Em 1965, o Brasil vivia sob ditadura militar, governado pelo marechal Humberto Castelo Branco (1897-1967). Foi nesse contexto que muitos artistas começaram a despontar no cenário musical. Entre eles estava o quarteto formado pelos fluminenses Ruy, Magro Waghabi, Aquiles e Miltinho. Apesar de já fazer shows antes, tiveram o início oficial de sua carreira em 1965, quando foi lançado o primeiro LP do grupo, pela gravadora Elenco. Nascia um dos grupos vocais mais importantes do país, o MPB4.
O nome do grupo acabou ganhando vida própria – sem o numeral. “Começamos no Centro Popular de Cultura (CPC) da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói. Magro e eu éramos estudantes de engenharia, Ruy era formado em direito e Aquiles era estudante secundarista. Nosso primeiro nome foi Quarteto do CPC. Com o golpe militar de 1964 e a extinção dos CPCs, mudamos para MPB4. Até então, todos falavam em música popular brasileira, mas não se usava a sigla MPB. Fomos nós que popularizamos a sigla”, diz Miltinho, um dos remanescentes da formação original.
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Em 1967, o grupo ganhou projeção ao participar do 3º Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record, o icônico Festival de 67. A apresentação ao lado de Chico Buarque interpretando Roda viva foi histórica. A canção ficou em terceiro lugar, atrás de Ponteio (Edu Lobo e Capinam) e de Domingo no parque (Gilberto Gil).
“A noite da final foi muito emocionante. Roda viva é um marco da nossa carreira, e considero que esse é um dos arranjos mais bonitos feitos pelo Magro. Como o Chico brinca, o Magro colocou os aplausos no arranjo, pois a música vai num crescente. No final, os aplausos são inevitáveis”, comenta.
Pelo aspecto simbólico, a música foi escolhida para abrir o projeto O sonho, a vida, a roda viva – MPB4 50 anos ao vivo, que reúne CD e DVD lançados pela Som Livre. “Por ideia do Helton Altman, diretor do nosso show de 50 anos, abrimos com Roda viva, numa cena que remete àquele momento do festival de 1967”, diz.
Gravado no Sesc Ginástico, no Rio de Janeiro, com direção de Bernardo Mendonça, o DVD traz músicas que marcaram a trajetória do MPB4 – Cicatrizes (Miltinho e Paulo César Pinheiro), A lua (Renato Rocha), Partido alto (Chico Buarque) e Oração ao tempo (Caetano Veloso). Há também gravações inéditas do último álbum – Milagres (Breno Ruiz e Paulo César Pinheiro), Desossado (João Bosco e Francisco Bosco), Ateu é tu (Rafael Altério e Celso Viáfora), Brasileia (Guinga e Thiago Amud), A ilha (Kleiton e Kledir Ramil) e A voz na distância (Paulo Malaguti Pauleira).
Além de Miltinho (voz, violão, direção musical), sobem ao palco Aquiles Reis (voz), Dalmo Medeiros (voz e viola) e Paulo Malaguti Pauleira (voz, teclado, direção musical) – este, o “caçula” do quarteto, substituiu Magro, morto em 2012. “Foi uma responsabilidade enorme. Fiz A voz na distância inspirado nisso: a voz do Magro, que continua a ser ouvida entre nós”, afirma Malaguti.
O músico, que fazia parte do grupo Céu da Boca, passou a substituir Magro quando ele estava doente. “Fazer os shows e aprender o repertório cantando as vozes que ele fazia não foi o mais difícil. Gravar novos arranjos sem ele é que foi a grande experiência, com a qual todos aprendemos. Eles são figuras maravilhosas, de uma generosidade infinita. Tiveram muita paciência comigo”, diz.
HOMENAGEM Em Canção da América (Fernando Brant e Milton Nascimento), imagens de Magro aparecem no telão. Já em O navegante, de Sidney Miller, a voz do artista está em off, e os companheiros cantam “com ele”. “É muito emocionante. Magro era o nosso arranjador, faz muita falta. Quase tudo que cantamos ao longo da carreira tem arranjos dele. Em nosso CD de inéditas do ano passado, eu e Malaguti assumimos os arranjos. Neste show, tentamos trazê-lo de alguma forma”, frisa Miltinho.
O sonho, a vida, a roda viva traz ainda a participação especial da dupla gaúcha Kleiton & Kledir na faixa Vira virou (Kleiton Ramil). “Queríamos ter no show compositores lançados pelo MPB4. Chamamos Guinga e Kleiton & Kledir. Guinga, infelizmente, não pôde participar, mas Kleiton e Kledir vieram para cantar um dos grandes sucessos do MPB4”, diz Miltinho.
O grupo, porém, não é avesso ao diálogo com novos artistas. Na opinião de Miltinho, a música brasileira “continua produzindo talentos, como sempre produziu”. Ele observa que “o MPB4 surgiu numa época em que a TV gostava de música. Hoje, os tempos são outros, muito mais difíceis para jovens artistas. Mas talento é o que não falta. Gravamos Breno Ruiz e João Cavalcanti, compositores e cantores de primeiríssima qualidade. Recentemente, fizemos show em São Paulo com a participação da Barbara Rodrix, outro jovem talento”.
A mudança do mercado fonográfico em direção aos lançamentos em plataformas digitais tampouco assusta o MPB4. “Tem um lado muito positivo, pois, hoje, o acesso à música é muito mais fácil. Com um celular, qualquer pessoa pode acessar música do mundo inteiro. Mas a forma de distribuição dos direitos para os artistas ainda precisa ser muito discutida, pois é bastante falha”, diz Miltinho.
No encerramento do disco comemorativo da carreira, um pot-pourri com músicas de Chico Buarque (Olé, olá), Gonzaguinha (O que é o que é), Dori Caymmi (Porto), Tom Jobim (Samba do avião) e do cubano Silvio Rodrigues, em versão de Miltinho (Por quien merece amor), faz o trabalho terminar em alto estilo.
Abaixo, confira apresentação da música Roda viva:
O SONHO, A VIDA, A RODA VIVAMPB4 50 ANOS AO VIVO
Artista: MPB4
Gravadora: MPB Discos/Som Livre
Preço sugerido:
R$ 29,90 (DVD);
R$ 19,90 (CD)