Bandas criticam pouco espaço dado à música celta no St. Patrick de BH

Nos eventos da capital, predominam bandas de pop rock nacional ou cover, enquanto a cultura irlandesa fica em segundo plano

por Walter Felix 16/03/2018 09:57
McMiners/Acervo
A banda mineira McMiners mantém a tradição até nos figurinos. (foto: McMiners/Acervo)

 

As atrações musicais selecionadas para as festas de St. Patrick nem sempre seguem a tradição irlandesa. Nos eventos promovidos em BH, predominam grupos de pop rock nacional ou covers, enquanto bandas locais que reverenciam a música celta lutam por espaço na cena cultural.

É o caso da McMiners, liderada pelo músico e vocalista Gabriel Leão. Ele não considera que a presença de artistas de outros estilos traia a proposta da festa, cuja origem, aliás, não é irlandesa. “Quem deu início a esses eventos cervejeiros de Saint Patrick foram os norte-americanos. Na Irlanda, antigamente, a data era celebrada com uma ida à igreja ou a contemplação dentro de casa”, diz Gabriel.

Contudo, o músico lamenta que o momento não seja dedicado à valorização de uma cultura com pouca visibilidade, o que se reflete nos poucos convites recebidos pelo grupo. “De certa forma, o movimento (de levar bandas de pop rock às festas irlandesas) contribui para isso. Porém, não há ressentimento quanto a esse fato”, garante. Neste fim de semana dedicado a St. Patrick, a McMiners tem apenas um show agendado: no restaurante Svarten Mugg Taverna (Rua Santa Rita Durão, 1.056, Savassi), sábado (17), a partir das 16h, com ingressos a R$ 15.

 

PUNK McMiners persiste na cena alternativa da capital desde 2012. No ano passado, a formação original se dissipou e um hiato nas atividades chegou a ser planejado. Aliado a novos membros, Gabriel conseguiu manter a agenda de shows. Assim como ele, os atuais integrantes são mineiros: Nicolas Ramos (gaita de fole, banjo e small pipes), Pedro Espínola (banjo e tin whistle), Marlon Ossiliere (guitarra e violão), Davi Batista (bandolim) e Miguel Gonçalves (bateria e percussão).

Apesar do pouco espaço, há público cativo para o estilo em BH. “Nossos fãs compreendem muito bem a pluralidade da música celta. Eles vão tanto a nossos shows quanto aos de bandas que seguem a linha medieval e romântica. Muitas pessoas associam música celta ao estilo medieval, místico, e desconhecem o quão plural ela é. Seguimos uma vertente diferente, menos romântica, com músicas mais ousadas e voltadas para temáticas contemporâneas”, explica Gabriel Leão.

O figurino dos seis integrantes se inspira na classe trabalhadora irlandesa do século 19, com direito a boina, suspensório e colete. O repertório punk celta é quase totalmente autoral, mas os integrantes fazem covers de canções conhecidas desse estilo, como sucessos dos grupos Flogging Molly e Dropkick Murphys.

PIRATAS Também inspirada no movimento do punk irlandês, a banda The Celtas une a tradição do país europeu a ritmos brasileiros. Os integrantes se definem como “piratas do sertão”. “Nossas músicas são da tradição do mar, mas como moramos em Minas Gerais, nossa referência estética se aproxima do cerrado, do sertão. Mesmo que a gente toque música inspirada na cultura de outros países, buscamos referências mineiras e brasileiras”, diz o líder Karl Mooney.

O repertório mescla cultura celta e temáticas latinas, com influências do country e do punk. Algumas novas composições serão apresentadas no fim de semana. “Uma canção que achamos que vai ser bem-sucedida é The fall – The ballad of Roll Girl Mountain, sobre a Serra do Rola Moça, aqui perto de BH. Outra fala sobre a chegada de 3,5 mil irlandeses ao Rio de Janeiro em 1828”, revela Karl. Completam o The Celtas os músicos Leo Von Barbarosa, João Gabriel, Mark da Silva, Luiza Munk, Paulo Bueno e Sarah Reis.

Dos sete integrantes, apenas Karl não é brasileiro. Partiu desse irlandês a iniciativa de fundar uma banda “celta-mineira”, quando notou que não havia música ao vivo na festa de St. Patrick promovida na Savassi, em 2009. Ele lamenta que as celebrações na cidade não exaltem a cultura irlandesa.
“Este é um dia em que as pessoas do mundo inteiro celebram um povo que lutou contra a tirania, sofreu muito e que ainda assim consegue ser feliz e forte. A própria tradição de usar roupas e acessórios verdes é referência à luta contra a dominação inglesa, quando irlandeses eram perseguidos, no século 18, por vestirem verde, cor que simboliza a sua nação”, relembra.

A agenda da The Celtas começa nesta sexta-feira (16), às 19h, no Underground Black Pub (Av. Itaú, 540, Dom Cabral). Depois, o grupo segue para o Mercado (Av. Olegário Maciel, 742, Centro). No sábado (17), a partir das 14h, a banda participará da festa que será realizada na Avenida Brasil com Praça Floriano Peixoto, no Bairro Santa Efigênia.

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