uma placa para o cemitério, homenageando o Ozzy”, conta Breno. A primeira placa que emprestava ao cemitério o nome do roqueiro foi roubada, mas o coveiro encomendou outras duas, uma para substituir a que desapareceu e outra que pretende entregar nas mãos do homenageado em sua próxima passagem por BH. “Gostaria muito de conhecê-lo pessoalmente e entregar essa homenagem. É um grande sonho.”
Breno já tentou um contato com o ídolo (sem sucesso) em 2013, na porta do hotel em que Ozzy se hospedou em BH. Em Cristiano Otoni, poucas pessoas conhecem Ozzy ou compreendem a natureza da homenagem que ele fez ao ídolo. “Tem gente que pensa que John Michael Osbourne é algum inglês que trabalhou antigamente na ferrovia da nossa região”, diz ele.
Embora possa parecer delicada a associação de um ídolo polêmico do rock com o cemitério interiorano, Breno não teme reações negativas e garante contar com apoio de muita gente a sua iniciativa. Reforça que o nome, por enquanto extraoficial, é apenas detalhe em um projeto maior para melhorar o espaço. “As pessoas não falam muito sobre cemitério, pois a morte é um dos maiores tabus que temos. Espero que o nome seja um impulsionador para resolver os problemas do cemitério daqui, e não a maior preocupação das pessoas”, argumenta.
Burocracias
Para oficializar o batismo do cemitério, o coveiro prepara um Projeto de Lei de Iniciativa Popular a ser entregue aos vereadores. Ele recolheu 92 das 210 assinaturas necessárias para o texto entrar em tramitação. O poder público, inclusive, reconhece a demanda. “O Breno é novo na função, uma pessoa muito inteligente e está pensando em um planejamento interessante para o nosso cemitério, que é antigo e nunca teve aquele cuidado necessário. É um local que mexe com o sentimento das pessoas e requer do poder público a devida atenção”, afirma o vice-prefeito de Cristiano Otoni, Márcio Rezende (PTB). Porém, ele lembra que as questões burocráticas devem ser bem discutidas com todos os setores da sociedade antes de qualquer execução.
O presidente da Câmara, Evaldo Jesus de Souza (PT), afirma que iniciativas de melhoria têm apoio da casa, desde que devidamente discutidas. No entanto, o ousado plano de nomear o cemitério oficialmente com o nome de Ozzy pode esbarrar na Lei Orgânica do Município, que proíbe tal prática com pessoas ainda vivas, conforme explicou nota oficial da Câmara divulgada na quinta-feira.
Pelo mesmo motivo, a casa solicitou que o coveiro retirasse a placa do local, ainda que ela não fique exposta permanentemente, por conta do primeiro roubo. Breno não se preocupa: “O batismo simbólico está feito, assim como a homenagem de alguém que ama o metal e é grande fã do Ozzy. É isso que importa”, garante.
DESPEDIDA EM BH
Aos 69 anos, o inglês Ozzy Osbourne anunciou que fará sua última turnê mundial. O giro, que começa com dois shows nos EUA em abril, virá a BH depois de passar por México, Chile, Argentina, São Paulo e Curitiba. Apelidado de Príncipe das Trevas, “o pai do heavy metal” é idolatrado pelo visual inconfundível – unhas pintadas, sombra nos olhos e cabelos compridos –, além da surpreendente resistência aos abusos de álcool e drogas, dos quais garante estar longe atualmente, além de bizarrices como a mordida na cabeça de um morcego durante um show em 1982.
OZZY OSBOURNE – NO MORE TOURS 2
Sexta-feira, 18 de maio, às 21h, na Esplanada do Mineirão.Ingressos: Pista premium – R$ 600 (inteira) e R$ 300 (meia). Pista em pé – R$ 300 (inteira) e R$ 150 (meia). À venda no site www.ticketsforfun.com.br e na bilheteria do KM de Vantagens Hall (Av. Senhora do Carmo, 230 , Savassi). Mais informações: (31) 4003-5588.