Wesley Safadão, Simone & Simaria, Marília Mendonça, Fernando & Sorocaba e Luan Santana são figurinhas carimbadas da música sertaneja. No entanto, todos vêm cantando diferente. Já se arriscaram no samba em dobradinhas com Péricles e ImaginaSamba. No funk, ao lado de MC Kevinho, Nego do Borel, MC G15, MC Lan e Dennis DJ. E até no eletrônico com os DJs JetLag e Alok.
A mistura é boa para os dois lados. Primeiro, porque o sertanejo domina a programação das rádios e parcerias dão visibilidade a outros gêneros. Pesquisa divulgada pela Crowley revela que das 100 canções brasileiras mais tocadas no ano passado, 87 eram sertanejas. Por outro lado, as dobradinhas ajudam a renovar o público desse ritmo. A estratégia também inclui grandes festivais. O Villa Mix e o Festeja, por exemplo, começaram dedicados ao sertanejo, mas abriram espaço para a música eletrônica e o funk.
Essa mistura de estéticas não é uma novidade, afirma o historiador Gustavo Alonso, professor da Universidade Federal de Pernambuco e autor do livro Cowboys do asfalto. Para ele, mesclar gêneros pode parecer ruim para alguns, mas tem tudo a ver com a história do Brasil. “É a nossa beleza e a nossa tragédia. Todo gênero musical nasceu de uma mistura. A MPB, por exemplo, não aceitava a guitarra. Depois do exílio de Caetano e Gil, incorporou a Tropicália e sua abertura estética. Acho que a mistura é sempre positiva e pode gestar um outro gênero”, pondera Alonso.
RESISTÊNCIA O especialista diz que no Brasil há grande resistência ao novo e à cultura popular de massa. “Uma parcela da intelectualidade, dos debatedores de cultura, tem a tendência de reagir contra algo massivo. E encaixam a música sertaneja aí como algo que não contribui para a cultura brasileira. Porém, o sertanejo é um símbolo de nossa cultura. Esse discurso foi necessário nos anos 1920 e 1930, quando cabia mostrar as raízes do povo brasileiro, mas ele ficou engessado”, reforça.
Gustavo considera louvável um artista se arriscar a gravar um ritmo diferente do seu. Ainda que se trate de opção mercadológica, “é lidar com o que você não sabe se vai dar certo”, pondera. Ele cita o exemplo de Ai se eu te pego, que projetou Michel Teló mundialmente. Gravada como forró, chamou a atenção por se misturar um pouco com o funk, algo impensável para o sertanejo nos anos 1990.
“Apesar de ter sido novidade essa mistura com funk, a identidade da música sertaneja está muito ligada à junção de ritmos. Foi uma especificidade que surgiu ainda na década de 1950, quando o rasqueado se misturou com a rancheira”, comenta Alonso.
A mistura parece agradar aos fãs. No YouTube, funknejos acumulam milhões de visualizações. Dobradinha de Naiara Azevedo e MC Kevinho, Mentalmente, lançada em julho do ano passado, ultrapassou 170 milhões de execuções. A parceria da dupla João Bosco & Vinícius com Kevinho em Cê acredita, também de 2017, bateu 116 milhões de visualizações. A partir disso, funkeiro gravou com Matheus & Kauan e Safadão. Kevinho e Simone & Simaria lançaram Tá tum tum para este carnaval. Suave, parceria do DJ Alok com Matheus & Kauan, conquistou 16 milhões de views no canal oficial do DJ.
O cantor e compositor Sorocaba, da dupla Fernando & Sorocaba, afirma que o sertanejo é versátil e casa bem com outros ritmos. “A parceria com o funk, que fizemos com o Nego do Borel, e com o eletrônico, com o JetLag, só reforça essa versatilidade e mostra que, em termos de mercado, a união soma para ambos os lados”, comenta. Para ele, não existe disputa. “Um ritmo não perde espaço para o outro. Pelo contrário, cada artista faz seu trabalho muito bem e, hoje em dia, tem espaço pra todo mundo”, observa.
O experiente produtor Eduardo Pepato adverte: a mistura deve ser feita, mas com moderação. “Quando dá certo, as pessoas tendem a entrar na onda e fazer igual ou bem parecido. Mas não dá pra ficar repetindo o que já deu certo com o outro. Se já fizeram música com Alok, vamos partir para outra participação, outro estilo. Se você faz igual, não é mais novidade, passa a ser comum e isso talvez não agrade tanto ao público”, avisa ele, que trabalhou com Henrique & Juliano, Maiara & Maraísa e Marília Mendonça.
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Essa mistura de estéticas não é uma novidade, afirma o historiador Gustavo Alonso, professor da Universidade Federal de Pernambuco e autor do livro Cowboys do asfalto. Para ele, mesclar gêneros pode parecer ruim para alguns, mas tem tudo a ver com a história do Brasil. “É a nossa beleza e a nossa tragédia. Todo gênero musical nasceu de uma mistura. A MPB, por exemplo, não aceitava a guitarra. Depois do exílio de Caetano e Gil, incorporou a Tropicália e sua abertura estética. Acho que a mistura é sempre positiva e pode gestar um outro gênero”, pondera Alonso.
RESISTÊNCIA O especialista diz que no Brasil há grande resistência ao novo e à cultura popular de massa. “Uma parcela da intelectualidade, dos debatedores de cultura, tem a tendência de reagir contra algo massivo. E encaixam a música sertaneja aí como algo que não contribui para a cultura brasileira. Porém, o sertanejo é um símbolo de nossa cultura. Esse discurso foi necessário nos anos 1920 e 1930, quando cabia mostrar as raízes do povo brasileiro, mas ele ficou engessado”, reforça.
Gustavo considera louvável um artista se arriscar a gravar um ritmo diferente do seu. Ainda que se trate de opção mercadológica, “é lidar com o que você não sabe se vai dar certo”, pondera. Ele cita o exemplo de Ai se eu te pego, que projetou Michel Teló mundialmente. Gravada como forró, chamou a atenção por se misturar um pouco com o funk, algo impensável para o sertanejo nos anos 1990.
“Apesar de ter sido novidade essa mistura com funk, a identidade da música sertaneja está muito ligada à junção de ritmos. Foi uma especificidade que surgiu ainda na década de 1950, quando o rasqueado se misturou com a rancheira”, comenta Alonso.
A mistura parece agradar aos fãs. No YouTube, funknejos acumulam milhões de visualizações. Dobradinha de Naiara Azevedo e MC Kevinho, Mentalmente, lançada em julho do ano passado, ultrapassou 170 milhões de execuções. A parceria da dupla João Bosco & Vinícius com Kevinho em Cê acredita, também de 2017, bateu 116 milhões de visualizações. A partir disso, funkeiro gravou com Matheus & Kauan e Safadão. Kevinho e Simone & Simaria lançaram Tá tum tum para este carnaval. Suave, parceria do DJ Alok com Matheus & Kauan, conquistou 16 milhões de views no canal oficial do DJ.
O cantor e compositor Sorocaba, da dupla Fernando & Sorocaba, afirma que o sertanejo é versátil e casa bem com outros ritmos. “A parceria com o funk, que fizemos com o Nego do Borel, e com o eletrônico, com o JetLag, só reforça essa versatilidade e mostra que, em termos de mercado, a união soma para ambos os lados”, comenta. Para ele, não existe disputa. “Um ritmo não perde espaço para o outro. Pelo contrário, cada artista faz seu trabalho muito bem e, hoje em dia, tem espaço pra todo mundo”, observa.
O experiente produtor Eduardo Pepato adverte: a mistura deve ser feita, mas com moderação. “Quando dá certo, as pessoas tendem a entrar na onda e fazer igual ou bem parecido. Mas não dá pra ficar repetindo o que já deu certo com o outro. Se já fizeram música com Alok, vamos partir para outra participação, outro estilo. Se você faz igual, não é mais novidade, passa a ser comum e isso talvez não agrade tanto ao público”, avisa ele, que trabalhou com Henrique & Juliano, Maiara & Maraísa e Marília Mendonça.