A primeira aparição de Pabllo Vittar na televisão foi em 2014, no programa Carona, da TV Integração, afiliada da Globo em Uberlândia. Em quase quatro anos, o gosto musical da drag queen maranhense radicada na cidade do Triângulo Mineiro não mudou. Tanto em sua estreia na TV quanto em uma das participações mais recentes, no programa Altas horas, há pouco mais de uma semana, a canção interpretada foi a mesma: I have nothing, de Whitney Houston.
Responsável por alguns feitos em 2017 – foi sensação no Rock in Rio, superando sua anfitriã Fergie; foi a primeira artista a emplacar, ao mesmo tempo, três canções no top 5 do Spotify no Brasil; virou garota-propaganda; foi convidada para ser jurada do reality americano RuPaul’s Drag Race –, no apagar das luzes do ano passado ainda conseguiu outra façanha.
A edição do Altas horas que contou com a participação de Pabllo foi a de maior audiência nos 17 anos do programa. A interpretação cover de Whitney Houston levou o cantor Ed Motta às lágrimas. “Eu chorei de verdade vendo, porque não imaginava essa musicalidade, timbre lindo nas notas graves e, quando atingiu as notas altas, foi com propriedade”, publicou o cantor e compositor em sua conta no Facebook.
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Integrante do Coral Lírico de Minas Gerais e professor de canto da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), Sérgio Anders é contratenor, assim como Pabllo. Mais rara das vozes masculinas – “É uma voz infantilizada num homem adulto, e isso ocorre por questões hormonais”, explica Anders –, o contratenor tem em Ney Matogrosso sua melhor tradução no canto popular.
Para Anders, Pabllo canta bem, mas ainda tem que desenvolver bastante a técnica. “Pabllo tem dois tipos como cantora.
Tessitura vocal é o conjunto de notas que um intérprete consegue articular sem esforço, fazendo com que o timbre saia com a qualidade necessária. Já a extensão vocal vai além: é também um conjunto de notas que um intérprete consegue articular, mas independentemente da qualidade. Um cantor poderá articular notas fora de sua tessitura, mas nunca além de sua extensão vocal.
Pabllo, na opinião de Anders, costuma ir além de sua tessitura. “E quando se insiste muito, a voz fica esganiçada. No repertório próprio, ela canta de forma mais aguda do que deveria.
Regente titular do Coral Lírico de Minas Gerais, Lara Tanaka ouviu, a pedido do EM, algumas canções de Pabllo. “(O que ela faz) Não é uma novidade. Homem que canta com voz feminina existe desde o século 9, com os castrati (cantores castrados, quando crianças, para preservar a voz aguda, correspondente à voz feminina)”, afirma.
A maestrina considera muito positivo o sucesso de Pabllo. Mas faz algumas críticas tanto ao repertório (“bem ruim”) quanto à interpretação. “Qualquer cantor, seja erudito ou popular, tem que ter um acompanhamento. Em alguns momentos ela grita. E poderia usar sua voz de melhor forma, já que tem boa extensão.
Já o cantor e performer Marcelo Veronez acompanha, com alegria, o sucesso de Pabllo. “Adoro a música, gosto de celebrar a existência daquilo que é diferente do que a gente está acostumada a ouvir”, comenta. Para ele, a voz mais importante de Pabllo “é a que levanta a discussão”. “Estamos em 2018, essa questão do bel canto já foi ultrapassada há quase um século. Se pensarmos nos cantores e cantoras populares, vemos que a Nara Leão não tinha uma voz absurda e que a Maria Bethânia, quando começou, desafinava a torto e a direito.”
Professora de canto e regente de coral, Letícia Reis não conhecia Pabllo até ser convidada pela reportagem do EM a avaliar a voz da cantora. “O que senti, nos vídeos a que assisti, foi um rompimento de padrão. Ela está fazendo essa conexão com o convívio e a liberdade do movimento LGBT. Gostei da voz, apesar de não me identificar com a música dela. Veio-me à cabeça o Edson Cordeiro, que também tem um timbre de contratenor.”
Também professora de canto, com uma escola para o público infantojuvenil, Tassiana Oliveira afirma que Pabllo consegue alcançar notas muito difíceis. “A voz dela tem um alcance interessante.
Isto é Pabllo Vittar
O britânico The Guardian referiu-se a ela, em reportagem de outubro do ano passado, como um “símbolo de resistência” para os brasileiros que estão assustados pelo crescimento da influência de “uma minoria moralista, que teve uma série de vitórias recentes na guerra cultural do país”.
Em outubro, o The New York Times afirmou que “ela se tornou um ícone amado entre os brasileiros e um emblema de fluidez de gênero”. Já a edição americana da revista Billboard a chamou de “rainha drag”.
Na sexta-feira, o álbum de estreia Vai passar mal completa um ano. Das 10 faixas, quatro se
tornaram singles. A principal delas é K.O., eleita a canção do ano pelo Domingão do Faustão.
O clipe já teve 270 milhões de visualizações no YouTube
Em dezembro, foi lançado Vai passar mal remixes. No mesmo mês, ela foi escolhida artista revelação
pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Seu lançamento mais recente é a canção Paraíso,
parceria com o sertanejo Lucas Lucco, que veio a público na sexta-feira (5).