Chico Buarque ironiza 'bairros chiques' do Rio e se manifesta sobre questões sociais e políticas

Cantor estreou na quarta-feira (13) a turnê 'Caravanas' no Palácio das Artes, em BH. Repertório abarcou sua trajetória artística desde a década de 1960 até o último trabalho, lançado este ano

por Ana Clara Brant 14/12/2017 11:03
Ana Clara Brant/E.M./D.A.Press
Chico Buarque estreia turnê 'Caravanas' no Palácio das Artes (foto: Ana Clara Brant/E.M./D.A.Press)
Logo na entrada do Palácio das Artes há uma faixa da Frente Nacional Contra a Censura (FNCC), ação criada há menos de um mês que se propõe a “combater a onda conservadora que atingiu o país e que visa controlar e cercear as liberdades e a criação”. Um dos principais incentivadores do movimento é Chico Buarque, que fez questão de postar um vídeo de apoio à Frente. Curiosamente, exatos 49 anos após a promulgação do AI-5 – o mais severo de todos os Atos Institucionais e que provocou uma série de cassações, prisões, torturas e perdas de direitos, –, o cantor e compositor carioca, que chegou a sofrer censura e outras ações arbitrárias no passado, subiu na quarta-feira, 13 de dezembro, ao palco da principal casa de espetáculos de Minas.

Caravanas,  nome do seu último disco e da turnê que foi aberta nacionalmente em Belo Horizonte, trouxe não só músicas que falam de amor (Todo sentimento), do feminino (Palavra de mulher), de coisas do cotidiano como o futebol (Jogo de bola) ou o samba (Estação derradeira), mas, sobretudo, de questões sociais e políticas. Não faltaram Sabiá, Gota d’água, e – por que não? – uma referência à malandragem que assola o país com os clássicos A volta do malandro e Homenagem ao malandro. Como sempre acontece em shows de Chico, o público não deixou de se manifestar. Seja com gritos de “Lindo”, “Maravilhoso”, “Orgulho do Brasil’, seja com “Fora Temer”.
 
'VIADO' No palco, Chico falou sobre política e sobre os insultos que ouve devido a seu posicionamento político. “Como estou com esses pontos no ouvido para tocar, não deu para ouvir direito ‘Fora Temer’. E é pouco. Acho que vou passar a usar esses fones quando estiver fazendo minhas caminhadas nos bairros chiques do Rio. Toda hora escuto: ‘Viado, vá pra Cuba’. ‘Viado, vá pra Paris’. A única coisa de consenso é o viado”, comentou, entre risos. Foi aplaudido de pé.
 
Durante 1h30, o artista – que canta tudo de cor – percorreu parte de sua trajetória artística desde os anos 1960 até o último trabalho lançado em agosto. Citou os parceiros de uma vida toda como Cristóvão Bastos, Tom Jobim e até os mais recentes. “Esta música (referindo-se a Massarandupió) é do meu parceiro mais amado, Chico Brown, meu neto Chiquinho, que, inclusive, está aqui na plateia ao lado da irmã, Clara Buarque, que canta comigo Dueto no meu disco”, destacou. Não faltou também a homenagem ao mestre Wilson das Neves, que morreu em agosto. Baterista, participou de várias turnês ao lado do compositor, a quem chamava de ''chefia''.

No fim da apresentação, Chico Buarque voltou duas vezes ao palco e cantou Geni e o zepelim, Futuros amantes e Paratodos. Foi agarrado por uma fã mais fervorosa e ganhou rosas do público. A maratona de Caravanas prossegue até domingo.
 
A produção de Chico Buarque anunciou que abriu sessões extras em shows no Rio de Janeiro e em São Paulo. No Rio, além de 04/01 a 21/01(sempre de quinta a domingo), haverá  datas extras de 25 a 28 de janeiro e de 1 a 4 de fevereiro. Já na capital paulista, onde Chico Buarque se apresenta de  01 a 11 de março e de 22 de março a 01 de abril de 2018, haverá ainda duas semanas extras em abril, de 12 a 15 e de 19 a 22. 
 
SETLIST
 
1) MINHA EMBAIXADA CHEGOU (Assis Valente - 1934)/MAMBEMBE (Chico Buarque – 1972)

2) PARTIDO ALTO (Chico Buarque – 1972)

3) IOLANDA (Pablo Milanés – versão de Chico Buarque – 1984)

4) CASUALMENTE (Jorge Helder / Chico Buarque – 2017)

5) A MOÇA DO SONHO (Edu Lobo / Chico Buarque – 2001)

6) RETRATO EM BRANCO E PRETO (Tom Jobim / Chico Buarque – 1968)

7) DESAFOROS (Chico Buarque – 2017)

8) INJURIADO (Chico Buarque – 1998)

9) DUETO (Chico Buarque – 1979)

10) A VOLTA DO MALANDRO (Chico Buarque – 1985)

11) HOMENAGEM AO MALANDRO (Chico Buarque – 1977/1978)

12) PALAVRA DE MULHER (Chico Buarque – 1985)

13) AS VITRINES (Chico Buarque – 1981)

14) JOGO DE BOLA (Chico Buarque – 2017)

15) MASSARANDUPIÓ (Chico Brown / Chico Buarque – 2017)

16) OUTROS SONHOS (Chico Buarque – 2006)

17) BLUES PRA BIA (Chico Buarque – 2017)

18) A HISTÓRIA DE LILY BRAUN (Edu Lobo / Chico Buarque – 1982) 

19) A BELA E A FERA (Edu Lobo / Chico Buarque – 1982)

20) TODO 0 SENTIMENTO (Cristovão Bastos / Chico Buarque – 1987)

21) TUA CANTIGA (Cristovão Bastos / Chico Buarque – 2017)

22) SABIÁ (Tom Jobim / Chico Buarque – 1968)

23) GRANDE HOTEL (Wilson das Neves / Chico Buarque – 1997)

24) GOTA D’ÁGUA (Chico Buarque – 1975)

25) AS CARAVANAS (Chico Buarque – 2017)

26) ESTAÇÃO DERRADEIRA (Chico Buarque – 1987)

27) MINHA EMBAIXADA CHEGOU (Assis Valente- 1934)
 
BIS
  
28) GENI E O ZEPELIM (Chico Buarque -1978)
 
29) FUTUROS AMANTES (Chico Buarque - 1993)
 
30) PARATODOS (Chico Buarque - 1993)  

CARAVANAS
Turnê de Chico Buarque. Palácio das Artes. Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Até sábado, às 21h; domingo (17), sessão extra às 18h. Só há entradas para domingo. Plateia 1: R$ 490 (inteira) e R$ 245 (meia-entrada). Plateia 2: R$ 450 (inteira) e R$ 225 (meia). Plateia superior A: R$ 380 (inteira) e R$ 190 (meia). Plateia superior B: R$ 320 (inteira) e R$ 160 (meia). À venda na bilheteria do Palácio das Artes e no site www.ingressorapido.com.br.

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