As tocas estarão vazias em 2018. Seus moradores, muitos com mais de 60 anos que produzem álbuns depois de longos períodos de inatividade, seguindo apenas vontades e intuições, sairão à rua para colocar no palco shows e músicas novas, garantindo casas lotadas. O ano que chega será de Copa do Mundo, eleições e muita música brasileira.
Caetano Veloso não lança um álbum novo há quatro anos, desde que fechou o ciclo do rock indie em sua vida com Abraçaço. Não havia vislumbre de uma nova trincheira, a curto prazo, até que a sala do baiano mostrou o frescor. Ao lado de Moreno, Tom e Zeca Veloso, criou um roteiro cheio de diálogos com a condição de pai e filhos, incorporou ao seu discurso as particularidades sobretudo dos mais novos, Zeca e Tom, e realizou um dos mais comoventes shows da temporada.
Caetano se renova no próprio passado e nas sementes que deixa para o futuro. Sua novidade para 2018 será um disco e um DVD com o show que já passou por São Paulo em uma temporada de Theatro Net lotado, o que pode fazer com que volte com o formato. Sua lista de canções curtas e de cruzamentos com os filhos, alternando vozes, inclui Alegria Alegria (de 1967), Genipapo Absoluto (de 1989), Um Passo à Frente (de Moreno Veloso e Quito Ribeiro, de 2005), Trem das Cores (de 1982), Ofertório (de 1997) e Força Estranha (de 1978). Gil tem mais notícias.
Depois de uma longa temporada em 2016 pelo mundo para fazer a turnê dos dois amigos, ele passou por internações para se tratar de uma insuficiência renal. Ao receber alta, parecia um homem grávido. Músicas saíram pelos poros e, logo, um disco novo se colocou. Antes disso, usou 2017 para dois projetos referenciais: o Trinca de Ases, ao lado de Nando Reis e Gal Costa, e Refavela 40 anos, no qual, impulsionado pelo filho Bem Gil, topou reestudar todo o repertório do álbum inspirado em uma viagem que fez à Nigéria, nos anos 1970, para recolocá-lo no palco.
Gil modelo 2018 vem com tudo. Seu novo disco de inéditas, os últimos foram de tributos ou regravações da própria obra, terá 13 músicas novas, dentre elas canções inspiradas em seus dias de hóspede no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, às voltas com a fragilidade da condição humana, tema muito recorrente em sua obra.
Uma música será dedicada a uma médica e outra a um médico que cuidaram dele. A bisneta Sol de Maria e o neto Sereno ganham também seus mimos. Aos 75 anos, Gil, que já finalizou a gravação, tem foco na criação das músicas de uma ópera chamada Negro Amor, que compôs ao lado do maestro italiano Aldo Brizzi. O espetáculo que narra a história de Krishna, o deus do amor, e da camponesa Rhada é baseado em O Gitagovinda de Jayadeva: Cantiga do Negro Amor, um poema do século 12 de Jayadeva traduzido do sânscrito para o português pelo mentor tropicalista Rogério Duarte. O tribalista Arnaldo Antunes fará uma das representações de Krishna, a cantora portuguesa Ana Moura será Rhada e caberá a Gil o papel de deus Vishnu, um dos narradores.
Chico Buarque, que começou a se sacudir em 2017, encerra o ciclo em 2018. Seu álbum Caravanas, desjejum de mais de cinco anos sem música nova, já o colocou nos palcos. Há duas semanas, ele fez um elogiado show em Belo Horizonte para marcar a estreia da turnê. A São Paulo, ele chega para uma longa temporada no Tom Brasil. Os shows serão de 1.º a 11 de março; 22 de março a 1º de abril; 12 a 15 de abril e de 19 a 22 do mesmo mês.
As vendas de ingressos seguem abertas. Caravanas foi um álbum elogiado pela crítica depois de trazer alguns dissabores a Chico pelas redes sociais. Seu 38.º disco de estúdio traz a faixa Tua Cantiga que, em um verso, rendeu longas discussões na internet: “Quando teu coração suplicar / Ou quando teu capricho exigir / Largo mulher e filhos / E de joelhos / Vou te seguir”. Chico foi acusado de machismo ao retratar o personagem que deixa a casa para ficar com a amante. O assunto o deixou chateado.
Os Tribalistas também terminam um ciclo que iniciaram em 2017. Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown já anunciaram que se preparam para uma turnê juntos em 2018 para rodarem o País pela primeira vez. Quinze anos depois do primeiro disco, eles reativaram os mesmos moldes para criar dez músicas inéditas. Ainda sem data, os shows vão misturar os repertórios dos dois discos. Não é preciso exercício de futurologia para saber que todos os lugares estarão tomados. As cantoras Gal Costa e Maria Bethânia também estarão no estúdio para discos novos, ambos a serem lançados pelo selo Biscoito Fino.
Um nome dessa turma de gigantes segue sem notícia de novidades. Paulinho da Viola vai para seu 23.º ano sem criar um novo trabalho. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.