Alex Kapranos, vocalista e guitarrista do Franz Ferdinand, sentia algo a perseguí-lo. E era ele mesmo, 15 anos mais jovem: um escocês magrelo e impertinente de Glasgow, de 31 anos, florescendo como uma das sensações do rock britânico como uma opção dançante e mais cristalina do que o romantismo corrosivo de outro sucesso daquele início dos anos 2000, a banda Libertines, dos enlouquecidos Carl Bârat e Pete Doherty.
Aos 40 e poucos anos, o músico buscava uma forma de fugir da sombra do seu passado, carregado pelos sucessos da banda do início da década passada, caso de Take me out, uma dance music disfarçada de pós-punk, revigorada, robótica – e perfeita para quadris duros exibirem domínio de algum molejo que seja.
Mas o Franz Ferdinand não poderia ser mais a banda dos anos 2000, como eles o fizeram em Right thoughts, right words, right action, de 2013, no qual falavam, em todas as entrevistas, que estavam “resgatando o som do início da banda”, ou coisa parecida. Por mais bonito e romântico que isso seja, atitudes assim soam mais como “fan-service” – como são chamadas as inserções em filmes para agradar os fãs mais ferrenhos. A verdade é que, sim, faltava vigor – e um pouco de juventude.
Trancafiado numa casa no interior, nas proximidades de Glasgow, com a companhia de um cachorro, Kapranos deu início a uma nova história. O Franz Ferdinand estava em um período de hiato, depois de ter lançado disco em parceria com a banda Sparks chamado FFS, de 2015. Naquele ano de 2016, o guitarrista Nick McCarthy, responsável por segurar as pontas nas guitarras deliciosamente mecânicas sempre marcantes do grupo, anunciou que estava de partida para cuidar de outros projetos e estar mais próximo da família.
“Eu pensava em soar o menos possível com o que o Franz Ferdinand havia feito até ali”, conta Kapranos, sobre o lançamento de Always ascending, o disco surgido a partir do momento de reflexão a respeito do futuro da banda, lançado na última sexta (9). Foi, mesmo, um começo do zero. Sem expectativas, segundo ele.
Depois do período solitário de Kapranos, ele se viu acompanhado por Bob Hardy, o baixista e também fundador do grupo. Aos poucos, ao longo daquele 2016 o Franz Ferdinand foi se reagrupando, interpretando novamente a essência da banda – que é uma sensação, a vontade de ferver numa dança despretensiosa, mais do que uma estética sonora pré-formatada. Convocaram Philippe Zdar, integrante do duo francês cool e sintetizado Cassius, para produzir o álbum.
Quando as canções já tinham forma, em agosto de 2017, Julian Corrie ingressou na banda para pilotar teclados, sintetizadores e, vez ou outra, a guitarra – ele ocupou o posto de McCarthy, mas, diferentemente do seu antecessor, o foco dele são as teclas, não as cordas. Por fim, quando Always ascending já estava gravado – em fase de finalização, mixagem e masterização –, chegou Dino Bardot para sustentar a pressão da guitarra nas apresentações.
“Não é que estamos negando aquilo que a gente fez na carreira”, explica o vocalista. “Não estamos rejeitando o passado. Afinal, ele existe em todos nós. Faz parte de quem somos. O que buscamos é uma ideia de como seguir em frente, olhar adiante”, afirma.
Always ascending é diferente daquilo que o Franz Ferdinand já produziu, mas não tanto – talvez os cabelos platinados de Kapranos sejam o mais chocante –, mas a mudança é facilmente sentida a partir da faixa-título, que abre o trabalho. Uma canção de levada nascida calma e cresce no looping dos beats. É som de pista, ainda cíclico como o velho Franz Ferdinand, mas agora é escancaradamente sintético.
“Não queríamos nos repetir. Fazer algo que já fizemos antes. E estávamos em busca de um novo som para a banda, para dar início à nova fase”, conclui Kapranos. O novo Franz Ferdinand aprendeu a mergulhar por nuances mais profundas e saiu besuntado por uma linguagem eletrônica. A melhor forma de deixar o passado para trás, afinal, é começar algo novo. “É isso, não estávamos só criando canções. É uma nova banda.”