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Nascida na Espanha e radicada no Brasil, Irene Atienza lança primeiro disco solo

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O mesmo mar que banha sua Santander de 180 mil habitantes, no litoral norte da Espanha, é o que bate na costa do Brasil. Um capricho geográfico que define a existência de Irene Atienza. Seu primeiro disco solo, Salitre, álbum que tem potencial para ser dos mais festejados da temporada, atinge o ponto raro dos encontros entre grandes culturas. Quando Irene canta, com uma voz de força flamenca impactante e arrebatadora, não se sabe mais onde começa a Espanha e termina o Brasil. Ela faz seu próprio país em algum lugar entre os continentes.


E é ela quem define melhor, em um texto de contracapa, a ideia de ligação marítima, reduzindo-a a um grão de sal entre seu país de origem e o de destino, onde vive desde 2013. “Quero mostrar o salitre que há na pele de minhas músicas que nasceram entre a Espanha e o Brasil e mergulharam em outros mares. Salitre que me faz voltar para casa em cada novo lugar. Porque somos sal do mesmo mar.”


Irene, de 36 anos, tem a Espanha palpável nos violões e no canto. A dramaticidade do flamenco que a criou desde a infância em Santander encontrou no Brasil sua tradução no violão de sete cordas do brasileiro Douglas Lora, que já esteve com ela em outras formações.
Del mismo mar, a canção em espanhol que abre o disco, já vem com a voz grande preenchendo tudo. Irene é das cantoras que economizam para não transbordar. Sinais, agora em português, é um samba-canção na ideia, mas com a mesma economia nos arranjos de Lora, apenas as sete cordas, bateria e percussão. E o son cubano De la vida segue para outro campo, com o piano havanero de Pepe Cisneros, o baixo acústico de Danilo Penteado e a percussão de Kabê Pinheiro. E então vem Grãos de sal, a isca jogada nas redes antes de tudo acontecer. Uma canção afrolatina e caribenha cheia de suingue e com a voz de Lenine.

SEGURANÇA As músicas apontam para um começo fora da curva de uma nova cantora no Brasil com uma segurança de interpretação e um faro pelo bom repertório que não se veem há tempos. Sem buscar pelo “conceito dos ruídos” ou pelas “quase-interpretações” que poderiam alinhá-la ao que se chama de nova MPB, Irene tem a temperatura sempre elevada. Seus arranjos, assinados por Lora e pelo craque Swami Jr., não desperdiçam notas.
E ela ainda é cantora de si mesma, compositora de quase todo o disco.


Além das quatro iniciais, são suas também o samba triste Como assim; o samba-flamenco Las calles de lunes; e Vem cá, dor, com arranjo de Douglas Penteado, que chega dizendo assim: “Vem cá, dor / vem me fazer maior / vem me fazer chorar / até o mal sair de mim.”


As homenagens são para quatro compositores de países que marcam o que Irene faz. Do cubano Silvio Rodríguez ela canta Demasiado. Do espanhol Joaquín Sabina, tem Peces de ciudad. Do argentino Atahualpa Yupanqui, faz Piedra y camino. E do Brasil canta, em espanhol, O bem do mar (vertida para El bien del mar, com violão impecável de Jony Gonçalves), de Dorival Caymmi.


As conexões ibéricas serão usadas em sua carreira. Logo depois do Brasil, ela quer lançar Salitre na Espanha e em Portugal. E viver? Ela volta para a Espanha? “A minha ideia é ficar um pouco mais no Brasil, agora que minha carreira está ficando boa por aqui.” Desde sua chegada, o que observa como características que diferem brasileiros e espanhóis? Uma pergunta de resposta sempre dolorosa de se ouvir. “Eu sentia muito o que achava ser uma espécie de falta de compromisso do brasileiro.

Um ‘se rolar, rolou’. E eu acreditava em tudo. Acabei me acostumando com isso. A palavra, na Espanha, tem mais peso.” Por outro lado, ela diz: “Aqui, o nível dos músicos é incrível. A música no Brasil é algo que não tem fim, é intensa, não termina nunca por aqui. É o que me prende ao Brasil”.

 

Abaixo, confira a música Grãos de sal

 

 

Salitre
Artista: Irene Atienza
Gravadora: independente
Preço sugerido: R$ 28

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