Túlio Mourão e Dona Jandira se divertem quando lembram que algumas pessoas consideraram improvável o encontro musical entre eles. Depois de realizar show no projeto Caixa Acústica, em maio de 2015, no entanto, eles demonstram que a parceria era inevitável diante do que têm em comum. O pianista e a intérprete lançam o CD Afinidades, nesta sexta-feira (15), na Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes. 

“Tanto ela quanto eu, em termos de perfil artístico, nos equilibramos no desafio, equilibramos arriscando, equilibramos nos expondo. É muito raro esse perfil que ela tem, essa coragem de renovar melodias, tirando de dentro. É um conhecimento intuitivo e um atrevimento jazzista muito encantador”, define Túlio.

SINGULAR A admiração mútua antecede o show que fizeram para o Caixa Acústica. “Sempre a destaquei pela singularidade do perfil artístico. Antes mesmo de a encontrar como intérprete, ela exalava a vivência por trás da carreira, uma expressão muito genuína.” Outro ponto em comum é a capacidade de improviso. “O meu piano, por sua vez, é muito experimental e de improviso.

Como ela não tem medo, não fica na área de conforto. Eu nunca toco igual e ela sabe dialogar com esse piano que é muito jazzista”, aponta o compositor.

 

 

Dona Jandira completa 79 anos no próximo dia 24, e Túlio está com 65. A proximidade de gerações faz com que compartilhem memórias quando o assunto é música. “Temos um repertório dos anos 1960 muito caro. Ela gosta de canções internacionais que fizeram parte da minha vida. Muitas nem chegavam pelo rádio. A Jandira me surpreendeu, trazendo versões em português dessas canções que minha mãe adorava”, diz Túlio.

Entre elas está Hino ao amor, sucesso na voz de Edith Piaf, depois gravado por Dalva Oliveira e Maísa. “Vasculhei essas interpretações e todas têm em comum uma intensidade magnífica. Canções têm o poder de fazer parte da vida da gente”, arremata ele.

Dona Jandira lembra que conhece desde a infância as canções que entraram no repertório. “Minha mãe era professora de música. Lá em casa, tínhamos partituras em inglês e francês. Ao lado, vinha a versão em português”, recorda-se.

Entre as preferidas de Dona Jandira estão Rosas vermelhas para uma dama triste, de Nilton César, e Último desejo, composição de Noel Rosa. “Afinidades ficou muito bom. Ele ficou feliz e eu também”, afirma. Ela vê o lançamento do CD como o presente por suas quase oito décadas de vida. “É uma coisa extraordinária para uma pessoa de 79 anos. Requer audácia, muita coragem para cantar com um músico como o Túlio Mourão”, diz. Para o repertório, a dupla escolheu ainda Perfídia, de Alberto Dominguez; Além do arco-íris, de E. Harburg e Eliseu Miranda; Smile, de Charles Chaplin e Geoffrey Claremont; Minha oração, de Jimmy Kennedy e Georges Boulanger; Jalousie, de Jacob Gade; e Com que roupa, de Noel Rosa.

Túlio considera que o encontro não se pauta pela nostalgia, mas pela possibilidade de vivenciar o lirismo dessas composições. “Meu discurso diário é de que precisamos com urgência defender a dimensão poética. Passamos por um caos político, o massacre da cultura imediatista. A resposta é buscar dentro de si essas vivências da gentileza, do poético”, conclui Túlio.

 

AFINIDADES
Show de lançamento do CD de Túlio Mourão e Dona Jandira. Nesta sexta-feira (15), às 21h.

Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro,  (31) 3236-7400). Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia).

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