“O começo da história musical de Gonzagão foi em Minas Gerais”, afirma a nora Louise Martins, a Lelete. Foi em Juiz de Fora, logo após ter deixado BH, já que o 12º Regimento de Infantaria se esfacelou por ter resistido à Revolução de 1930, que o então militar aprimorou o seu toque na sanfona com Domingos Ambrósio. Ouro Fino também foi marcante nesse sentido, uma vez que na cidade do Sul de Minas ele fez seu primeiro show, no palco do Éden Club, centenário clube que existe até hoje.
Lelete brinca que, além de Rei do Baião, o sogro era o Rei da Rua na época em que viveu na capital mineira. Tudo era motivo para sair. “Ele não era muito de beber. Até reclamava quando alguém bebia muito. Mas, uma vez, aqui em casa, lembro que ele estava se queixando de uma dor de cabeça e, em vez de pedir um remédio, pediu um Fernet, um licor. Falou que bastava tomar uma dose, dar umas voltas de carro, que se curava. Na verdade, era uma desculpa para ir pra rua”, relembra a nora.
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“Quando não tinha mais nenhum lugar para ir, ele inventava de ir para o aeroporto de Confins. Falava que lá lembrava a Chapada do Araripe (formação do relevo e sítio paleontológico localizado na divisa dos estados do Ceará, Piauí e Pernambuco)”, conta Paulinho. Um dos pontos onde ele costumava levar Gonzagão era o 12º Regimento de Infantaria (RI), no Prado, onde o músico serviu. “Ele brincava que ficou no Exército durante 9 anos, mas nunca deu nenhum tiro”, diverte-se.
Mais do que conhecer os lugares, Luiz Gonzaga gostava mesmo era do contato com as pessoas. “Ele sempre falava: ‘Quero conhecer o mineiro, quero ver a cara do mineiro’. Parava o carro na cidade e saía andando pela rua. Muita gente o reconhecia, e era uma festa. Era isso que ele adorava”, relembra Paulinho.
LIVRO Na temporada que ficou em BH, Gonzaguinha costumava gravar as conversas com o pai, pois tinha a intenção de num futuro, lançar um livro em que Gonzagão narrasse a própria história. O filho do Rei do Baião chegou a convidar alguns artistas mineiros para conhecerem o artista pernambucano durante sua estada em Belo Horizonte.
Um deles, o cantor e compositor Tavinho Moura, tem uma grata recordação do encontro. “Ele, literalmente, trancou a porta do escritório e me deixou com o Gonzagão umas cinco horas conversando. Falamos de tudo. De Lampião, a quem ele dedicou uma música, do preconceito que ele sofria da classe média, que via o Caymmi, também nordestino, com outros olhos. Quando comentei que eu era de Juiz de Fora, ele falou da importância da cidade em sua formação e disse que tinha aprendido muito com um músico de lá, o Domingos Ambrósio”, recorda.
Tadeu Franco, outro artista mineiro fã de Gonzagão, não teve a mesma sorte e ficou frustrado de ter perdido a oportunidade de conhecer o ídolo. “A música dele me marcou durante a minha infância. Eu me lembro de, com 5, 6 anos, ouvir o Luiz Gonzaga no rádio. Quando ele ficou esse tempo na casa do Gonzaguinha, eu tinha que ter tomado a iniciativa e ter ido lá. Eu era muito fã, mas fiquei meio sem graça, não sei”, lamenta.
No entanto, Tadeu participou de uma homenagem inesquecível ao Rei do Baião. A convite do governo de Pernambuco e de Lelete, ele e o músico Juarez Moreira foram a um show de música em Exu feito em homenagem ao forrozeiro nos dois anos de sua morte. “Foi das coisas mais fascinantes que eu vi na minha vida. Tinha umas 2 mil pessoas na praça. Não o conheci pessoalmente, mas ali a gente sentiu a presença do Gonzagão”, diz Tadeu.