Musical sobre amor lésbico estreia em BH

Ellen Oléria e Elisa Lucinda protagonizam musical sobre o amor lésbico. Dirigido e escrito por Sérgio Maggio, espetáculo tem só mulheres no elenco

por Ana Clara Brant 13/03/2018 08:00

Ellen Oléria e Elisa Lucinda defendem a liberdade sexual e a tolerância em L, o musical
Patrícia Lino/divulgação (foto: Ellen Oléria e Elisa Lucinda defendem a liberdade sexual e a tolerância em L, o musical)
Ano passado, depois de assistir, em São Paulo, a L, o musical, que celebra o amor entre mulheres ao som de canções da MPB, um espectador decidiu ir ao camarim. “Ele contou que se tivesse visto o espetáculo três anos antes, não teria expulsado a filha lésbica de casa. A moça foi embora só com a roupa do corpo, sem dinheiro. Nunca mais o pai a viu. Até detetive ele colocou para encontrá-la. Disse que só agora entendeu que a filha só queria amar. Nós nos abraçamos e choramos. É muito bacana perceber essa força que o teatro tem, que não se encerra nas cortinas”, conta Sérgio Maggio, dramaturgo, diretor e idealizador da montagem que chega ao CCBB de Belo Horizonte na quinta-feira (15), depois de temporadas em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo.


Na trama, Ester Rios (Elisa Lucinda), renomada autora de novelas, está feliz com o sucesso do primeiro folhetim com um triângulo amoroso formado por mulheres. Ela divide seu cotidiano profissional e afetivo com amigas, sempre se lembrando de seu grande amor, Rute (Ellen Oléria). Algumas revelações e a chegada de notícias inesperadas mudam o destino de todas elas.

De volta ao teatro depois de 12 anos, a cantora e atriz Ellen Oléria destaca a mensagem de transformação dessa peça. “Gente que nunca tinha se visto retratada em um espetáculo teatral se emociona profundamente. É uma catarse. As pessoas riem, choram e se identificam. Levam a família, namorados ou namoradas. Já teve pedido de namoro, renovação de votos e até casos de aceitação maior por parte de familiares. A narrativa altera o curso da história. Isso é revolucionário. Arte é isso”, afirma.

 

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Sérgio Maggio fez questão de escolher duas negras como protagonistas, apesar de a trama não flertar com a negritude. “Queria mexer com o racismo estrutural. A questão da cor não precisa ser explícita. A Elisa e a Ellen trazem em si um poderoso discurso político mobilizador”, justifica o autor, que teve a ideia de montar o musical baseado na própria experiência de vida: “Tenho grandes amigas lésbicas, frequento os ambientes delas, que sempre comentaram a invisibilidade da mulher homossexual na cultura.”

Depois de pesquisar 500 canções com o auxílio de Ellen Oléria e do diretor musical Luís Filipe de Lima, Maggio chegou a 22 faixas interpretadas por cantoras que se assumiram homossexuais ou bissexuais ou, de alguma maneira, atraíram a empatia desse público. Entre elas estão a própria Ellen, Simone, Adriana Calcanhotto, Márcia Castro, Cássia Eller, Mart’nália, Isabella Taviani, Maria Gadú, Leci Brandão, Sandra de Sá, Angela Ro Ro, Marina Lima e Maria Bethânia. “Essas trilhas embalaram a minha vida. O critério foram canções que tenham um caráter dramatúrgico e não meramente ilustrativo”, explica.



Elisa Lucinda celebra – mas também lamenta – o fato de só agora interpretar a primeira lésbica da carreira. Isso mostra como a ficção ainda está longe da realidade, pondera. “É triste e uma honra ao mesmo tempo. Tenho muitas amigas lésbicas, conheço suas histórias e romances. Elas estão emocionadas de se ver retratadas. O espetáculo tem uma força política enorme”, ressalta.

Atriz, cantora, escritora e poeta, Elisa comemora a mistura de linguagens de L e o destaque dado ao domínio feminino. “Esse espetáculo trata de liberdade, intolerância e sexismo com leveza, delicadeza e profundidade. O Brasil tem a chance de ver uma produção protagonizada só por mulheres, seja cantando, tocando ou atuando. E todas talentosíssimas”, destaca.

O elenco conta também com as atrizes Luísa Caetano, Gabriela Correa, Tainá Baldez e Luiza Guimarães (que, em 17, 24, 25 e 30 de março fará o papel de Rute no lugar de Ellen Oléria). A banda é formada por Marlene de Souza Lima (guitarra), Janaína Sabino (teclado), Alana Alberg (baixo) e Georgia Câmara (bateria).


L, O MUSICAL
Autor e diretor: Sérgio Maggio. Com Elisa Lucinda e Ellen Oléria. De quinta-feira (15) a 9 de abril, no Centro Cultural Banco do Brasil. Praça da Liberdade, 450, Funcionários, (31) 3431-9400. Sessões de quinta a segunda-feira, às 20h. Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada). Vendas on-line: eventim.com.br. Classificação: 16 anos.



ENSAIO ABERTO

Na quarta-feira (14), às 20h, haverá ensaio aberto de L, o musical, com entrada franca, no CCBB-BH. Bate-papo com elenco e direção sobre o processo criativo será realizado depois da sessão de sábado (17). Já o workshop Dramaturgia para musical, ministrado pelo diretor e dramaturgo Sérgio Maggio, está marcado para sábado (17), das 10h às 12h e das 14h às 17h, e domingo (18), das 14h às 17h. Essa atividade é voltada para estudantes, atores, diretores, produtores e interessados em teatro. Inscrições gratuitas podem ser feitas por e-mail (espetaculol.omusical@gmail.com).

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