Ano passado, depois de assistir, em São Paulo, a L, o musical, que celebra o amor entre mulheres ao som de canções da MPB, um espectador decidiu ir ao camarim. “Ele contou que se tivesse visto o espetáculo três anos antes, não teria expulsado a filha lésbica de casa. A moça foi embora só com a roupa do corpo, sem dinheiro. Nunca mais o pai a viu. Até detetive ele colocou para encontrá-la. Disse que só agora entendeu que a filha só queria amar. Nós nos abraçamos e choramos. É muito bacana perceber essa força que o teatro tem, que não se encerra nas cortinas”, conta Sérgio Maggio, dramaturgo, diretor e idealizador da montagem que chega ao CCBB de Belo Horizonte na quinta-feira (15), depois de temporadas em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo.
Na trama, Ester Rios (Elisa Lucinda), renomada autora de novelas, está feliz com o sucesso do primeiro folhetim com um triângulo amoroso formado por mulheres.
De volta ao teatro depois de 12 anos, a cantora e atriz Ellen Oléria destaca a mensagem de transformação dessa peça. “Gente que nunca tinha se visto retratada em um espetáculo teatral se emociona profundamente. É uma catarse. As pessoas riem, choram e se identificam. Levam a família, namorados ou namoradas. Já teve pedido de namoro, renovação de votos e até casos de aceitação maior por parte de familiares.
Sérgio Maggio fez questão de escolher duas negras como protagonistas, apesar de a trama não flertar com a negritude. “Queria mexer com o racismo estrutural. A questão da cor não precisa ser explícita. A Elisa e a Ellen trazem em si um poderoso discurso político mobilizador”, justifica o autor, que teve a ideia de montar o musical baseado na própria experiência de vida: “Tenho grandes amigas lésbicas, frequento os ambientes delas, que sempre comentaram a invisibilidade da mulher homossexual na cultura.”
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Elisa Lucinda celebra – mas também lamenta – o fato de só agora interpretar a primeira lésbica da carreira. Isso mostra como a ficção ainda está longe da realidade, pondera. “É triste e uma honra ao mesmo tempo. Tenho muitas amigas lésbicas, conheço suas histórias e romances. Elas estão emocionadas de se ver retratadas. O espetáculo tem uma força política enorme”, ressalta.
Atriz, cantora, escritora e poeta, Elisa comemora a mistura de linguagens de L e o destaque dado ao domínio feminino. “Esse espetáculo trata de liberdade, intolerância e sexismo com leveza, delicadeza e profundidade. O Brasil tem a chance de ver uma produção protagonizada só por mulheres, seja cantando, tocando ou atuando. E todas talentosíssimas”, destaca.
O elenco conta também com as atrizes Luísa Caetano, Gabriela Correa, Tainá Baldez e Luiza Guimarães (que, em 17, 24, 25 e 30 de março fará o papel de Rute no lugar de Ellen Oléria). A banda é formada por Marlene de Souza Lima (guitarra), Janaína Sabino (teclado), Alana Alberg (baixo) e Georgia Câmara (bateria).
L, O MUSICAL
Autor e diretor: Sérgio Maggio.
ENSAIO ABERTO
Na quarta-feira (14), às 20h, haverá ensaio aberto de L, o musical, com entrada franca, no CCBB-BH. Bate-papo com elenco e direção sobre o processo criativo será realizado depois da sessão de sábado (17). Já o workshop Dramaturgia para musical, ministrado pelo diretor e dramaturgo Sérgio Maggio, está marcado para sábado (17), das 10h às 12h e das 14h às 17h, e domingo (18), das 14h às 17h. Essa atividade é voltada para estudantes, atores, diretores, produtores e interessados em teatro.